Capítulo 20

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POV: Catarina

  Dois dias se passaram sem que conseguíssemos nos encontrar, estive com medo de que Bianca acabasse descobrindo alguma coisa e por isso Petruchio não voltou a me visitar.

  Talvez devêssemos esperar a poeira abaixar.

  Com os progressos e as organizações dos protestos não tive tendo muito tempo para o visitar.

  Confesso amargamente que esses dias têm me trazido, me deixado um vazio, o apelidei carinhosamente de saudade.

  É estranho sentir falta de alguém que eu conheço há tão pouco tempo.

  Talvez ele seja mais importante do que eu admita ser.

  O sol estava alto quando nos reunimos na praça principal da cidade, Lurdes e Bárbara estavam mais que empolgadas para o discurso que escreveram durante os dias em que não nos falamos.

  Os cartazes estavam prontos e modéstia à parte, estavam lindos, as letras eram grandes e chamavam bastante atenção em suas cores escuras e intensas.

  Os dizeres "IGUALDADE" e "LIBERDADE" preenchiam tudo à minha volta. Fiquei feliz com o tanto de pessoas, especialmente mulheres que conseguimos reunir.

  A passeata começou um pouco após o sol abaixar, estávamos felizes e juntas, juntas depois de toda aquela confusão envolvendo a revista e o boicote do qual fui excluída.

  Talvez eu estivesse alucinando, mas acreditei ver Serafim num dos cantos, me observando, cheguei a me perguntar o que ele queria e estaria fazendo ali.

  Uma ilusão passou pela minha cabeça de que talvez saíssemos em sua revista, mas logo me dei conta do quão machista ele é e de que nunca promoveria nosso movimento.

  - IGUALDADE, IGUALDADE, IGUALDADE, PELO VOTO - era esse o nosso grito.

  Estávamos tão empenhadas e eu me sentia tão orgulhosa que nada seria capaz de me desestabilizar, nem mesmo as pessoas que nos olhavam com cara feia por atrapalharmos a parca tranquilidade do lugar.

  Mas então eu o vi e logo me perguntei o que estaria fazendo ali.

  Seus olhos escuros pareciam me procurar, senti um arrepio quando finalmente conseguimos nos encarar.

  A saudade que eu sentia pedia para que eu corresse ao seu encontro e a sufocasse num abraço ou até mesmo num beijo apaixonado.

  Mas o outro lado, o racional, esse pediu para que eu continuasse e foi exatamente o que fiz, sem desgrudar os olhos dele, é verdade.

  - Muito de vocês devem estar se perguntando o que estamos fazendo aqui, não é mesmo? Por que essas mulheres fazem sempre questão de atrapalhar a nossa tranquilidade com essas passeatas modernas que não nos levam a lugar algum? Bom, eu não sou a pessoa certa para lhes responder o porquê, mas lhes faço a pergunta - pausou - Por que não? - Lurdes assumiu a frente, aproveitando os olhares e as atenções completamente voltadas para ela.

  - Hoje nos reunimos aqui para mostrar o quanto somos fortes e podemos lutar pelo que queremos - continuou Bárbara.

  Um minuto de silêncio calou o grupo e só quando uma de minhas amigas me cutucou que me dei conta de que era a minha vez de falar.

  Me distrai porque ainda sentia o olhar quente dele acompanhando cada um dos meus movimentos e foi fácil e ainda assim difícil para mim admitir o quanto ele estava bonito.

  - Não pedimos nada demais - comecei e um sorriso me curvou os lábios - É tão simples, só pedimos, o que não deveríamos fazer, mas pedimos ainda assim, pedimos por ter nossa própria escolha, por ter a chance, o poder que o voto trás, afinal, como vocês, vocês homens podem saber o que é bom para nós se são homens? - perguntei - Se nunca tiveram que lutar por nada, porque sempre tiveram tudo. Nós e somente nós sabemos e queremos a chance de lutar, de fazer que é justo e do que somos capazes de fazer. Decidir sobre o nosso futuro, sobre os nossos governantes é quase como o mínimo para uma sociedade ser representada e para que seja justa. Por isso sim, somos a favor da igualdade e lutamos sim pelo poder do voto feminino - conclui.

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