Capítulo trinta e sete

925 91 15
                                    

Anahi

Eu estava dolorida e nervosa. No caminho para Connecticut, eu quase tive que encostar duas vezes. Sentei no tribunal, tentando o meu melhor para permanecer o mais imóvel possível enquanto esperávamos o juiz voltar. Foi o suficiente para me deixar louca. Estávamos esperando por uma hora. Alfonso sentou ao lado de Tristan na mesa da defesa, e ambos pareciam tão relaxados quanto humanamente possível. Eu simplesmente não conseguia entender como eles conseguiam. Se não conseguíssemos nada aqui, não haveria recurso, e, provavelmente, o meu pai morreria na prisão. Mas como poderíamos apelar? Nós já tínhamos apresentado todas as provas para o juiz. Era isso. Todas as razões para que um novo julgamento fosse marcado, e eles eram bons motivos... certo? Seriam o suficiente?
Talvez eu devesse falar com eles?

- Vai ficar tudo bem. Eles foram incríveis lá em cima. E um dia, estaremos lá também. - sussurrou Katheryn, tomando um assento ao meu lado na parte de trás.

- Obrigada. - eu disse lentamente, surpresa com o fato de que ela estava falando comigo agora.

Ela juntou as mãos. - Eu larguei meu emprego...
meu outro emprego.

Fiquei surpresa que ela ainda tinha tempo para o outro emprego.

- Isso é ótimo.

- Eu só queria que você soubesse... e eu queria dizer... eu queria dizer que sinto muito. Por tudo o que aconteceu, e o que eu disse a você. Desculpe-me. Você é uma boa advogada e sua vida pessoal não deveria ser julgada, muito menos por mim. Então, desculpe-me.

- Isso é um monte de desculpas. - eu disse quando eu peguei a mão dela na minha e apertei-a levemente. - Obrigada, porque neste momento, eu sinto que vou vomitar.

- Eventualmente, a justiça será feita.

- Todos de pé. - disse o oficial de justiça, e todos nós nos levantamos.

Quando o juiz entrou, eu apertei a mão de Katheryn. Eu não tinha certeza se a outra mão no meu ombro estava lá para me confortar ou para se libertar do meu aperto. De qualquer maneira, ela não disse nada. Meu estômago era como um grande poço de borboletas, e tudo em mim, meu coração e minha mente, foram sugados.

- Eu olhei este caso com cuidado e, embora eu concorde com a defesa que é preocupante como o caso de Ben Puente foi tratado, eu não posso, em sã consciência declarar um novo julgamento, aumentando ainda mais o sofrimento dos Alvarez. Portanto, Sr.
Herrera, sua apelação para um novo julgamento foi negada.

Ele bateu o martelo contra o seu homólogo de madeira, e assim de repente, ele se foi.

Negada.

Isso significa que não.

Isso significa que tudo o que tinha feito foi um desperdício. Acabou, nós perdemos.

Nós perdemos.

- Anahi!

Katheryn me pegou quando eu desabei para trás na cadeira.

Eu não podia sentir qualquer parte do meu corpo mais. Tudo doía por dentro, era como se meus pulmões estivessem se enchendo com água e eu estava lentamente sufocando. Minha visão estava turva. Ouvi aplausos, como se isso fosse algo para ser feliz. Essa não era a justiça. Justiça era uma ilusão. A esperança só causou mais dor, e agora, eu não conseguia mais me mover.

Nós deveríamos vencer.

Nossas provas eram boas, tudo estava funcionando em nosso favor. Tivemos os jornais, meios de comunicação, grupos de ativistas, todo mundo estava atrás de nós, nos incentivando, torcendo e ainda assim, tínhamos perdido. Perdemos em três estâncias.

- Isso ainda não acabou.

Eu não sei por que, mas naquele breve momento, isso não me fazia sentir como se eu estivesse caindo. Virando para ele, eu nem tinha percebido que eu estava chorando até que ele enxugou as minhas lágrimas.

- Não desista. Este é apenas um revés, mesmo que um dos grandes, mas nós podemos...

- Obrigada Alfonso. - minha voz falhou, mas eu continuei de qualquer maneira. - Obrigada por tudo que você fez por mim. Mas eu posso ficar um pouco sozinha? Eu vou ficar bem, mas eu só preciso de um minuto.

Ele parecia contrariado, mas ele pegou suas coisas e saiu. Todo o lugar estava vazio e eu chorava. Com minhas mãos sobre minha boca, eu chorava.

Foi só quando minha garganta ficou seca, e meus olhos estavam inchados, que eu parei. Assim como eu fazia quando mais jovem, eu limpei meu rosto com as costas das minhas mãos e peguei na minha bolsa o meu pequeno frasco de colírio. Então, levantei, ajeitei as minhas roupas e saí da sala do tribunal, só para ver a parte de trás da cabeça de Alfonso, enquanto falava com a imprensa. Eu não quero ver qualquer um deles agora, não assim.

No entanto, quando me virei para descer as escadas, notei alguém chegando até a mim. Seus olhos eram escuros, quase pretos, e ele olhou diretamente para Alfonso, enfurecido. Ele enfiou a mão no casaco e mais uma vez o meu estômago caiu, minhas orelhas queimavam e as batidas do meu coração aceleraram. Era como se o próprio tempo tivesse parado. Tudo caiu dos meus braços enquanto eu corria em direção a ele. Ele olhou para mim como se eu fosse louca e murmurou algo, mas eu não conseguia ouvir nada além da explosão ensurdecedora do tiro...

BANG

Ecoou em meus ouvidos, então a dor veio, e eu não estava correndo mais.

- Anahi! Anahi! - Alfonso gritou para mim.

Seus olhos eram tão grandes, que parecia que eles iam sair da sua cabeça.

Por que, não importava quão escuro tudo estava se tornando, ele podia me dar tanta clareza? Ele era como uma vela em um quarto perpetuamente escuro.

- Anahi! Anahi! Diga alguma coisa! Any !!

As luzes se apagaram, e eu também.



3/3

Black Rainbow Onde histórias criam vida. Descubra agora