Capítulo 53

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POV: Petruchio

Tenho certeza de que a careta em meu rosto demonstra todo o meu desconforto, real desgosto. Revirei minha mente, mas não encontrei motivo para uma visita tão repentina.

Limpei as mãos sujas de pó de café na camisa casta e levemente furada que uso para dormir, me adiantei e corri até a porteira.

O carro passou numa velocidade baixa assim que a escancarei, a porta de trás foi aberta e a figura bem arrumada saiu me observando com curiosidade, analisando minhas vestes e sorrindo com desdém. O que esperava, afinal? Um terno em plenas seis?

- É assim que recebe suas visitas, Petruchio? - a voz fria do Dr. Batista rompia o silêncio quase absoluto, seus olhos me analisavam e notei o quanto parecia se divertir ao me ver assim, aqui.

- Não costumo receber visitas nesse horário, o senhor me pegou despreparado - não seria destratado, não aqui.

- Acho que não houve um dia que eu tenha te visto preparado, rapaz - fechou a porta do carro e se aproximou um pouco mais.

- O que faz aqui afinal, não tinha uma viagem importante? Coisas do banco para resolver?

- Sim, ainda tenho, viajarei após resolver um assunto muito mais urgente que esse.

- E o que eu tenho a ver?

- Pretendo mesmo te contar, quem sabe você não troca de roupa e não me apresenta esse lugar?

Respirei fundo algumas vezes para conseguir me acalmar. Concordei brevemente com a cabeça e decidi facilitar, melhor saber de uma vez para enfim conseguir expulsá-lo e começar o meu trabalho. Não me lembro de ter levantado com o pé esquerdo para logo cedo ter que carregar esse fardo.

- Gostaria de entrar? Não demoro para me trocar.

- Não se incomode, espero aqui em meu carro, apenas não demore.

Passei a mão pelo meu cabelo, meu couro cabeludo parecia prestes a queimar, minha orelha, então, não sei se ainda poderia funcionar. Cerrei os dentes para não falar nada que pudesse me prejudicar. Dei as costas ao homem agora escorado no carro nem de longe popular e segui de volta para a entrada da minha casa. Será que eu preciso mesmo voltar?

Como não tinha ninguém em vista para que eu pudesse descontar a raiva que sentia, deixei que a porta batesse sem me culpar, caminhei até meu quarto e vesti a roupa que usei na tarde passada, enquanto sorria e brincava com o amor da minha vida.

Chega até mesmo parecer ironia. Nunca vou entender o poder dado à essa minha vida.

Assim que volto, encontro o Dr. Batista ainda parado, como uma das várias estátuas expostas em diversos lugares do seu jardim encantado.

- Não muito melhor - comentou.

- Não acho que tenha gasto o seu tempo vindo até aqui para me insultar, Dr. Batista.

- Tem razão, não vim - deu um passo, me instigando a seguir e mostrar o que temos por aqui - Tenho uma proposta para fazer à você, Petruchio - como continuei em silêncio, ele achou prudente prosseguir - Eu pago as dívidas da fazenda, evito que o leilão aconteça.

- Se? - Eu o interrompi, o tom desconfiado não foi difícil sair. Conhecendo como o conheço, coisa boa eu sei que não posso esperar. Dele não vai vir.

- Se você se afastar da Catarina.

...

POV: Catarina

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