Capítulo 31

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POV: Petruchio

  - Está com ciúmes, Petruchio? - Catarina me perguntou.

  Seu queixo estava arqueado, assim como o seu nariz sempre, sempre empinado, desaforado. Seus olhos me encaravam e dentro deles eu era capaz de enxergar o próprio desafio, se não a própria convicção.

  Ela não precisava da minha resposta, porque ela já sabia, pelo que a conheço, ela já tinha a mais absoluta certeza!

  - Eu? Com ciúmes? - perguntei de volta, não poderia admitir assim, tão fácil.

  - Sim, você - concordou e um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios.

  Não sei se ela sabe o efeito que o seu sorriso me causa. É devastador de tão intenso, de tão profundo, de tão verdadeiro, de tão...

  Arri égua.

  - Não - menti.

  Catarina me olhou desconfiada, as sobrancelhas arqueadas, como se não acreditasse em minhas palavras, a verdade é que ela sabia bem, já me conhecia muito bem.

  - Jornalista Serafim está vindo pra cá - informou. Era como se o destino quisesse me testar.

  - O quê aquela salsicha - comecei calmo, mas no meio da frase minha voz já estava alterada pela irritação. Não pude terminar de falar, pois fomos interrompidos logo pela sua chegada.

  - Catarina Batista, que honra revê-la depois de tanto tempo. Como vai?

  - Muito bem, obrigada. Já te apresentei o Petruchio? - apontou gentilmente para mim.

  - Não é necessário, meu maxilar já foi muito bem apresentado ao punho dele - riu baixo, não parecia irritado.

  Mas eu estava, eu estava muito irritado com a cara de pau daquele canalha. Será que ele não percebia que estava nos atrapalhando?

  - A senhorita ainda não me disse se aceita escrever um artigo para a minha revista. Lembra-se que conversamos sobre isso esses dias?

  - Sim, me lembro e agradeço muito, mas ando tão ocupada que não consigo pensar em escrever muitas coisas, na verdade não vejo sobre o quê falar num artigo para a sua revista, afinal você vai contra tudo o que eu acredito.

  - Ora, Catarina, já disse que podemos mudar isso.

  Não notei o momento em que minhas mãos se fecharam, eu fazia tanta força para mantê-las abaixadas, longe do pescoço daquele homem em forma de salsicha que até sentia meus músculos reclamando.

  - E eu já disse que não estou interessada. Com licença - senti sua mão quente e delicada em meu braço, trazendo não só toda eletricidade do toque, como toda a calma de volta.

  Ela tinha o poder de me irritar e de me acalmar, talvez não fosse o único com um dom, afinal.

  - Depois diz que não sente ciúmes - riu.

  - Isso ocê já sabe, por que é que é que tem que perguntar?

  - Porque eu só posso ter certeza se você me contar.

  - Há coisas que eu tenho certeza e que ocê ainda não me contou.

  - Como o quê, por exemplo?

  Não reparei, mas já estávamos novamente do lado de fora da casa.

  Não foi proposital, por mais que eu quisesse afastá-la de todos aqueles olhares, nós realmente precisávamos comer alguma coisa. Ela precisava comer alguma coisa.

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