POV: Petruchio
Não demorou para que eu estivesse com os lábios colados aos seus de novo e de novo e de novo.
Um vício que eu nunca colocaria fim.
O sabor sempre tão doce, o frescor sempre tão instigante, a sensação nenhum pouco apavorante, mas intensa, completava aquilo que eu sentia faltar em mim.
Nossos lábios já se conheciam, sabiam onde tocar, a hora certa de se curvar, provar, instigar, beijar com o corpo e com o coração. E eu sempre sentia o coração.
Ele batia rápido, em completo descompasso, mas no compasso embalado pelo nosso real longe do imaginário.
Notei que seus braços estavam arrepiados e perguntei baixo ao afastarmos nossos lábios:
- Ocê num tem roupa de frio, não?
- Por quê? - perguntou, mantinha a sobrancelha arqueada, curiosa, quase desconfiada.
- Arri, num tem uma noite que ocê num fique com frio, vai acabar pegando um resfriado.
- Deixe disso, é muito raro que eu fique doente, não precisa se preocupar - notei de pronto o seu nariz empinado, mas não era um desafio - Vaso ruim não quebra, sabia? - inclinou a cabeça levemente para a esquerda, fazendo com que um calor intenso invadisse o meu peito por inteiro.
Sei que poderia abraçá-la e acabar momentaneamente com o frio, foi isso o que mais quis fazer naquele momento.
- E sim, eu tenho roupas de frio, Petruchio - revirou os olhos, quase indignada para a pergunta (in)fundada.
Seus olhos brilharam na luz parca da lua bem iluminada, um sorriso escapou de meus lábios sem que eu previsse o seu rápido abraço.
Envolvi e acolhi seu corpo, o apertando contra o meu. Não havia mais frio quando o seu corpo inteiro me acolheu. Nós nos acolhemos e nos moldamos naquela imensa bolha.
- Obrigada por se preocupar comigo - sussurrou tão baixo, me trazendo um sentimento de completa felicidade.
Eu a mantive em meus braços por um tempo que não pôde ser calculado.
- Então, ocê estava falando sério quando disse que iria levar o Buscapé para tomar sorvete amanhã?
- Eu sempre falo sério, Petruchio.
- Claro que fala - sorri - Está ansiosa para o baile, já está chegando, não é? Ocê num vai ficar com vergonha de mim? - questionei.
- Vergonha de você? Por que eu ficaria com vergonha de você, Petruchio? - pela primeira vez, se afastou um pouco, encarando meus olhos, mas sem desconforto.
- Num sei - dei de ombros, desviando meus olhos dos seus - Ocê vai dar uma festa para pessoas importantes, seus amigos vão estar lá, seu pai, sua irmã, minha fantasia não vai ser a mais chique do lugar, vão se perguntar o que é que eu vou estar fazendo lá.
- Ah, Petruchio, por favor - suspirou - Não ligo para o que as pessoas pensam, tenho certeza que vai estar incrível com qualquer fantasia, sendo ela a mais simples ou não. O que me importa é a sua presença. E eu nunca sentiria vergonha de você, mas de toda forma, ninguém vai reparar em outra fantasia que não seja a minha - riu baixinho - Papai vai detestar o escândalo quando todos me virem usando calças e não saias.
Nesse momento a olhei completamente chocado, não assustado, mas surpreso, muito surpreso para falar a verdade.
- Ocê vai usar calças?
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Entre o Amor e a Desilusão
FanfictionSão Paulo, anos 20. Catarina Batista é filha do banqueiro mais bem sucedido de toda a cidade, dona de uma beleza extraordinária, mas tanto quanto bonita, é teimosa e geniosa. Tem ideias modernistas e luta por elas da maneira como pode. Defende o...