Signe se sentia mais calma. Os dois últimos dias de molho a fizeram de fato descansar a mente.
Aproveitou o tempo de sobra para andar um pouco nos arredores da propriedade.
Estranhamente não havia mais encontrado com Sigurd na mansão. Toda vez que perguntava sobre ele para Aba ouvia a mesma resposta."O doutor Wedel está muito ocupado com o trabalho".
Por mais que em sua cabeça algo lhe dissesse para insistir ela queria deixar problemas para trás. Ser uma pessoa melhor. Até por que tinha tido duas noites de sono tranquilas sem pesadelos e a mulher misteriosa havia desaparecido.
De certa forma isso era algo bom, mas em seu interior a curiosidade em descobrir a identidade dela era um combustível ocultamente escondido, bombando para o motor que era sua mente.
Várias vezes Signe caminhava até o início da escadaria de cascalhos e ficava parada tentando ver se vinha alguma coragem de novamente ir até o jardim de Aker.
Ela também não sabia se a porta estaria aberta, achou que provavelmente não ainda mais depois de tudo que aconteceu.
Certamente Wedel havia dado um jeito de impedir o acesso à porta.
Quando ela chegava nessa conclusão recuava e fazia o caminho inverso até a mansão.Foi se formada uma pequena rotina.
Acordava, tomava café. Conversava um pouco com Aba.
Lia um livro e depois caminhava um pouco do lado de fora.
Ia até o início da escada de cascalhos pensava na vida e voltava.
Foram apenas dois dias, mas que de tão longos pareciam semanas.
Estava ansiosa para voltar a trabalhar e sentia falta de tudo.
Dos pacientes, dos desafios e principalmente dos problemas.
O restante de seu último dia de descanso foi tranquilo.
Comeu alguns *kumkakers que Aba havia feito, não antes de cornetá-la dizendo que não estavam no natal para que fosse feitos tais biscoitos.
Argumento facilmente rebatido por Aba.— E existe data para quando se tem vontade de comer algo?
— Bem... Não! Você me pegou dessa vez Aba. Fiquei sem argumentos. — Signe solta um sorriso sem graça.
— E desde quando precisamos ter razão sempre? — Aba soltava um sorriso enquanto oferecia mais um biscoito para a garota.
— Será o último. Comi demais. Não quero ter que fazer regime. Esses biscoitos estão fantásticos. — Signe fazia um gesto com uma de suas mãos recusando os biscoitos.
A doutora vai até a geladeira pegando a garrafa de água gelada. Em seguida pega um copo e se serve.
Calmamente toma a água enquanto observa Aba lavar a forma a qual fez os biscoitos.
Aba lhe diz sobre algumas receitas que aprendeu com sua finada mãe esperando que Signe pudesse dizer algo mais sobre a relação das duas.
Intencionalmente a mulher desconversa dizendo que iria dar uma volta pela propriedade.
Signe já do lado de fora caminha até próximo da floresta.
Mesmo não tendo muitas lembranças boas das vezes que se aventurou por lá, ela sentia uma sensação de paz.
Signe então pega um cigarro e acende dando uma longa tragada, parecia que não fumava a muito tempo.
A jovem ri sozinha, pois de fato fazia muito tempo que não fumava, então tenta puxar da memória a última vez que havia feito isso.
Estranhamente ela não consegue se lembrar, as imagens vêm na sua mente, mas como se de repente desse um branco total e ela se esquecesse.
Signe começa a sentir uma dor de cabeça fraca e novamente da outra tragada em seu cigarro.
Enquanto solta a fumaça pela boca como num flash vem uma imagem, era uma lembrança dela deitada em sua cama fumando e com uma taça de vinho na mão e então se lembrou.
A última vez que havia fumado foi na noite que antecedeu sua vinda para Aker.Ainda sentindo a leve dor de cabeça a doutora termina de fumar seu cigarro de forma tão prazerosa que jurava nunca ter sentido tal sensação.
Segurando a bituca em suas mãos ela começa a pensar em como simples coisas podem lhe trazer minutos de paz e felicidade, como fumar um cigarro.
Mesmo sabendo que aquilo fazia mal a seus pulmões, mesmo sabendo que milhões de pessoas morrem por causa de seu veneno, o que importava era o prazer que lhe proporcionava.
E também não podia negar outro fato.
Era um vício feio que havia adquirido desde seus 16 anos, mas vícios são vícios, não é?
Ao menos era o que ela pensava. Ironicamente uma doutora que se dedicava para salvar e curar seus pacientes, não pensava um minuto se quer em se salvar.
Ironias da vida... Ela pensou.
Signe então jogou a bituca no chão e saiu caminhando.
Sentia uma necessidade tremenda de falar com alguém diferente. Não aguentava mais ter somente Aba para conversar.
Não que ela fosse um tipo de pessoa chata, pelo contrário. Ela tinha suas qualidades, mas depois de três dias praticamente presa na mansão com ela, as conversas haviam se tornado repetitivas.
Signe então na tentativa de não enlouquecer com aquilo, resolve ir até o estacionamento e conversar com o guarda.
Seria uma pessoa diferente, outro tipo de conversa, sentiu um certo alívio na possibilidade de interagir com alguém que não fosse Aba.

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O JARDIM DE AKER
Misterio / SuspensoSigne Dahl é uma jovem psiquiatra de sucesso. Ela recebe um convite para trabalhar no hospital da família que foi a patriarca da psicologia no país. O hospital de Aker. Ela aceita o convite, pois além do desafio profissional havia um sonho de conhec...