capítulo 32

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Estava me sentindo bem e confiante como não me sentia havia muito tempo. Determinei metas para o ano novo, fiz uma lista e detalhei tudo que queria realizar a longo, médio e curto prazo. Dava para cumprir a maioria das metas naquele mesmo ano; outras, apenas daria para começar, mas estava tudo muito bem planejado.

Ben ia se formar no segundo semestre do ano e estava feliz da vida. Empolgado, sentindo orgulho de sua trajetória e fazendo muitos planos. Mas, apesar de estar muito eufórico em poder começar a exercer sua profissão em breve, algo o preocupava. Não só a ele, mas a mim e nossos amigos também. O dono do Sweet Coffee estava se mudando para a Europa e tinha colocado o café à venda. Haviam boatos de que já tinha um possível comprador interessado e que o mesmo não pretendia manter o bistrô, mas abrir uma empresa com outros fins. Todos os funcionários estavam preocupados, e os clientes, de coração partido. Aquele lugar era guardião de muitos momentos de felicidade ímpar, de desabafos, de aconchego... Aquele lugar tinha história. Não nos restava muito o que fazer, além de torcer para que um outro comprador aparecesse, cobrisse a oferta e decidisse manter o Sweet Coffee e seus funcionários, assim como tinham feito todos os proprietários que passaram por ali. Era nossa esperança.

Manter a mente ocupada com meus planos para aquele ano estava me ajudando muito a não pensar nos últimos acontecimentos com o Josh. Ele tinha levado a sério a ideia de não nos falarmos mais, pois fazia meses que ele não tinha entrado em contato, e eu também não o fiz. Ainda tinha alguns sonhos esquisitos, e as vozes incansáveis não saiam da minha cabeça. Principalmente a dele, na nossa última ligação... 

"Eu gosto de você... Não poder te ver é horrível... Não dá certo..."

Tudo o que eu mais queria era estar em paz e encerrar esse assunto de uma vez por todas em mim. Josh já tinha encerrado. Eu também estava seguindo sem ele, embora poucos meses não fosse muita coisa. Mas eu ainda precisava sentir indiferença. Não do tipo ruim e egoísta, mas ter o mesmo sentimento que a gente tem pelos caixas de supermercados, ou pessoas aleatórias na rua, por exemplo. Não temos motivos para amá-los nem para odiá-los. Entende? A gente nem gosta nem deixa de gostar. São apenas pessoas, caminhando ou fazendo seu trabalho, e não sabemos mais nada sobre suas vidas. Era isso que eu precisava sentir. Ele também já não ocupava mais o mesmo espaço no meu coração e na minha vida. Digamos que o que ainda restava era um apego idiota. Apegos às perguntas intermináveis sobre o passado. O meu orgulho gigantesco não me permitia seguir em frente sem antes saber se eu tinha sido apenas uma boba, que tinha amado loucamente sem nem um pingo de retribuição, ou se ele tinha gostado de mim e me dedicado pelo menos alguns de seus pensamentos alguma vez na vida. Sentia que precisava apenas disso para poder prosseguir e esquecer o assunto de uma vez por todas.

Por isso, eu estava determinada a fazer o que vinha planejando havia dias. O casamento dele seria no dia seguinte: Domingo, vinte e um de Março. Imaginei que Melanie tinha escolhido esse mês, justamente por ser o início da Primavera. Quem não adoraria casar rodeada das flores mais lindas? 

Peguei meu celular e olhei mais uma vez a publicação de uma página de fofocas, que divulgava a data, a hora e o local da cerimônia. Não era aberta ao público, mas isso que dá ser famoso e não ter privacidade nenhuma. Eu sabia que o Josh odiava esse tipo de coisa, mas não conseguia entender o motivo de casar com alguém que estava acostumada a ter uma vida assim. Além de pintora, Melanie era influenciadora digital; um fato que diminuía ainda mais a privacidade da vida dessa mulher e, consequentemente, a de quem convivesse com ela.

Me arrumei para dormir, pois tinha que levantar cedo no dia seguinte.

...

— O que pensa que está fazendo? Você não foi convidada! — disse Evelyn ao telefone. 

Eu não tinha ligado para ela, tampouco tinha dito o que eu pretendia fazer. Ela surtaria. Ninguém iria entender. Mas, me conhecendo bem, imaginou que eu poderia estar na bad e resolveu ligar para dar apoio moral. Só precisou juntar dois mais dois, ela logo percebeu que eu estava escondendo algo e deduziu. 

Alguém Me DisseOnde histórias criam vida. Descubra agora