Capítulo 28

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POV: Catarina

Isso não estava acontecendo.

Meu coração estava tão acelerado que parecia um novo membro, querendo invadir ou sair pelo meu peito.

Eu não soube o que responder, por um momento toda a saliva da minha boca pareceu desaparecer.

Seus olhos me encaravam, ansiosos, mas não me apressavam.

Ele sabia e acredito que sentia quais eram as minhas inseguranças, os meus medos. Eu realmente estaria pronta?

- Sim - sussurei tão baixo, me aproximando, tocando seu rosto com a ponta do meu nariz.

Meus olhos se fecharam ansiando pelo beijo que não demorou a surgir.

Sua mão deslizou por meu rosto e nesse momento não soube dizer o que havia sido feito do sorvete praticamente inteiro que há pouco, perdemos.

A delicadeza com que seus lábios tocaram os meus me fez flutuar, atingir um paraíso muito acima de mim.

Tão breve quanto iniciado, o beijo não foi muito aprofundado, estávamos num local público, portanto, não poderíamos prolongá-lo.

- Intão, namorada - a palavra ganhando novas formas na sua voz quase enfeitiçada. Aveludada.

- Se for ficar me chamando assim, desfaço o namoro agora mesmo - sorri.

- Tá bom, favo de mel, ocê pode me dizer agora o por quê ficou tão braba? Não pode ter sido só por causa da sua irmã, Bianca - apontou.

Ele realmente me conhecia ou eu não me escondia?

- Não fiquei brava, fiquei furiosa.

- Não consigo imaginar o que possa ter acontecido para te deixar tão irritada - brincou e aproveitou a proximidade para ajeitar alguns fios de meu cabelo soltos e espalhados por meu rosto.

- Papai - suspirei novamente, estava buscando toda a minha calma - Você acredita que ele teve a coragem de me dizer que eu não faço mais nada a não ser gastar o seu dinheiro? Poxa, Petruchio, eu me esforço tanto, sabe? Não pelas causas que ele acredita, mas pelas minhas causas, eu faço da mesada que ele me dá uma tremenda economia, e sem me queixar. Hoje de manhã, quando pedi para que me ensinasse a trabalhar no banco, parecia que eu estava prestes a cometer um dos piores crimes do mundo. Eu acho um cúmulo ele não me emprestar o carro, não permite que eu tenha aulas de direção. Não quero passar a vida inteira atrás de um fogão, lavando calção ou sei lá - respirei fundo, tentando recuperar o fôlego para conseguir terminar de falar - Fazendo qualquer outra coisa que todas elas fazem.

- Favinho - suspirou pegando minha mão, e nesse momento não me importei que a sua estivesse colando, grudando devido ao doce do sorvete derramado no chão - Nem todo mundo pensa como ocê. Ocê é muito para frente e eles temem isso, eu também temi. Querendo ou não, isso assusta, ocê é independente, tem resposta para tudo quanto é pergunta, não se deixa enganar pelas palavras bonitas e cruas, muitos homens realmente não estão a sua altura, eu não estou a sua altura, mas ainda assim, ocê continua buscando e lutando por aquilo que acredita, não vai ser fácil, nada é fácil. Mas ocê é forte o suficiente para vencer. E eu acredito nocê.

Não era apenas por isso que ele me fazia sorrir. Não apenas pelas palavras, mas pela verdade nelas que cheguei a sentir.

Algo nele me faz tão feliz, me deixa leve e mesmo que seja muito mais difícil admitir, eu nunca desejei tanto algo como continuar dividindo meus dias e vê-lo sorrir.

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