Segundo o seu criador, Freud. A psicanálise cresceu num campo muitíssimo restrito. No início, tinha apenas um único objetivo, o de compreender algo da natureza daquilo que era conhecido como doenças nervosas 'funcionais', com vistas a superar a impotência que até então caracterizara seu tratamento médico.
Na maioria das opiniões, os neurologistas do fim do século passado haviam sido instruídos a terem um elevado respeito por fatos físicos-químicos e patológico-anatômicos e não sabiam o que fazer do fator psíquico e não podiam entendê-lo.
Era como se tudo se limitasse a uma simples equação matemática sem levar em conta fatores importantes como o "pensar" de uma pessoa e seus problemas relacionados a psique.
Deixavam aos filósofos, aos místicos e aos charlatões; E consideravam não científico ter qualquer coisa a ver com ele.
Mais de um século depois, algumas coisas parecem se repetir e como num ciclo vicioso o fator diferencial entre o justo e o injusto, o real e o irreal, e a loucura da sanidade se diferem dependendo do ponto de vista de quem manipula a verdade.
Bjørg facilmente podia se enquadrar como um charlatão, mas sua inteligência ímpar lhe dava uma vantagem essencial no momento sobre Signe.Bjørg podia manipular a verdade a seu favor, como se voltasse 100 anos atrás, ele podia ditar conceitos físicos-químico se assim desejasse, deixando de certa forma Signe prisioneira do próprio destino.
Manipular era quase um dom para Bjørg, não que ele tivesse nascido com isso, mas caminhos e consequências de sua vida o levaram a de certa forma, desenvolver um sistema de auto-defesa.
Em seu modo de pensar, antes atacar do que ser atacado. Era uma meia verdade a qual ele se agarrou por muitos anos. Tinha deixado de lado nos últimos anos, talvez por não ter encontrado um rival a sua altura. Mas o fato é que, Signe havia despertado esse lado frio e manipulador, mesmo sem ter preciso ter feito nada.
Uma mentira mil vezes dita se torna verdade, e pessoas que sabem usar isso a seu favor são as mais perigosas.
Signe se encontrava deitada numa cama em um dos quartos, mas diferente de antes, agora era uma das pacientes.
Por mais contraditório ou estranho que parecesse, de certa forma para os outros funcionários acabou não se tornando algo tão estranho.
O comportamento de Signe estava esquisito, todos haviam observado isso. A mudança era drástica. E os fatores que supostamente haviam desencadeado eram de conhecimento quase que geral.
O trauma pela morte de Floki, os desmaios causados pelo estresse do trabalho...
A intervenção feita pelo doutor Wedel era vista com bons olhos pela equipe, tudo que Signe havia feito até o momento no hospital havia a credenciado a ser bem quista, e ajudá-la a superar essa fase conturbada era o pensamento geral.
Com a vista um pouco embaralhada, ela se sentia cansada e sonolenta.
Eram efeitos da medicação. Bjørg tinha como objetivo a deixar dopada a maior parte possível do tempo e para isso não media esforços em sempre estar presente no quarto.
Isso sem contar a jogada de mestre que foi convencer Sigurd a deixá-lo encarregado dela.
Signe não sabia nada disso, mas tinha a certeza que estava em apuros, só não sabia o quanto.
Ainda se sentindo um pouco confusa ela percebeu que duas pessoas entraram na sala conversando.- Como ela está?
- Dei Diazepam para ela. Ainda está um pouco agitada. Acho que se continuar assim, terei que começar a usar Bromazepam.
- Entendo. Bom, me mantenha informado caso ela acorde mais calma.
- Sim, claro! Lhe manterei informado.
- Obrigado. Até mais tarde.
- Até.
Pela voz inconfundível ela sabia que um deles era Bjørg. Ela tentava descobrir quem era a outra pessoa.
Sua visão estava um pouco embaçada, as vozes ecoavam em sua cabeça.
Se sentia como se estivesse sido dopada.
Aparentemente a outra pessoa parecia ser o doutor Wedel, ao menos foi o que pensou.
Signe tentava encontrar alguma resposta em suas lembranças, mas estas estavam muito confusas.
Tentou novamente se levantar e dessa vez percebeu que seus braços e pernas estavam presos. Chegou a dar um tranco forte em seu pulso esquerdo o que acabou chamando a atenção de Bjørg que ainda estava na sala.

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O JARDIM DE AKER
Bí ẩn / Giật gânSigne Dahl é uma jovem psiquiatra de sucesso. Ela recebe um convite para trabalhar no hospital da família que foi a patriarca da psicologia no país. O hospital de Aker. Ela aceita o convite, pois além do desafio profissional havia um sonho de conhec...