POV: Catarina
- Se não, eu me caso mesmo assim - afirmei e consegui evitar sorrir. Eu ainda sentia o olhar de Petruchio sobre mim. A tensão que ele emanava, também chegava até mim.
Não é uma afronta e eu espero que papai não leve como tal, é uma decisão, apenas a minha vontade. Talvez tenha se tornado uma necessidade.
E não, não interprete essas palavras como submissão ou rendição, estou apenas seguindo o meu coração, e querendo ou não, no mundo em que vivemos, eu acabo ficando sem tanta opção. Por que deixei que ele me tirasse toda a razão?
Mas acho que nunca tive o poder para tal persuasão.
Afinal, não foi para isso mesmo que eu tanto lutei? Para ter o poder de tomar minha própria decisão, sendo ela boa ou não.
Papai estava prestes a argumentar quando minha irmã se levantou e praticamente pulou para tentar me ajudar, seus olhos brilhavam mais do qualquer estrela, tamanha a sua, por que não dizer, gentileza?
- Papai, por favor, não vamos brigar. Vamos comemorar - interveio Bianca - Catarina quer se casar. Finalmente se casar.
Juro, pensei que após dizer isso, ela fosse começar a dançar. Será que eu devo começar a me preocupar?
- E você acha que eu devo comemorar? Devo realmente comemorar? - perguntou com os olhos agora totalmente voltados e prontos para me analisar.
- Não é o que o senhor sempre quis? - não consegui evitar. A pergunta saiu antes mesmo que eu pudesse pensar.
- Sim, mas...
- Então está decidido, não se briga mais por isso - a interrupção de Bianca foi sutil como um sino - Mimosa, Mimosa - começou a gritar.
A governanta que até então não sabia sobre a nossa "reunião", se aproximou assustada, juro que mesmo de longe, consegui ouvir seu coração e sua respiração acelerada.
- Por favor, nos traga o melhor espumante da casa. Catarina vai casar - abriu os braços, me fazendo dar um passo para o lado, evitando o possível impacto. Nunca vi minha irmã tão empolgada.
- Noivar - corrigiu papai com a cara emburrada.
- Ele te deu um anel? Eu posso ver? - Bianca se aproximou novamente para me abraçar - Estou tão feliz, Catarinaaaa - sua voz fina nas vogais estendidas ardiam mais do que álcool em cima de uma ferida.
- Estou vendo, Bianca, estou vendo.
A risada baixa de Petruchio não foi comentada, mas posso deixar claro que por mim, não foi ignorada, eu a sentia na minha alma.
- Podemos fazer uma festa - planejou Bianca enquanto puxava e analisava o anel em minha mão - É tão bonito, Catarina!
- Onde conseguiu dinheiro para um anel? Sua fazenda não está sendo leiloada?
- Papai, não seja rude - repreendi de antemão.
- Me desculpe, não era essa a minha intenção.
- O anel era da minha avó - Petruchio respondeu e sei que foi por pura educação.
Mimosa voltou com as taças e Bianca nos serviu com bastante animação.
- Podemos pensar na festa assim que eu voltar de viagem - concordou por fim, enquanto aceitava e degustava o líquido ainda borbulhante dentro da taça. Acho que o sabor misturado ao frescor, modificou um pouco o seu humor.
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Entre o Amor e a Desilusão
FanfictionSão Paulo, anos 20. Catarina Batista é filha do banqueiro mais bem sucedido de toda a cidade, dona de uma beleza extraordinária, mas tanto quanto bonita, é teimosa e geniosa. Tem ideias modernistas e luta por elas da maneira como pode. Defende o...