Capítulo 26

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Minha sessão de terapia estava perto de acabar, e eu não tinha conseguido dizer muita coisa. Estava de saco cheio. Apenas isso. E eu também sabia que grande parte da culpa de tudo aquilo era minha. Josh era o maior culpado, por me causar esperanças daquela forma. Ele sabia dos meus sentimentos e fraquezas por ele, e ainda assim, agia de forma consciente. Mas eu estava permitindo. Eu: a única pessoa cem por cento responsável por mim mesma.

— O que pretende fazer agora? — perguntou a terapeuta.  

— Eu não sei... Primeiro, ele me pede para esperar. Depois me diz que não está pronto para ter algo sério comigo, e que eu mereço alguém muito melhor. Mas ele não vai embora, sempre volta e tudo ao meu redor tenta me convencer que eu não devo desistir de nós. Então, quando estou prestes a decidir me arriscar e dar outra chance, ele diz que somos amigos.

— E o que você disse em resposta? 

— Nada. Se ele quer assim... 

— A questão é: Até quando, você vai permitir que ele tome as decisões por você, Ruby?

— Não sei o que fazer. Eu o amei muito, mas ele nunca sentiu o mesmo.

— Veja só. Há uma imensidão de coisas que nós não somos capazes de controlar. Você pode controlar sua ida ao mercado, pode decidir não sair de casa, escolher comer uma torta de morango ou um pão de queijo. Mas não controla os sentimentos do Josh, não pode decidir se ele te ama ou não. Não controla a ação dele em te procurar somente quando deseja e quando é conveniente para ele mesmo. Entretanto, você pode decidir não responder, não atender e não mais acreditar nas mentiras que ele diz.

— Acontece que não é tão simples assim... — interrompi. 

— Como nada nessa vida. É necessário um esforço maior e um pouco mais de cuidado por si mesma. Você o ama, mas ele te machuca e não te quer reciprocamente. Se você não tem controle sobre isso, não há porque se culpar tanto. Se responsabilize por aquilo que você controla, como seu desempenho no trabalho, sua busca por experiências novas e a tentativa de sair desses laços que te consomem e custam sua paz. É com você, e estou aqui para te ajudar. 

No decorrer dos dias, refleti bastante sobre o que a terapeuta havia dito. E como a maioria das realidades, essa era bem difícil de lidar, sobretudo de aceitar. E apesar de entender que aquilo era, de fato, o melhor para mim, não me conformava. Lutei com todas as forças para não procurar por ele depois da nossa última conversa. Mais uma vez, eu me deparava com um bom momento para seguir e, finalmente deixá-lo ir de uma vez por todas. Mas não o fiz. 

Enquanto o celular fazia a chamada, eu tentava controlar minha respiração acelerada. 

— Oi! Josh? Eu só queria falar com você um pouco. Prometo que não vai demorar tanto...

— Sim. Tudo bem. Contanto que não demore mesmo. Estou um pouco ocupado agora. 

Sempre está...

— Pode ser. 

— Então, pode falar.

— Sendo bem direta, o que eu tenho a dizer é que, sinceramente, eu não sei se dá para ser sua amiga... 

— Por que não? Qual o problema? 

— O problema é que eu não estava esperando por isso. A menos que eu esteja louca, Josh. Mas nós estávamos nos entendendo, não estávamos? — Ele permaneceu em silêncio. — Bem, foi o que pensei...

— Sinto muito que tenha interpretado de outra forma... 

— Não sente não! — interrompi. — Sei que não sente. Fez de propósito. É impossível não criar esperanças com todo aquele seu discurso de que sou especial, que você andava pensando em mim, e que tinha coisas a me dizer... Coisas que não existem! Na verdade, você não tem nada a me dizer. 

— Também fui pego de surpresa com seu novo casinho, namoro, sei lá... Mas o que eu tinha para dizer...

— Josh, eu te amo...

— ...é que também tenho alguém.

Minha boca foi se abrindo aos poucos, mas não fui capaz de pronunciar uma só palavra. Meu coração acelerou e precisei me esforçar ainda mais para não perder o controle da respiração. Depois de uns segundos, tomei a consciência. 

— Quanto tempo? — perguntei. 

— Recente... Uns dois meses. 

— Ah. E como ela é?

Parte de mim não acreditava que ela existia. Eu estava atenta às intenções dele. Havia uma possibilidade enorme de ser mentira, apenas uma implicância ridícula por eu estar com Ben. 

— Ela é legal. Gosta de mim, me dedica suas melhores declarações de amor. Eu não sabia se estava pronto, mas ela tomou a iniciativa de tudo.

— Bom, dá para ver que é assim com todas as garotas. Elas que tomam a inciativa de tudo, e não você... É assim com todas, ou apenas comigo e com ela? — impliquei. 

— Não é assim com todas. Você sabe. 

— Não, eu não sei. 

Me irritava quando ele afirmava que eu sabia de algo sobre ele. Como se ele fosse o homem mais honesto do mundo tratando dos sentimentos alheios. O mais sentimental, o mais cuidadoso, mais responsável, mais dedicado.

— Você me conhece, eu não sou assim. — insistiu ele. 

Conheço muito bem.

— Certo. Enfim, só mais uma coisa. De longe, a mais importante. Você está feliz?

— Você sempre pergunta isso. — Ele riu. 

— É sério, Josh. Quero saber. Do fundo do seu coração, você está feliz?

— Sim, estou muito feliz. 

— Que bom. Posso te fazer um pedido? — Respirei fundo. — Se gosta mesmo dela, demonstre. Tá bom? Não esquece de demonstrar. 

— Pode deixar. 

Eu havia declarado meu sentimento, mas me restava dúvidas sobre o que, de fato, eu sentia por ele. Não tinha certeza se ainda o amava, mas tinha quase certeza que aquilo não tinha passado de um blefe. Estava com Ben, e isso era muito bom. Sentia que já não tinha mais coragem de abrir mão dele para voltar aos braços frouxos do Josh. Entretanto, eu ainda sentia alguma coisa, com certeza. Nem que fosse apenas uma mágoa mal resolvida, uma revolta, seguida da vontade de quebrá-lo como ele tinha feito comigo. Era a minha vez de manipular. Saber sobre a vida boa e ousada que ele levava sem mim e sem merecer: Essa era minha obsessão. Eu não estava me reconhecendo.

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