Corte de Sombras e Cicatrizes

Capítulo 13

Lutava para manter seus batimentos regulares, e o frio que subiu por sua espinha não vinha das baixas temperaturas do local, e por mais que seu corpo tentava ignorar os assombros do medo ele ainda insistia em estremecer a cada passo mais próximo. Voar justamente naquele lugar, em seu lugar favorito de infância, de memoriais que iam às alturas, a apavorava, mas escondeu isso com seu humor e sorriso sarcástico. 

-Cuidados onde coloca suas mãos mestre espião - com a voz carregada de sarcasmo e um sorriso travesso se aproximou, Azriel se manteve sério, talvez já a conhecesse o suficiente para saber que seu humor ácido era sua arma de defesa emocional. 

Ele apenas fez um leve sinal com a cabeça pedindo permissão para a pegar no colo, e mesmo que um pouco hesitante ela o concedeu, qualquer sinal de sarcasmo se esvai no ar. A brisa movimenta o gramado enquanto as mãos de Azriel envolvem seu corpo deslizando sua mão calmamente como em uma pergunta silenciosa se era para prosseguir. A segurou firme e conseguia ouvir seu coração batendo forte, mas a mesma já havia escondido o próprio rosto na curva de seu pescoço, não conseguia ver seus olhos. Ficaram assim por alguns minutos, ele esperava seu fluxo sanguíneo se acalmar assim como seu coração, e quando se fez um aviso prévio foi dado e é em segundos já estavam aos céus. Suas mãos eram firmes, enquanto o vento gelado soprava de maneira delicada por conta da velocidade moderada que ele mantinha, seu corpo estava tenso e por mais que lutou contra as lágrimas não conseguiu evitar molhar a curva do pescoço do mestre espião. Sentiu o toque dele mais próximo e firme do que nunca, não ousou reclamar das unhas que perfuravam seus ombros, apenas a abraçou e ficou em silêncio. Agora ele tinha certeza que os tremores de seu corpo não eram por conta do frio. A promessa se cumpriu, atravessaram quando foi possível, apenas com breves palavras para sinalizar a ela que usasse os seus poderes de travessia enquanto ele os direcionava. Um leve sorriso brotou em seus lábios sem que o outro soubesse com a familiaridade daquele ato - agora pacífico. 

Demorou uns segundos até que ela entendesse que estavam novamente no chão, lentamente ele a soltou enquanto ela se recuperava novamente se acostumando, com a brisa a balançar os galhos ao vez de chiar em seus ouvidos. O silêncio se pendurou em frente a entrada da cidade escavada, nenhum sinal de vigias à volta, mas era notável os feitiços de proteção e bloqueio ali. Um leve burburinho também os alcançava ali, mas era muito baixo para competir com os sons da noite. 

-Pode ficar mais um pouco se quiser se recuperar, temos tempo até a reunião - Azriel a observava com cautela. 

Uma lágrima escorreu pelas bochechas dela, as quais foram rapidamente arrastadas para longe, assim como seu olhar assustado. Dando lugar para um olhar duro.

-Está tudo bem…

-Estou bem, não posso ser fraca, não tenho esse direito - Ayla o olhou profundamente com o maxilar travado - Vamos para dentro.

Estava com tanta raiva de si mesma por ter demonstrado fraqueza. Ayla temia que ele pudesse desconfiar de seu passado, de sua origem, um mestre espião da corte noturna com certeza era impecável em observar e deduzir.

Balançou de leve sua cabeça se livrando de seus devaneios, parando em frente a entrada da cidade escavada, com Azriel ao seu lado. A energia era pesada, internamente se concentrava para desligar seus poderes como empata, não fazia questão de sentir todas emoções e energias que vivessem dali. Poderiam ser pesadas demais, descontrolando o resto de seus poderes, só a imagem de perder o controle em um lugar com tantos seres a faz arrepiar. 

Você tem controle - as sombras sibilam a fazendo sorrir levemente, não costumam ser gentis, seus comentários se mantém mortíferos em palavras soltas. Ou segredos. 

-Obrigada por cumprir com a promessa - Ayla fala tão baixo, diferente de seu usual tom imponente, que se não fosse pelos ouvidos de um espião talvez ele não a tivesse ouvido.