Capítulo Vinte e Três

71 10 1
                                    


Blanche não podia mais suportar tanta dor. As palavras de Ettore atravessaram seu peito como um punhal, ferindo-a amargamente. Tampouco queria ficar, para escutar qualquer outra palavra dele que a pudesse ferir mais.

Levantou-se da poltrona, determinada a não permanecer mais um segundo sequer ali. Enquanto se dirigia para a porta, Ettore a alcançou, detendo-a pelo braço antes de partir.

— Espera, eu não sei se sou capaz de deixá-la ir assim... Será que algum dia você será capaz de me perdoar? — indagou-se Ettore. Fora apenas há algumas horas que ele e Blanche se encontravam deitados na cama após uma noite de amor, prestes a darem vazão à paixão mais uma vez, quando Daniele os interrompeu, anunciando o telefonema que dera início ao seu pesadelo?

— Solte-me, Ettore. Eu não quero escutar mais nada seu. — Blanche o fitou com os olhos âmbar repletos de amargura. — Não tenho mais nada para falar com você.

Ettore assentiu. O simples fato de fitá-la e perceber o que fizera com ela, causava-lhe uma dor imensa. E ainda não terminara...

Querendo um momento sozinha, Blanche afastou-se de Ettore e sem dizer mais nada, dirigiu-se até a porta do elevador privativo. Respirou profundamente, buscando se recompor enquanto aguardava o elevador parar na cobertura.

Ettore desabou em lágrimas quando a porta do elevador fechou atrás de si, não tentou impedi-la de ir, compreendendo o seu momento e sabendo ser o culpado por toda aquela nova onda de sofrimento causado na mulher por quem havia se apaixonado.

Quando o elevador abriu no térreo, Blanche secou as lágrimas que corriam copiosas de seus olhos com as costas das mãos. Não queria chegar em casa com os olhos inchados de tanto chorar. Tentou se recompor, afinal, queria evitar ter que dar explicações ao pai quando chegasse em casa. Precisava se manter sob controle.

Perdida em pensamentos, lembrou-se de Benjamin e também do filho que havia perdido. O que havia feito para merecer tamanho castigo? Blanche respirou profundamente e moveu a cabeça para aliviar a tensão. Mas a sensação de relaxamento se esvaiu ao escutar som de passos vindos em sua direção.

Encontrava-se a cem metros de seu carro, tentou se acalmar, afinal de contas aquele era um estacionamento privativo. Quem mais poderia estar ali?

— Luís, é você? — Blanche questionou, elevando o tom de voz para que o chofer de Ettore a escutasse.

Como não houve resposta, o olhar assustado de Blanche percorreu o ambiente. O som de passos silenciaram e então, com assombro, vislumbrou uma mancha vermelha no chão.

O forte cheiro de sangue a atingiu em cheio, fazendo-a suar frio ao se ver completamente tomada pelo medo. Blanche deu um passo para trás, afastando-se de uma trilha de pequenos resquícios de sangue que não notara antes. A trilha levava para além de um dos carros de Ettore.

O simples pensamento de estar em companhia de um criminoso fez o sangue em suas veias congelar. Lembrou-se de Ettore e Benjamin na cobertura, e, instintivamente, calou o grito de pavor que retumbava em seu âmago. Não poderia colocar em risco a vida do homem que amava e seu filho.

Blanche entrou em pânico nos segundos que se seguiram, enquanto pensava na segurança de Benjamin.

Achando que poderia encontrar alguma pista do que havia acontecido, Blanche seguiu a trilha de sangue por entre os carros. A visão do homem repousando no chão sobre uma poça de sangue a fez gritar horrorizada. No entanto, a acústica da garagem privativa, impedia que seus gritos fossem escutados por qualquer pessoa fora daquele ambiente.

Blanche parou e tentou correr em direção ao elevador, dando-se conta de que o perigo era realmente real.

Era assim que a vida realmente acabava?

Blanche tentou se acalmar focando toda sua atenção no som da própria respiração, a única coisa audível naquele lugar. Não podia perder o controle, precisava pensar na segurança de Benjamin.

Completamente tomada pelo medo, deu de cara com um homem parado à sua espera.

Blanche parou, o coração em disparada ao reconhecer aquela silhueta característica.

Ele sorriu, fixando nela aquele mesmo olhar que a fazia estremecer de pavor toda vez que se aproximava dela.

Blanche gritou, voltou-se e correu em direção ao seu carro.

Ettore

Inimigo ÍntimoOnde histórias criam vida. Descubra agora