Capítulo 19 - Quem Disse Que Ele Ainda Me Amava?

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Sempre acreditei no que as pessoas diziam sobre viver um dia após o outro, mas, parecia que tudo estava ao contrário. As horas e os dias se passavam sem nenhuma melhora, as coisas apenas pioravam, e muito. Sentia que eu jamais me acostumaria, que nunca mais eu seria a mesma. Apesar de ser muito retraída, reservada e dificilmente falar de mim para as pessoas, tudo o que eu mais desejava era ter alguém, ali no meu quarto, que fosse capaz de me ouvir e me dizer o que fazer. Também era um peso saber que eu era o único ser responsável e capaz de fazer algo por mim. Independente de ter apoio e compreensão, ninguém mais conseguiria sentir o mesmo que eu. 

Recusei todas as ligações do trabalho. Não dei satisfações, o que gerou preocupação e fez a coordenação da escola ligar para minha casa, a fim de respostas. Mas, tia Carmen também não sabia de nada. Nem percebera os dias em que faltei ao trabalho. Assustada, ela procurou por mim. Tive que contar o que estava acontecendo. E foi bom, já não aguentava mais guardar tudo aquilo. Contudo, falar, nem sempre ajuda. Não quando o caso exige um esquecimento total. Eu precisava esquecer o Josh. Ele tinha ido embora, não atendia minhas ligações, ignorava minhas mensagens. Talvez fosse mais fácil se eu não tivesse tantas dúvidas. Pensava em como alguém podia ser capaz de simplesmente partir daquela forma, sem explicações convincentes. Eu via a forma como me olhava, como me tocava. Seria possível ele não ter me amado nem um pouco?

— Ruby, por que não ligou para nós? Seu pai e eu estamos preocupados — falou minha mãe, do outro lado da linha.

— E qual o motivo da preocupação?

— Carmen nos disse que você está adoentada. Não entrou em detalhes.

Não sabia se "adoentada" era a palavra certa para usar, mas, sem dúvidas, eu não estava bem.

— São problemas pessoais. Também estou muito cansada, confusa...

— Que tal vir para casa?

— Mãe, aqui é minha casa. — Ela suspirou. — Não me leve a mal. É que me sinto muito melhor aqui.

— Venha nos visitar, então. Traga algumas coisas. Você fica quanto tempo precisar.

Talvez não fosse uma má ideia. Tia Carmen era minha segunda mãe, mas a primeira, a que me gerou, estava a quilômetros de distância, preocupada e disposta a cuidar de mim também. O grande problema é que aquela situação estava tirando toda a minha capacidade de tomar decisões. Eu não queria ficar naquele estado, tampouco ter que sentir aquela agonia insuportável, contudo, não existia disposição alguma para mudar. E as possibilidades que cogitei para sair, mudar de ambiente, foram embora, levadas pela minha negatividade.

Depois de muita insistência, consegui fazer com que ela aceitasse minha decisão. Combinamos que eles me visitariam no próximo fim de semana e que eu começaria a fazer uma terapia urgentemente. Não contei toda a história, tive medo que soasse como um exagero. Porque, pensando bem, se eu tivesse no lugar de outra pessoa e ouvisse meus próprios relatos, também não entenderia. Nunca achei que fosse possível sofrer por amor de tal maneira, até que chegou a minha vez. Quando desliguei o telefone, as lágrimas retornaram com toda força. O que eu estava fazendo comigo mesma? Eu queria quebrar meu celular em milhares de pedacinhos, mas ansiava por uma mensagem ou ligação do Josh, um mero sinal de vida. Além disso, nada mais me interessava.

Levantei bruscamente, peguei uma blusa de manga comprida com capuz e saí. Olhei a rua, pouco movimento. Não sabia para onde ir. Comecei a caminhar sem destino, até chegar em frente a um  supermercado. Ao entrar, os funcionários, que já me conheciam, acenavam para mim, chamavam por meu nome e, com certeza, estranhavam meu estado. Eu costumava falar com todos, sorrir e elogiá-los. Sabia o quão difícil é ter que trabalhar o dia inteiro lidando com clientes exigentes e, muitas vezes, mal educados. Queria ser melhor para eles, e parecia funcionar. Mas, dessa vez, quis ser como qualquer outra pessoa que não tem laços nem vínculos.

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