Prólogo.

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Rachel se sentava temerosa na sala de audiência olhando em volta, não via muitos rostos amigáveis a ela ali, somente o de Layla sua irmã e Phill seu melhor amigo que tinham feito questão de estar ali para lhe prestar todo o apoio necessário. Ela apertava as mãos uma na outra e ocasionalmente enrolava uma mecha de cabelo nervosa e apreensiva com o desenrolar de tudo aquilo.

Ela trabalhava como contadora em uma grande empresa de contabilidade em São Francisco, tudo corria bem até que cerca de um ano atrás o seu chefe um homem profissional e gentil se aposentou e o filho assumiu a empresa, Curtis no início parecia jovem e cheio de boas ideias, mas logo percebeu que se enganar a amargamente com ele. Em pouco tempo ele se mostrou um ser desprezível, destratava os funcionários, humilhava as pessoas, tinha atitudes machistas, racistas e toda a sorte de atitude nojenta e preconceituosa que se possa imaginar. Ficava falando que mulheres não tinham competência para trabalhos complexos e que não eram boas com contas, era anti-espécies, falava que todos que trabalhavam pra ONE eram traidores da própria raça e que eles eram uma afronta a natureza. Ele era nojento.

O homem virou um pesadelo na empresa, gritando e destratando a todos, ate então era desagradável, mas nada que não pudessem suportar pelo salário que recebiam, a coisa piorou quando ele começou a assediar sexualmente as funcionárias, piadas de mal gosto, fazendo de tudo para roçar nelas e coisas do tipo.

Algumas começaram a se demitir ou serem postas pra fora da empresa e as demais ficavam acuadas e temerosas, entre elas Rachel que tentava ao máximo ficar longe dele que sempre dava um jeito de encostar nela. Um dia ele a chamou no seu escritório e lhe ofereceu um aumento se dormisse com ele, se recusou prontamente e ele passou a fazer da sua vida um inferno, ameaçou demiti-la se não cedesse a ele, até que um dia ele tentou agarra-la, por pouco se salvou. Aquilo a deixou atordoada e amedrontada, foi imediatamente na delegacia para prestar queixa, o delegado olhou para o policial atrás dela e falou

- Olha só Stan mais uma querendo tirar dinheiro de um homem rico. – O policial a olhou sério. – Olha aqui bonitinha você não pode dormir com chefe esperando benefícios e o caluniar quando não consegui-los.

Quando o homem falou ela não resistiu e lhe deu um tapa no rosto, o que lhe rendeu ter a cara enfiada na mesa enquanto o policial roçava no seu traseiro ao algema-la. Agora ela estava sentada no banco das testemunhas em um tribunal que deveria julgar o assédio, mas quem estava sendo julgara era ela.

- Senhorita White. – O advogado de Curtis se levantou. – A senhora falou que vinha sofrendo assédio na empresa?

- Sim, não somente eu, várias outras mulheres também. – Ela respondeu. 

 - Mas, você nunca denunciou? – O homem a olhava com desprezo. – Nunca comentou o fato antes do dia da denúncia. 

- Eu precisava do emprego. - Ela falou na defensiva. 

- E não precisa mais? – Seu tom era sarcástico. 

- Ele tentou me estuprar. – Sua voz saiu entrecortada, sentia-se enojada só de lembrar dos acontecimentos do dia em questão. 

- Me diga senhorita White. – Continuou depois de alguns instantes em silêncio. – Não é verdade que quatro anos atrás a senhora sofreu um acidente de trânsito que resultou em uma extensa cirurgia e que a senhorita ainda tem dívidas no banco do empréstimo que fez para pagar as despesas médicas?

- Sim, não entendo o que isso tem haver com o meu depoimento. – Ela disse confusa. 

- Protesto. – Seu advogado se levantou, mas o juiz deixou prosseguir. 

- Não é verdade que a senhora desenvolveu dependência a opioides como decorrência desse acidente. – Rachel travou o maxilar enfim entendendo onde ele queria chegar. 

- Eu me tratei. – Ela disse entre dentes. 

- Então a senhora não estaria estressada, cheia de dívidas e lutando contra uma dependência? - Perguntou ele incisivamente. 

- Não, eu tenho tudo sobre controle. - Ela falou. - Estou livro dos opioides tem mais de dois anos. 

- E pode me dizer que a indenização de um processo por assédio não ajudaria?

- Protesto conduzindo a testemunha. – Dessa vez o juiz aceitou. 

- Peço que desconsiderem a última pergunta. – Disse para o juiz. - Sem mais perguntas. – O advogado de Colins se afastou com um sorriso no rosto, ele não pretendia que ela respondesse a pergunta, apenas queria deixar a duvida na cabeça do júri. 

 Pelas próximas horas Rachel ficou sentada ouvindo testemunhas falarem e falarem, sobre como o chefe era duro e muitas vezes abusivo, as mulheres demitidas não se pronunciaram, provavelmente assinaram algum tipo de acordo já que ele tentou fazer isso com ela. Teve que se manter calada enquanto ouvia as alegações finais do advogado, fazendo os funcionários parecerem preguiçosos e por isso insatisfeitos com um chefe duro e ela parecer uma aproveitadora que só queria tirar dinheiro de um homem rico e inocente. Por fim ouviu que o homem que a destruiu tinha sido inocentado das acusações, ficou sentada vendo ele sair vitorioso com um sorriso nós lábios. Ele parou em frente a ela e falou. 

- Eu sou um homem jovem, rico e bonito, tenho a mulher que eu quero nas minhas mãos. – Falou em um tom superior. – Acha mesmo que iam acreditar que eu iria querer agarrar uma funcionariazinha insignificante como você? – A olhou com desprezo. 

- Seu. – Ela tentou se mover mas seu advogado segurou seu braço e falou lhe calando. 

- Não diga nada. – Ele disse em um sussurro. – Ele quer que você o agrida para lhe processar.

- Você devia me agradecer por não lhe processar sua cadela. – Se virou e saiu. 

Rachel apoiou os cotovelos na mesa e desceu o rosto de encontro às mãos chorando, sentiu mãos delicadas e firmes lhe tocando e sabia que era sua irmã, mesmo sem o seu perfume de Jasmim característico, desde que começou a trabalhar para a ONE Layla perdeu o hábito de usar perfume, aquilo agride os narizes sensíveis dos Nova Espécie. 

- Vai ficar tudo bem. – Ouviu a voz suave da sua irmã e sabia pelo seu tom que ela estava furiosa. 

- Homens poderosos conseguem o que querem sempre não é? – Levantou o rosto banhado em suor. – Ele não conseguiu me foder de um jeito, mas arrumou outra maneira de fazê-lo. - Layla a abraçou apertado dando todo o consolo que poderia naquele momento. 


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Sabe o que mais me irritou escrevendo esse prologo? Pensar que coisas assim acontecem todos os dias nesse mundo. saber que existem muitas Rachel por ai, que as vezes mesmo com provas não encontram justiça. 

Agora a história da Rachel se inicia. 


Leo - Uma História Nova Espécie (Completa)Onde histórias criam vida. Descubra agora