Capítulo 22

31 7 4
                                    

Engoli o choro durante o caminho inteiro, pois sabia que chorar naquele momento dificultaria minha chegada, e uma mulher precisa tomar todos os cuidados possíveis enquanto anda sozinha na rua à noite, infelizmente. Quando avistei o muro da minha casa, apressei o passo, ansiosa para chegar ao meu quarto e poder desabar tudo o que carregava. Sabia da possibilidade de tia Carmen ainda estar me aguardando, e eu não queria que ela me visse em tal estado, já que pareceu contente com a minha saída. Devia ter criado expectativas o tempo inteiro em que estive fora, certamente esperava muito ansiosa por mim, a fim de saber de tudo, tim-tim por tim-tim. 

Entrei e olhei rapidamente pelos arredores, mas nem sinal dela. Estava tarde, ela já deveria ter se recolhido. Aproveitei a oportunidade e fui direto para o meu quarto. O alívio em estar ali me percorreu imediatamente. Não sabia por onde começar, se fazia a cena dramática de filmes em que a pessoa encosta na porta e desliza até o chão, deixando as lagrimas caírem, ou, se deitava na cama, tentava dormir e continuava engolindo o choro. Foi o que decidi fazer no fim das contas. Por mais que isso seja uma das coisas mais difíceis de se fazer, a exaustão que eu vinha sentindo era maior. Não me refiro a cansaço físico, falo sobre estar de saco cheio da situação, dos questionamentos, da tristeza e da sensação de vazio. Estava cansada de sentir falta do Josh, das perguntas que insistiam em surgir na minha mente e principalmente do fato de não conseguir aceitar a decisão dele e ter que seguir minha vida de uma vez por todas, e sem ele.

Olhei para o teto por alguns minutos, pensando em coisas que jamais aconteceriam: ser outra pessoa, sumir para outra dimensão, ser personagem de um livro que tem um final feliz e clichê... Bem, eu ainda poderia ser feliz, mas não com o "príncipe encantado" que apareceu no início da história. Tampouco seria com qualquer outro, já que a princesa, vulgo eu, não deixava isso acontecer.

Ser feliz... Por que nós sempre temos essa ambição de ser feliz, uma vez que viver é melhor que isso? Até porque, é preciso viver para ser feliz. Virei para o lado esquerdo, o qual prefiro dormir e peguei no sono. 

No dia seguinte, não falei com Ben, e ele fez o mesmo. Recusei as ligações de Evelyn. Não era um bom momento. E o que eu poderia dizer? 

"Foi um desastre", "Estraguei tudo!", "Eu o empurrei e fugi, como costumo fazer".

Não diria isso para ninguém, queria evitar mais um constrangimento. Ter estragado o encontro já era vergonhoso demais.

...

— Por que você o empurrou? — perguntou Evelyn ao telefone, quando lhe contei sobre a noite anterior.

Ela insistia demais e, sinceramente, eu não estava a fim de parecer estar forçando um suspense. 

— Não estava pronta para aquilo. Ele não é o problema, sabe? Eu é que sou — expliquei.

Antes, eu era capaz de julgar as pessoas que usavam isso como desculpa. Dizia que não passava de um explicação esfarrapada de alguém que não tinha coragem de ser sincero sobre seus sentimentos. E, de fato, continuei pensando assim, mas percebendo de uma forma diferente. No meu caso com Ben, eu o admirava, respeitava e gostava dele. Era diferente de todos os caras que já tinha conhecido. Mas, invés de me sentir covarde por não meter a cara e entrar de cabeça num novo romance, me senti corajosa por admitir os meus limites, dar um tempo a mim mesma, me permitir sofrer — pois naquele momento era justo que eu não me sentisse bem, a terapeuta me assegurou isso — e, sobretudo, respeitar os sentimentos de Ben. Não poderia usá-lo para esquecer o Josh. Estava fora de cogitação. Reconhecer tudo isso era muito doloroso.

— Você está certa. Não tem obrigação de fazer o que não quer. — Fiquei surpresa e feliz ao ouvir a opinião dela, era muito importante para mim. — Saiba que tem meu apoio, independente do que decidir. 

Alguém Me DisseOnde histórias criam vida. Descubra agora