CATORZE

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— Bom dia meus queridos! Prontos para curtir esse lindo dia de sol que faz lá fora?

Helle mantinha seu ritmo costumeiro. Sempre sorridente e comunicativa, ela tentava de seu jeito, mesmo que um pouco alheio a realidade ao redor, alegrar os pacientes.
Sua doçura era ultrajante para Ingmar, que sempre fazia questão de bocejar a cada fala da terapeuta.
Helle parecia não ligar ou conseguia esconder muito bem aos comentários mal humorados de Ingmar.

— Curtir? Está mais para banho de sol de presidiários.

— Ingmar, meu querido. Não seja tão pessimista. Todos aqui estão por uma razão. Não são presos, são pacientes em busca de um tratamento.
Então bote um sorriso em seu rosto. Aliás, todos vocês. É um lindo dia de sol.

Após vários dias chuvosos e frios, a aparição do sol era uma espécie de oásis quente e iluminado no meio de uma nevasca fria e escura.
Todos os pacientes estavam aproveitando para caminharem pelo jardim principal.
Era um dia atípico por isso. Estava cheio e movimentado. Todos os enfermeiros estavam fora acompanhando grupos de pacientes.
Helle havia por conta própria montado um pequeno grupo de pacientes que por razões desconhecidas ela insistiu em levar para dar uma volta pelos jardins.
Pediu a ajuda de dois enfermeiros e assim o trio acompanhou o pequeno grupo de pacientes.
Surpreendendo a todos, ela convenceu Bjørg a deixar Signe passear um pouco, afinal a doutora já estava a uma semana a base de calmantes trancada no quarto, e para Helle, andar e ter contato com o sol poderia ajudá-la com algo.
Bjørg relutou, mas acabou cedendo. Helle de certa forma usou sua principal arma, o fato de saber da "quedinha" que o doutor Misunnea sentia por ela.

Então ela, Matheo e Haakon estavam incumbidos de cuidar do grupo.
A escolha por Haakon não havia sido aleatória. De todos os enfermeiros ele era tudo como o mais calmo e paciente de todos.
Tinha um cuidado exemplar com os pacientes.
Já Matheo era um homem forte, caso algo saísse do controle teria a força do enfermeiro.
O grupo caminhou até próximo de alguns bancos que ficavam debaixo de algumas árvores.
O sol era um pouco forte então procurar abrigo na sombra foi uma boa escolha.
Helle então tomou a frente do grupo e começou a falar:

— Pessoal! Hoje faremos uma espécie de roda de conversa ao ar livre.
Não será uma intervenção propriamente dita, mas acho bom poder conversar um pouco sobre nossos sentimentos, nossos infernos pessoais e o porquê de estarmos aqui.
Formem um círculo ao meu redor, alguém quer começar?

O grupo foi se espalhando e formando um círculo, exceto Signe que ainda um pouco dopada estava sentada numa cadeira de rodas sendo empurrada por Haakon.
Ela se sentia um pouco sonolenta, Bjørg insistia que era necessário mantê-la assim. Fazia parte do tratamento para tentar acalmá-la.
Helle se sentia triste vendo a doutora naquele estado, então achou que uma volta só lado de fora, poderia fazer Signe voltar a ser o que era antes.

— Ninguém quer ser o primeiro? Olha que vou escolher um.

— Pode deixar que eu começo Helle. - A garota se olhava no espelho ajeitando os laços no cabelo.

— Ah sim. Obrigada. Fique a vontade para começar querida!

— Bom. Pra quem não sabe me chamo Elea.
Tenho 18 anos. Eu e meu irmão gêmeo Rainer viemos aqui trazidos pelo nosso pai.
Fomos diagnosticados com alguns problemas.
Dizem que eu tenho TOC, bem... — A garota fica alguns segundos em silêncio olhando para o espelho em suas mãos. — Acho que agora entendo o problema que tenho e espero conseguir superá-lo.

— E você vai conseguir Elea. Acredite. Sairá daqui totalmente recuperada minha querida.
Quem é o próximo? Quer falar algo Rainer? — O garoto que estava de cabeça baixa ignora Helle completamente.

O JARDIM DE AKEROnde histórias criam vida. Descubra agora