Capítulo Onze

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— Dormiu bem ontem à noite? — incitou Ettore sucinto, após ter feito o pedido.

— Muito bem, obrigada. — respondeu Blanche num tom vivaz. — E você?

Como um gato selvagem, pensou Ettore irritado. Sabia muito bem que bastava olhar para ele para ver os círculos escuros que lhe sombreavam os olhos, as linhas de tensão formadas em sua tez e deduzir que ele não havia dormido direito.

Em vez disso, caminhou de um lado para o outro na suíte até às cinco da manhã, quando desceu para a academia, a fim de gastar um pouco da energia acumulada pela frustração sexual, no aparelho de remo durante uma hora. Por outro lado, Blanche aparentava estar revigorada e desperta.

O vestido curto dourado combinava com a cor dos seus olhos. E os cabelos caíam-lhe sobre os ombros soltos e nas orelhas usava um par de argolas de ouro. O gloss de pêssego nos lábios era um convite a beijá-los. Um convite que fez Ettore desejar se livrar de tudo sobre a mesa, deitar Blanche em sua superfície e possuí-la ali mesmo, como havia feito na noite anterior.

— Não brinque comigo, cariño. — advertiu ele num tom frio. — Não estou disposto a joguinhos.

— Deus, a frustração sexual só piorou o seu humor, não é? — zombou ela, antes de se virar e sorrir para o sommelier que vertia um pouco de champanhe na taça de Ettore. 

Ettore provou um gole antes de colocar a taça de volta na mesa.

— Está péssimo. Traga outra da safra de 63. Resfriada à temperatura correta dessa vez.

— Sim, senhor. — O assustado sommelier pegou a garrafa e as duas taças e se afastou apressado.

— Isso não foi nada gentil, Ettore. — Blanche o repreendeu suavemente quando voltaram a ficar a sós.

Os olhos azuis faiscaram e ele a fitou sem o menor traço de humor.

— Pensei que ambos tivéssemos concordado que não sou um homem gentil.

Blanche não se lembrou de terem concordado sobre aquilo, mas Ettore não havia sido muito cortês com o sommelier. O pobre homem, por certo, estava arrasado na adega naquele momento, conferindo desesperado a temperatura da segunda garrafa de champanhe, antes de voltar à mesa.

— Deixarei uma vultuosa gorjeta no final do jantar, se isso a fizer se sentir melhor, Blanche.

— Bem, não, a questão não é me fazer sentir melhor, não acha? — argumentou, atenta ao fato de que o autocontrole de Ettore estava por um fio. — Não foi comigo que você foi rude. Pedir desculpas é o mínimo. E que você não presta eu já sabia, mas que além do mais é mal educado, mí amor, se torna impossível conviver contigo ou vir algum dia respeitá-lo.

— Eu não fui rude. — disparou ele uma vez mais, ao mesmo tempo em que o sommelier aparecia ao lado da mesa, suspirando e abrindo outra garrafa de champanhe. — Bom, a culpa não foi sua pela garrafa anterior não estar... aceitável. — assegurou Ettore num tom suave, sabendo que não havia nada de errado com a primeira garrafa de champanhe.

Fora ríspido com o outro homem apenas porque Blanche lhe sorrira tão calorosamente. Seus sorrisos e tudo nela lhe pertenciam! Não que ela tivesse dado muitos sorrisos em sua direção, mas Ettore se ressentiu com ela profundamente por expressar seu bom humor a qualquer outro e não à ele. Nunca havia sido possessivo com suas amantes e seus relacionamentos anteriores, sempre breves, nunca duravam mais que um ou dois meses. E ao primeiro sinal de qualquer intenção séria da parte das mulheres, terminava e sumia.

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