Prólogo

228 11 15
                                    

Caminhei apressada debaixo da chuva violenta que apertava a cada passo que eu dava. Não entendia por que tinha que chover, justo naquele dia. Eu não deveria ter ido, nem sequer levantado da cama, mas sou do tipo insistente demais; minha mãe brigara comigo durante toda a minha infância por causa da minha teimosia.

Com muita dificuldade, avistei a pequena igrejinha. Continuei dando passos largos, mas algo me prendia, como se me questionasse se eu tinha certeza do que estava fazendo. Eu não tinha. O nó na garganta e o aperto que sentia no peito dificultavam minha respiração, mas eu precisava ver com os meus próprios olhos.

Ainda insegura, entrei na igreja, preferi ficar nos fundos, onde não seria tão notada. Aos poucos, ergui a cabeça, e ele estava lá: o homem que eu tanto amei, ia se casar. Quando pusesse os seus pés lá fora outra vez, não seria mais o meu Josh, definitivamente. O terno que usava não era nada parecido com o que eu imaginava que usaria, quando fôssemos nos casar. O azul royal tinha sido substituído por um cinza pálido, igual ao céu, naquele início de primavera. Pensei em Melanie, sua noiva, e no maldito azar que tivera, pois chovia incessavelmente; mas isso não tirou o sorriso do seu rosto. Ela estava prestes a entrar e assumir o centro das atenções. 

Olhei para onde estava Josh, novamente, e percebi que ele já havia notado minha presença. Nossos olhares se cruzaram, e eu, enfim consegui descobrir o que tanto queria: ele não estava feliz. Me passou um filme na cabeça, de tudo o que vivemos naqueles curtos e intensos dias, três meses, para ser exata. Costumava dizer que tinha sido o melhor inverno da minha vida. Diferente das outras histórias de amor clichês, não tinha sido um verão. Já fazia um ano...

Não medi esforços para tentar dizer o que eu sentia, através do olhar.

O que ela tinha? O que faltava em mim?

Todos levantaram, simultaneamente, ao ouvirem o som insuportável da faixa nupcial. Melanie entrava triunfante. Algumas vezes, Josh desviava seu olhar para mim, discretamente, até que sua noiva o alcançasse. Fiquei imóvel no decorrer de toda a cerimônia, que passava mais rápido do que imaginei, e quando me dei conta, o celebrante já partia para a decisão final.

— Aceito! — disse a noiva.

— Josh Lowe, você aceita Melanie como sua esposa, jurando amá-la e respeitá-la...

Não conseguia entender o porquê dele estar fazendo aquilo. Não era possível que fosse simplesmente uma vingança. Não pagaria tão caro. Mas, evidentemente ele não a amava.

—Sim — ele aceitou.

Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu senti que não dava mais para ficar ali.

Resmungava o tempo inteiro que aquilo era uma burrice, que não era para ter ido.

Ainda chovia bastante, e a sensação que eu tinha era de que, a qualquer momento, a chuva me empurraria, me derrubaria e, se isso acontecesse, eu não faria o mínimo esforço para me levantar outra vez. Comecei a correr, senti que as lágrimas se misturavam com os pingos gelados de chuva no meu rosto. Com o peito em chamas, o fôlego começou a faltar, mas, nem isso me fez parar. Ele tinha se casado. Josh era de outra mulher, naquele momento. Para sempre.

           ...           

Alguém Me Disse

Disseram-me que as nossas vidas não valem grande coisa
Elas passam em um instante, assim como murcham as rosas
Disseram-me que o tempo que passa é um desgraçado
Que, do nosso sofrimento, ele faz seus casacos

No entanto, alguém me disse
Que você ainda me amava
Foi alguém que me disse
Que você ainda me amava
Seria possível, então?

– Carla Bruni, Quelqu'um m'a d'a ti

Traduzido do Francês. 

Alguém Me DisseOnde histórias criam vida. Descubra agora