Capítulo 27

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POV: Petruchio

  O galo cantou cedo, cedo como sempre.

  Levantei disposto a iniciar mais um dia, me espreguiçando antes de trocar de roupa e seguir até a cozinha, onde Neca já preparava o café.

  - Bom dia.

  - Bom dia, Neca - sorri observando sob seu ombro o que tanto mexia na panela em cima do fogão.

  - O senhor esqueceu de entregar o chapéu da moça - apontou para a mesa, onde o chapéu vermelho de Catarina estava apoiado.

  - Arri égua, ela esqueceu de pegar ontem - caminhei até ele, o pegando, o sentindo em minhas mãos.

  Levei o chapéu até o nariz e senti o cheiro único de seu cabelo, suspirei inundado de sentimentos e saudade.

  - Parece um chapéu muito caro, ela vai sentir falta.

  - Vai sim - comentei - Vou levar pra ela hoje.

  - O senhor vai encontrar ela de novo? - perguntou deixando a panela e se virando bruscamente para mim - Depois diz que não quer casar - resmungou baixo.

  - Num disse que não quero, disse que não sei se vou casar - respondi mau humorado.

  Tocar nesses assuntos, assuntos dos quais não tinha total controle em decidir era doloroso e ainda assim complicado, era um terreno que eu não tinha nenhuma noção de como andar.

  - E o senhor quer, então? - sorriu, um daqueles sorrisos que valem um milhão.

  - Arri, tá obsessiva com essa história agora, Neca? Tá pior que o Calixto.

  - Arri, mas eu nem levantei e ocê já tá falando mau de mim - apontou na porta.

  O chapéu em mãos, a calça amarrada na cintura, já completamente vestido e arrumado.

  - Não estávamos falando mau de ocê, velho rabugento - Neca interveio.

  - Ninguém falou com ocê não, velha seca.

  - Arri égua, ocês parecem é duas crianças - interrompi - Por que que não se casam de uma vez? Brigam todo santo dia.

  - Arri, só porque ocê tá apaixonado, num quer dizer que todos nós esteja também - resmungou mau humorado.

  Neca terminou de montar o café e se sentou para nos acompanhar.

  Estranhei Lindinha não estar na mesa para comer conosco, mas também não perguntei se lhe tinha acontecido alguma coisa, Calixto estava tranquilo, não estaria assim se algo ruim tivesse acontecido.

  Terminamos o café em silêncio, voltei para o quarto e terminei de me arrumar, separei uma roupa limpa de trabalho e acompanhei Calixto até o galpão, onde fizemos mais alguns bons queijos.

  Enquanto nossa nova partida secava e ganhava sabor, arrumamos os que seriam vendidos na carroça e partimos acompanhados pelo sol.

  O dia estava bonito e quente, quente e propício para um bom sorvete.

  No caminho para a cidade, Calixto se manteve silencioso, estranhei e quis perguntar o que o estava preocupando, mas achei melhor não tocar no assunto e atiçar o marimbondo.

...

POV: Catarina

  Acordei pela primeira vez naquela semana - e talvez na minha vida inteira - cedo, sem que ninguém invadisse meu quarto e precisasse me tirar as cobertas.

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