Capítulo 14

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Depois

Estava no banho, quando meu celular tocou. Me apressei em sair para atender, pois era raro que me ligassem, pensava logo que pode ser uma urgência. Enrolei-me com a toalha e saí completamente desajeitada, molhando o chão do meu quarto e sabendo que, depois, aquilo me daria nos nervos. Quando atendi, era da escola. Ashley, a própria diretora havia se dado o trabalho de ligar, pedindo encarecidamente que eu voltasse ao trabalho. Durante todo o seu discurso, entre elogios e cortejos, pensei em recusar, mas ela falou das crianças. Sentiam minha falta, parece que a metodologia das últimas duas professoras não tinha agradado os alunos.

— Tudo bem. Quando posso voltar?

— O que acha de ser na segunda-feira?

— Combinado.

Era minha segunda licença; a primeira foi a mais longa. Também me ligaram pedindo que eu voltasse, mas não aceitei. Dessa vez, as coisas já não estavam tão ruins, por isso, considerei o pedido, mas só por causa das crianças. Tia Carmen e Evelyn acharam uma ótima ideia, eu também devo dizer que achei. Aprendi que, quando fugimos das nossas dores e deixamos de fazer o que amamos por medo de lutar, pregamos uma armadilha a nós mesmos. Eu precisava dar um basta nessas armadilhas.

A segunda-feira chegou e eu retornei à escola. Fui recebida com muito amor, pelo Gomez, pelos demais professores, e pelas crianças, que não mediram esforços para me abraçar, me beijar e me dedicar palavras de carinho e cuidado. A sala, ainda me trazia diversas lembranças, percebi que ainda seria difícil estar ali e ter que me adaptar novamente. Na primeira vez, não obtive sucesso, nem tentei, para ser sincera. Olhei para tudo ao redor e decidi que deveria mudar o ambiente, trocar as imagens que tinha posto na parede, levar novos quadros, mudar a posição das cadeiras que havia lá, eram poucas, mas faria uma diferença. Eu precisava de alegria naquele lugar, precisava colorir a sala, assim como minha vida também.

Mas a hora da saída, me pegou desprevenida. Eu não procuraria por ele, não esperaria que saísse, não iria à sua casa antes de voltar para a minha, não teria torta de maçã...

Respirei fundo e caminhei até o corredor que daria para o portão, Gomez antecipou abrindo-o.

— Não se adaptou a Nova Iorque, senhorita?

Estranhei por um instante, mas, logo entendi o que quis dizer.

— Eu não me mudei para Nova Iorque. Apenas o Josh...

— Ah, vivia me perguntando se já se tinham se casado. Ele também retornará? — Fiz que não. — E como tem sido? Como vão as coisas?

— Difícil, mas eu estou bem... Já estive muito pior.

Ele levou as mãos até a boca num movimento rápido. Pareceu que só havia entendido naquele momento.

— Oh, senhorita! Perdoe-me por tanta indelicadeza. Eu não quis...

— Está tudo bem — falei sorrindo e passando a mão em seu ombro. — Não tinha como saber.

Ele meneou a cabeça.

— Mesmo assim, peço que me desculpe. Não quis ser intrometido.

— Repito, está tudo bem. E pode me chamar de Ruby.

Apesar da tristeza que isso me causava, não pude ser grossa ou indiferente com ele. As pessoas, geralmente não perguntavam, inclusive, os professores, que bem sabiam do meu relacionamento com Josh, foram discretos e apenas me desejaram um bom retorno. Em momento algum falei sobre o que tinha ocorrido, mas, sabia que alguns rumores haviam se espalhado. Era impossível que não existisse um fofoqueiro sequer. Estava ciente de possíveis boatos, mas não estava ligando. Sou a única que conheço minha vida e minha verdade; os outros, só acham que conhecem.

Alguém Me DisseOnde histórias criam vida. Descubra agora