DEZESSEIS

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Era uma sala bem espaçosa. No chão havia um tapete branco e marrom feito de um material que lembrava couro bovino.
No canto direito da sala, uma grande estante branca cheia de livros mostrava o tanto que o doutor Wedel havia se entregado aos estudos.
Uma mesa de mógno com detalhes em vidro era o contraste do lado oposto da estante, tendo como único acompanhante seu diploma na parede.
Enquanto Olin estava deitado no divã observando a sala toda, Sigurd estava sentado em sua poltrona totalmente em silêncio.
Segurando um pequeno bloco de notas em uma das mãos e uma caneta na outra. Com um óculos no rosto, o doutor mantinha o semblante sério a espera que Olin dissesse algo.
Ao perceber que o paciente não romperia o silêncio, Sigurd tomou a frente.

— Olin estamos aqui a 10 minutos e você não falou absolutamente nada, me conte um pouco sobre sua infância. — O paciente continuava em silêncio. — Raramente eu abro espaço para pacientes já diagnosticados com algum tipo de síndrome a virem até essa sala. Além de psiquiatria também sou formado em psicologia. E confesso que era uma área a qual nunca mais pensei em atuar.
Mas aprendi com uma pessoa, sendo mais específico uma doutora. Que sempre devemos tentar o possível para ajudar os pacientes. E eu vinha sendo vaidoso demais para aceitar que a muito tempo me esqueci do porquê escolhi essa área. — Wedel dá um longo suspiro colocando o pequeno bloco no colo. — Engraçado... Primeira vez que me abro com alguém e ironicamente com um paciente o qual devia estar fazendo o contrário... A vida é cheia de surpresas, não é?
Ufaaa... Realmente dá um alívio se abrir com alguém, mesmo que esse alguém não esteja prestando atenção em uma única palavra dita.

— Foi difícil. — Olin quebrava o silêncio surpreendendo Sigurd.

— Como disse?

— Você perguntou sobre minha infância. Foi difícil.

— Entendo. Difícil como? Em qual sentido?

— Em todos. — Cada resposta do homem eram curtas e pareciam não conter emoções.

— Você não tem nenhuma lembrança boa da sua infância?

— Se tenho não me lembro mais. Só consigo me lembrar da dor. — Olin se encolhia todo no divã apertando suas mãos contra o corpo.

— Você se feriu ou algo do tipo?

— Feridas são relativas. No mundo que eu vivo não existem feridas.

— Olin, bom... Posso estar enganado, mas o mundo que você vive é o mesmo que eu vivo. E feridas existem, mas o lado bom é que podemos curá-las.

— Doutor, não seja burro. Estou falando do meu mundo. O mundo que eu criei. Passo a maior parte do tempo nele. — Olin sorri enquanto fala. — Poderia visitá-lo, Se bem que... Melhor não. Acho que você não iria gostar.

— Por quê você acha que eu não gostaria Olin? — Sigurd diz se ajeitando na sua poltrona com um.semblante curioso.

— Oras doutor. Seu trabalho é destruir mundos como o meu.

— Estou aqui para ajudar e não para destruir.

— Papai dizia o mesmo. — O rapaz diz hesitante. — Ele dizia que era para me ajudar, mas doía muito. Mamãe vinha tentar me ajudar e também era punida. — Novamente o rapaz se encolhe todo no divã.

— Olin, quero que entenda que não sou seu pai. E quero lhe ajudar de verdade.

— Muitos disseram isso, mas no fim sempre me machucaram.

— Olha... Realmente entendo você. Mas você precisa confiar em mim, senão não poderei ajudar.

— São poucas pessoas que conseguem me entender. O homem da cicatriz na testa e a doutora. Mas o homem da cicatriz é mal. Mas a doutora é muito legal. — Havia muita excitação em sua fala. — Sabia que ela agora consegue entrar no meu mundo?

O JARDIM DE AKEROnde histórias criam vida. Descubra agora