Capítulo 16

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Tudo estava escuro. Seu corpo formigava, mas não conseguia se mexer, flutuava dentro do nada, em meio a uma imensidão sem luz. Talvez tivesse morrido, cogitou. 

Era difícil enxergar suas sombras ali mas, ainda eram parte dela ainda estavam ali, Ayla ainda era a encantadora de sombras. Aquelas sombras ainda a pertenciam, então estava viva, caso contrário elas teriam ido para algum inferno em busca de outro encantador. 

Fôlego lhe faltava, as sombras escorregava por uma linha tênue de seu controle, não sabia mais o que era o que era sentir seu corpo mas podia jurar um arrepio subir por sua espinha vez ou outra, escutava vozes também, várias. Mas uma voz doce e baixa fazia seu corpo gelar, mas não era uma reação provocada por seu medo, mas sim das sombras. 

Morte - elas sussurram. 

Nem se quer sabia que elas poderiam sentir algo tão mortal quanto o medo, mas para ela aquilo era medo. Talvez fosse o sentimento das sombras transferido para seu corpo mortal que gerasse tal sentimento. Mas ainda assim era agonizante, ela estava impossibilitada de fazer ou dizer algo. Naquele momento quase sempre seu corpo entrava em inércia e ela não sentia nada. Mas tinha seus pesadelos, e quando vinham ela sentia demais.

-Por favor me salve - Uma voz, velha conhecida, fez seu coração parar.

Em um piscar de olhos não estava mais naquela imensidão sem luz, mas sim em um lugar de suas antigas memórias, lembradas demais para sua infelicidade, mesmo sem saber o quão real aquilo era seus pés exigentes adentraram a floresta escura e enevoada. Era fria e silenciosa, diferente do que se lembrava, não era real, soube disso por conta da diferença com o dia verdadeiro daquela memória, mas ainda assim a familiaridade machucou e sabendo exatamente para onde estava indo ela prosseguiu.

-Mestra - sua voz saiu em um sussurro rasgado. 

Uma fêmea que conhecia muito bem estava de costas abaixada, mas ainda assim a reconheceria em qualquer lugar, sua pele negra em um tom escuro e lindamente luminoso, estatura alta e curvilínea, seus cabelos castanho e crespo curtos em uma altura que permitia aparecer nitidamente suas orelhas pontudas, era dolorosamente familiar. Quando se virou Ayla encontrou seus olhos que eram normalmente pretos como o dela, mas agora estavam inteiramente assim, não apenas a íris mas todo o glóbulo ocular. Seu sorriso largo que tanto amava não estava ali, em vez disso os lábios carnudos se encontravam entre aberto com sangue escorrendo e manchando sua armadura cinza escuro. 

-A culpa é sua - gritou com uma voz diferente do que se lembrava, agora soava rasgada e em um tom grave - Por que não consegue controlar, pequena aberração.

Não era ela, era apenas a imagem dela, sua mestra jamais teria dito aquilo, por mais que achasse que merecia. Seu coração parecia querer sair para fora de seu peito, as sombras que só agora haviam notado rodeavam a floresta insensatamente causando uma ventania que balançava as árvores e seus cabelos de modo desregular, lágrimas já escorriam por seu rosto e sua garganta tinha um peso difícil de ignorar.

-Perdão - sussurrou Ayla quase que sem conseguir ouvir a própria voz.

-Aberração! - a imagem de sua mestra gritou - É sua culpa.

Lágrimas escorriam por sua bochecha e sua visão estava turva, seu corpo tremia e já não tinha mais controle de suas sombras. Aquilo ainda tinha o mesmo peso e dor que tentava ignorar por tantos anos. 

-Perdão - dessa vez gritou alto para sua voz se sobressair a ventania.

Sua mestre começou a gargalhar enquanto sangue borbulhava de sua boca, Ayla se afastava em passos duros e trêmulos para trás, o corpo a sua frente começou a tremer e se aproximar do seu quando encostou em uma árvore tentou reprimir seu grito virando sua cabeça para o lado enquanto a lágrima ainda escorria. Mãos subiram por seu corpo como se tentassem o escalar, desceu seu olhar vendo o corpo de sua mestra esparramado no chão com aquele olhar vazio de alguma emoção.

Corte de Sombras e CicatrizesOnde histórias criam vida. Descubra agora