POV: Petruchio
- Está com ciúmes, Petruchio? - Catarina me perguntou.
Seu queixo estava arqueado, assim como o seu nariz sempre, sempre empinado, desaforado. Seus olhos me encaravam e dentro deles eu era capaz de enxergar o próprio desafio, se não a própria convicção.
Ela não precisava da minha resposta, porque ela já sabia, pelo que a conheço, ela já tinha a mais absoluta certeza!
- Eu? Com ciúmes? - perguntei de volta, não poderia admitir assim, tão fácil.
- Sim, você - concordou e um pequeno sorriso surgiu no canto de seus lábios.
Não sei se ela sabe o efeito que o seu sorriso me causa. É devastador de tão intenso, de tão profundo, de tão verdadeiro, de tão...
Arri égua.
- Não - menti.
Catarina me olhou desconfiada, as sobrancelhas arqueadas, como se não acreditasse em minhas palavras, a verdade é que ela sabia bem, já me conhecia muito bem.
- Jornalista Serafim está vindo pra cá - informou. Era como se o destino quisesse me testar.
- O quê aquela salsicha - comecei calmo, mas no meio da frase minha voz já estava alterada pela irritação. Não pude terminar de falar, pois fomos interrompidos logo pela sua chegada.
- Catarina Batista, que honra revê-la depois de tanto tempo. Como vai?
- Muito bem, obrigada. Já te apresentei o Petruchio? - apontou gentilmente para mim.
- Não é necessário, meu maxilar já foi muito bem apresentado ao punho dele - riu baixo, não parecia irritado.
Mas eu estava, eu estava muito irritado com a cara de pau daquele canalha. Será que ele não percebia que estava nos atrapalhando?
- A senhorita ainda não me disse se aceita escrever um artigo para a minha revista. Lembra-se que conversamos sobre isso esses dias?
- Sim, me lembro e agradeço muito, mas ando tão ocupada que não consigo pensar em escrever muitas coisas, na verdade não vejo sobre o quê falar num artigo para a sua revista, afinal você vai contra tudo o que eu acredito.
- Ora, Catarina, já disse que podemos mudar isso.
Não notei o momento em que minhas mãos se fecharam, eu fazia tanta força para mantê-las abaixadas, longe do pescoço daquele homem em forma de salsicha que até sentia meus músculos reclamando.
- E eu já disse que não estou interessada. Com licença - senti sua mão quente e delicada em meu braço, trazendo não só toda eletricidade do toque, como toda a calma de volta.
Ela tinha o poder de me irritar e de me acalmar, talvez não fosse o único com um dom, afinal.
- Depois diz que não sente ciúmes - riu.
- Isso ocê já sabe, por que é que é que tem que perguntar?
- Porque eu só posso ter certeza se você me contar.
- Há coisas que eu tenho certeza e que ocê ainda não me contou.
- Como o quê, por exemplo?
Não reparei, mas já estávamos novamente do lado de fora da casa.
Não foi proposital, por mais que eu quisesse afastá-la de todos aqueles olhares, nós realmente precisávamos comer alguma coisa. Ela precisava comer alguma coisa.
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Entre o Amor e a Desilusão
FanficSão Paulo, anos 20. Catarina Batista é filha do banqueiro mais bem sucedido de toda a cidade, dona de uma beleza extraordinária, mas tanto quanto bonita, é teimosa e geniosa. Tem ideias modernistas e luta por elas da maneira como pode. Defende o...