POV: Petruchio
- Arri égua, seu Petruchio - levo um susto ao abrir a porta e me encontrar com Calixto sentado de mau jeito no sofá desbotado - Pensei que num voltava mais.
- Estava me esperando, é? Pois deveria muito bem ter me ajudado.
- O senhor voltou andando? Arri égua, por isso que demorou tanto.
- Ocê deixe de ser tonto, ôh Calixto, é claro que eu não vim andando, acha que eu sou doido?
- Se num veio andando, veio como? Voando?
- Ah, mas ocê tá é muito cheio das graça, não é? É claro que eu não vim voando, embora deveria muito bem fazer ocê voar para ver se para de ser besta.
- Arri, mas tudo sobra pra eu - resmungou - Eu pensei em deixar um cavalo na porteira, mas fiquei foi com medo de alguém roubar.
- Foi por isso que um amigo meu me emprestou uma bicicleta, não foi tão rápido quanto um cavalo, mas pelo menos eu num precisei andar.
- Arri, então o senhor passou a noite onde?
- Tá querendo saber demais, Calixto - tirei o chapéu e fechei a porta em seguida - Vamo tomar café, vamo - usaria isso como desculpa para distraí-lo. Comida parece a única coisa capaz de lhe fazer isso, mas acho que não tive sorte o suficiente para conseguir isso.
- Arri, se tá com fome foi porque saiu escondido. Dormiu na casa da Catarina de novo, foi?
- Arri égua, já num disse que isso num é da sua conta?
Da sala até a cozinha, Calixto foi falando em meus ouvido. Arri, parece até que tinha engolido um periquito ou um papagaio, no mínimo.
- Ocê para de falar, Calixto, para de falar que tá me deixando irritado. Essa hora da manhã e ocê já me enchendo o saco.
- Arri, eu só queria ajudar.
- Ajuda mais se ficar com a boca fechada.
- Mas ocês já vão brigar? - Neca perguntou ao nos ver entrar.
- Esse velho chato que num para de falar. Acha que meu ouvido é penico para aguentar tanta bobeira, parece que num pensa antes de falar.
- Arri, se eu contar ocê vai ter que concordar - começou a falar, desatou sem que eu tivesse oportunidade de o fazer parar - Acredita que ele dormiu de novo na casa de Catarina? Eu num quero é nem ver quando o pai dela souber disso - me empurrou para o lado antes de chegar até a mesa e se sentar - Ah, mas ele vai matar o senhor, vai fazer pior, vai é obrigar ocê casar com a fera.
- Quem disse que eu não quero me casar com ela?
- Arri égua, mas o senhor é novo demais para se prender, seu Petruchio.
- Para de se meter, ôh bode velho, ocê num sabe escolher e fica ai empatando a vida dos outros? Tá é muito certo seu Petruchio, já tá mais que na hora de casar.
Mas eu devo mesmo ter jogado pedra na cruz para merecer isso.
- Tá, tá, será que eu posso tomar café ou ocês vão me pendurar já?
Seria um sonho se eu dissesse que eles me deixaram comer em paz, mas passaram a resmungar e brigar aos sussurros, tornando tudo ainda mais chato, se não, insuportável. Mas eu tive uma noite muito mágica para ficar irritado tão rápido. Nada nesse dia me fará sentir o contrário, desfazer o sorriso imaginário.
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Entre o Amor e a Desilusão
FanficSão Paulo, anos 20. Catarina Batista é filha do banqueiro mais bem sucedido de toda a cidade, dona de uma beleza extraordinária, mas tanto quanto bonita, é teimosa e geniosa. Tem ideias modernistas e luta por elas da maneira como pode. Defende o...