Capítulo 8

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Amanheceu um dia ensolarado porém fresco, era as maravilhas da primavera em um lugar tão sufocante e barulhento. Era o aniversário de uma pequena e agitada criança, que corria por sua pequena casa animada, descendo e subindo as escadas em pequenos pulinhos. Era seu aniversário de nove anos. Datas como aquela não eram comemoradas no lugar em que vivia. Não para ela, criança. Fêmea.

Os pássaros cantam do lado de fora, sentia suas energias quase que seu sangue circulando se fizesse um pequeno esforço, que lhe causava uma careta apertando as sobrancelhas com força e comprimindo seus lábios. Morava em uma das casas mais afastadas de onde ocorriam os treinamentos dos guerreiros que ali vivia, da sua janela nos fundos via mais do que outras casas tinha a paisagem para apreciar. Entretanto ela não permanecia muito ali, atravessava todo lugar para o outro lado o mais afastado possível de todo aquele barulho. Para perto das montanhas em campos abertos, e nessa época do ano com o gramado alto e dentes de leão espalhados. Sentia a energia ali de maneira leve e completamente liberta sem medo do que poderia sentir. Era feliz. 

Era cedo e sua mãe estava na cozinha já preparando sua comida, era algo especial por ser aniversariante. Sua mãe era absolutamente encantadora, se alguém não achasse a pequena tinha certeza que era alguém em delírio, seus cabelos eram pretos e longos -como o da pequena- eram esvoaçantes ficavam ainda mais lindos quando o vento ameaçava em os bagunçar, olhos escuros como a noite, porém mais brilhantes que a noite, quase sempre tristes mas quando olhavam sua filha demonstravam uma felicidade genuína acompanhada de seu sorriso largo e doce. Ayla se sentia abençoada por a ter como mãe, por sentir genuinamente suas emoções reconfortantes, quando sentia a energia e emoções de sua mãe direcionada se sentia leve um sentimento que a fazia pensar ser privilegiada. Não ousava sentir em outros momentos, quando seu pai estava em casa ou quando via qualquer outro guerreiro, ela vivia suprimindo suas habilidades por medo dos pesos que poderia sentir novamente. Os sentimentos que sua mãe lhe passava a permitia escutar seu coração mais que isso a permitia senti-lo a cada batida, sentiu seu corpo se aquecer com aquele sentimento leve e verdadeiro que era derramado sobre si. 

- Não!- Sua mãe disse com um sorriso onde seus olhos se estreitaram. A pequena queria novamente atravessar o acampamento illyriano ir para as montanhas novamente, para o lugar que falava por horas e horas com empolgação, mesmo que sua voz ficasse rouca e sua respiração falha ela continuava com a mesma energia de quando havia começado falar sobre. Era perigoso para uma pequena fêmea sair por aí, principalmente no lugar em que viviam, mas lá a pequena não precisava lutar com todos seus instintos para controlar suas habilidades. Ayla olhava intensamente para sua mãe enquanto ganhava um semblante triste, que sua mãe sabia estar fingindo na tentativa de convencê-la, o que lhe causou uma risada baixa- Tudo bem, pode ir hoje mas tome cuidado!

-Obrigada mamãe- A pequena Ayla pulou no abraço de sua mãe que estava abaixada para ficar à sua altura- Prometo lhe contar todos detalhes quando chegar.

-Claro que contará- Sua mãe gargalhou baixo. Manteve seus olhos na pequena enquanto passava suas mãos pelo cabelo dela, a olhava com carinho e um sorriso sem dentes, seu indicador deu um leve tapinha no nariz causando uma risadinha doce e divertida em Ayla mostrando seus dentes e a falta de uns- Amo você!

- Amo você mamãe- Ayla sussurrou de volta passando seus pequenos e finos braços ao redor de sua mãe a apertando com toda força e recebendo o mesmo de volta.

Correu por todo acampamento incansavelmente, passou por todos aqueles guerreiros altos e suas grandes asas ainda mais rápido, seu fôlego estava cansado pela corrida e por ter parado de respirar inúmeras vezes na tentativa de segurar seus poderes não sentindo a energia. Mas não ali, estava livre, podia sentir tudo.

Corte de Sombras e CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora