CAPITULO 5 - POV DAHLIA

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Dahlia

Tentei seguir o conselho de Azriel e descansar, mas minha cabeça estava a mil tentando pensar o que eu faria depois que eu ficasse completamente recuperada dos ferimentos e dores da noite passada.

Não poderia voltar para a corte, se eu voltasse tinha certeza que Harkin voltaria atrás de mim, e sei muito bem que Azriel não estaria lá para sempre me salvar e cuidar dele, e também que ninguém se daria o trabalho de saber se estava bem.

Tinha algumas colegas de trabalho por lá, o mais próximo que já tive de uma família de verdade. Mas todas me tratavam com falsidade ou mal olhavam na minha cara, muitas diziam umas para as outras que eu era a favorita dos machos.

Sinceramente, preferia ser a menos preferida.

Perdi a conta de quanto tempo fiquei encarando o teto, não conseguia me mover direito, então esse era o único tipo de diversão que tinha. Tento curvar minha perna, para dobrá-la, a movimentando aos poucos.

Pela Mãe, isso dói!

Se eu pudesse, faria o mesmo com aquele maldito do Harkin.

Mas não posso.

Uma movimentação sobe pelo meu braço, parecia um tipo de carícia.

As sombras.

Era tão estranho, mas ao mesmo tempo tão fantástico... enquanto crescia na Cidade Escavada ouvia histórias de um tal Encantador de Sombras, aquele que todos deveriam temer, diziam que depois do Grão-Senhor, era o ser mais perigoso que poderia esbarrar no nosso caminho.

Será que ele sabia que eu tinha noção de quem ele realmente era?

Talvez não, pelo fato de eu estar o tratando como alguém normal, não como uma aberração, ele não era isso. Todas aquelas histórias sobre ele ser um illyriano cruel e treinado para matar não estavam fazendo sentido, ele parece não ser capaz de machucar nem mesmo uma mosca.

O toque das sombras me faziam sentir algumas cócegas, pareciam penas raspando de leve minha pele, e não evitei soltar uma risadinha.

— Está fazendo cócegas em mim! — falo entre alguns risos, e elas pararam. Acabei estranhando, elas deveriam obedecer apenas seu mestre, não? — Não se preocupem, não precisam parar — elas subiram meu corpo, fazendo algum tipo de manta, e começaram a me carregar pelo apartamento.

Soltei um gritinho, por ter sido pega de surpresa, mas logo elas me colocaram no sofá da sala. Uma delas foi para uma pequena estante e pegou um livro, o trazendo para mim.

— Muito obrigada — agradeci sorrindo, e a tocando. — Não entendo como os outros podem ter medo de vocês e de seu mestre, vocês são tão gentis!

Coloco uma mecha de cabelo para trás da orelha, estava meio sem graça por estar na casa de alguém que mal conhecia, mas que insistiu que ficasse à vontade.

O apartamento era realmente adorável, era simples mas muito aconchegante. Não deveria me surpreender com a paleta de cores do lugar, em tons de preto, cinza, azul, mas a madeira de alguns móveis o tornava mais rústico. Havia um sofá de tom azul-marinho quase preto, uma mesinha de centro de madeira escura com algumas plantas e livros, a pequena estante de livros ao lado do sofá do mesmo material. Uma mesa do outro lado do cômodo com duas cadeiras pretas e uma cozinha até que bastante espaçosa.

Mas o que me chama a atenção são alguns jogos de tabuleiro e um aparelho de música de vinil, quem diria que ele gostava de coisas antigas! Nas paredes haviam vários quadros, não era uma artista, mas as pinturas estavam lindas.

Aquele lugar poderia ser chamado de lar.

Mas nunca por mim.

Meu lugar é na Cidade Escavada.

E quando eu me recuperar, vai ser minha hora de ir embora, e voltar para a vida que estou presa desde sempre e para sempre.

No mesmo instante fiquei com uma expressão triste e vazia, me lembrar daquele lugar era o inferno na terra. As sombras de Azriel parecem sentir o que sinto, e começam a escalar minhas pernas, como um cachorrinho carente por atenção.

— Pelo visto seremos amigos — disse a elas, algo estúpido dado ao fato que elas nem mesmo poderiam me entender. — Seu mestre voltará logo, sei disso — minha barriga roncou, pelo visto a sopa não foi o suficiente. As sombras se agitaram, parecia que estavam nervosas, elas desapareceram por um instante, mas em menos de dois segundos lá estavam elas, ao meu lado. — O que aconteceu? — pergunto para mim mesma.

— Nada demais — uma voz grossa e rouca me responde. — Foram apenas me avisar que estava com fome, trouxe alguns doces, você quer?

Olho para cima e lá estava o alto illyriano cheio de sacolas de compras.

Azriel.

Corte de Sol e LuaOnde histórias criam vida. Descubra agora