Capítulo 13

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Quase impaciente de tanta ansiedade, eu esperava pelo Josh. Era sábado, duas semanas depois do nosso encontro. Tínhamos combinado de ir à uma apresentação Coldplay juntos. Estava pronta havia mais de uma hora, ele não atendia o telefone nem visualizava as mensagens. Estava usando um vestido preto com estampa de flores vermelhas, uma jaqueta de couro e botas esportivas, também pretas. Ousei no batom vermelho que caiu muito bem com a estampa do vestido e deu um contraste elegante e sensual no look inteiro. Seria péssimo se ele não aparecesse. Já estava pensando na possibilidade de ter levado um bolo, mas ainda era cedo para isso. Não muito cedo. Quase na hora, eu diria. Quase.

— Você está lindíssima! — disse tia Carmen ao entrar de mansinho na sala sem que eu percebesse.

— Obrigada. — Sorri.

Ela percebera minha inquietação.

— Ele virá, querida. Está um pouco atrasado, mas logo chegará. — Assenti. — Não seria bobo ao ponto de deixá-la na mão. Sairia perdendo. E muito.

— Não exagera, dona Carmen — respondi divertida.

— Falo sério. Olhe só para você!

Ela me abraçou carinhosamente, depois saiu. Não precisou dizer nada, mas havia seu recado, e eu tinha entendido. Com apenas um abraço, me recomendou cuidado, me tranquilizou e me mostrou o quanto me amava.

Mais uma hora tinha se passado e, se ele não chegasse nos próximos cinco minutos, perderíamos o show. Não valeria a pena insistir em ir depois. Chateada, mas ainda esperançosa, disquei seu número novamente. Nada. Imaginei que estivesse dirigindo e ,provavelmente, não atenderia. Era a vez de dar lugar à preocupação e ao medo. Inúmeros pensamentos me surgiram: E se aconteceu algo grave? E se bateu o carro? E se não estiver tudo bem? Senti um frio na espinha, só em pensar nas possibilidades.

De repente, meu coração saltou num susto quando meu celular — no meu colo — notificou uma mensagem.

Josh: Não poderei ir. Desculpa.

Desculpa?

Recusei-me a responder sua mensagem ou qualquer outra coisa. Respirei fundo, tentando acreditar no que tinha acabado de ler; por incrível que pareça, não estava tão surpresa. Comecei tirando os brincos, que havia comprado especialmente para aquela ocasião. Sonhei com a reação do Josh quando os visse, imaginei que fosse gostar. Eram de um preto metálico, com pedrinhas transparentes e brilhantes, pareciam mini diamantes. Já tinha ouvido falar que, geralmente, é por eles que uma mulher começa a desfazer sua produção.

Fui para o meu quarto e não ousei acender a luz, não queria me encarar no espelho. Tinha feito isso milhares de vezes nas últimas três horas. Me senti segura, confiante, bonita, estava bem. Mas, aquela sensação, de repente mudou para uma mistura de raiva, decepção e revolta.

"Não poderei ir. Desculpa." 

Fiquei pensando nessas palavras por repetidas vezes.

Talvez, eu estivesse sendo imatura, mas estava me lixando. Não perguntei o que aconteceu, pois não queria saber. Não exigi os motivos, nem esperei por justificativas, elas não viriam. Passei longe de ser compreensiva, tampouco tentei. Eu não queria. Estava cansada de tanto ser.
Não pressionei, não entrei em desespero. Dessa vez, apenas me calei. Nem questionei o porquê. Sequer perguntei se estava tudo bem. Eu sabia que estava. Não tinha motivos para duvidar. Com toda certeza, estava tudo muito, muito bem.

Troquei meu vestido por um conjunto de dormir, as botas, por um par de meias velhas e gastas, a maquiagem removi de qualquer jeito, e chorei. Deitada em minha cama, eu apenas chorei. Pela primeira vez, senti que era uma injustiça o que estava fazendo comigo mesma. Eu não era obrigada a aceitar aquilo, nem se quisesse. Claro que me importei, mas, de um jeito diferente. Estava me importando comigo. Já passava da hora de fazer alguma coisa, tomar alguma decisão. Sabia que deveria esperar o momento certo para conversar, assim o faria, no dia seguinte.

Estava evidente que ele não tinha disposição alguma de cuidar do que tínhamos, e eu não ficaria remando o barco sozinha. Ao mesmo tempo que pensei isso, temi que fosse verdade, tive medo de estar certa. Contudo, não dava mais para continuar daquela forma, admiti para mim mesma que não merecia aquilo. Estava na hora de fazer algo por mim e eu faria. Independente de estarmos longe, de termos tempo ou não, conversaríamos. A situação precisava ser resolvida. E ponto final.

— O que houve ontem? — perguntei, no mesmo instante em que ele atendeu.

— Acabei me atrasando. Estive muito ocupado, o dia todo. Quando vi as horas, não daria tempo.

— Poderia ter me avisando antes...

— E eu te avisei. Mandei uma mensagem. Não viu?

— Duas horas de espera! Você sabia que não viria, e só me avisou depois de duas horas de espera.

— Eu sinto muito. E já te pedi desculpas. Se não consegue entender, infelizmente, não posso fazer mais nada.

Poderia cuidar mais de nós, mesmo de longe. Deveria procurar saber como estou. Ligar para mim.

— Sabe... às vezes eu penso que você não sente nada por mim — falei com a voz embargada.

— Não diga isso. Eu te adoro. E muito.

— Mas não parece. Então, preciso que me diga a verdade. De uma vez por todas, Josh. Preciso que seja sincero...

— E não estou sendo? — interrompeu.

— Preciso... que me diga... por favor. Você quer mesmo continuar?

Um breve silêncio no outro lado da linha.

— Continuar o quê?

Ora, como o quê?

— Com a gente. Com o que temos... Ah, eu nem sei o que temos. — Deixei que as lágrimas caíssem. Não quis bancar a determinada, queria que soubesse que não estava bem. — Tenho que saber.

Desde o começo, nunca rotulamos a nossa relação. Não houve pedido de namoro, zero formalidades. Eu nunca havia me denominado como namorada do Josh. Estávamos juntos, as pessoas podiam ver, porém, em nenhum momento discutimos a nossa relação com alguém. O Gomez nos admirava, dizia que éramos um belo casal, a tia Carmen teve conhecimento, mas, nunca falamos sobre o que, de fato, era aquilo que tínhamos. Eu já havia percebido isso e também me questionado diversas vezes, sentia falta de algo a mais. Em outra oportunidade, perguntei ao próprio Josh como ele considerava o nosso relacionamento. Ele apenas respondeu que sentia uma ótima conexão comigo e sabia que aquilo se tornava mais sério a cada dia. Isso me contentou. Para mim, o importante era estarmos felizes. Não queria cometer os mesmos erros de antes, me prontifiquei a jamais permitir que nosso amor fosse um fracasso como tinha sido os outros, tanto os meus, quanto os dele. Não havia espaço para cometer erros. Eu mesma me dispus a isso.

— Não entendo o porquê de estar me perguntando algo assim. É claro que quero continuar. Nunca paramos — respondeu.

— Isso não é suficiente. Você sabe que as coisas precisam mudar.

— Tudo bem, prometo que serei mais atencioso. Mas, eu te juro que quero continuar.

— Eu também. Mais do que imagina. Estou tentando demais. Porque eu amo você.

A conversa acabou, mas não consegui me sentir segura, mesmo que ele tivesse jurado. Sempre achei que as palavras têm um grande peso. Elas são importantes, pois, é através delas que nos comunicamos em maior parte do tempo. É por meio delas que dizemos o que sentimos a alguém que amamos. Também é por meio delas que podemos dizer algo que jamais será esquecido, como juramentos e promessas, por exemplo. E eu, como amante das palavras, pensava nelas mais do que devia. O Josh tinha me conquistado, principalmente por suas palavras. Era maravilhoso ouvir seus elogios, ouvir sua voz nas ligações, durante a noite. Perdi a conta de quantas vezes ele dormiu ao telefone. Nunca encarei isso como uma falta de consideração, pelo contrário, eu amava. Os dias eram cansativos e, depois de longas horas numa ligação, alguém pegaria no sono. Me dei conta do quão triste era ver que aquele tempo tinha passado, que o melhor inverno da minha vida tinha ido embora, e junto dele, levado o homem que eu amava.

Alguém Me DisseOnde histórias criam vida. Descubra agora