Capítulo Trinta e Cinco

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Lorenzo respirou fundo e assentiu. Ettore inclinou-se sobre Blanche e aproximando seus lábios aos dela, beijou-a suavemente. O simples fato de fitá-la e perceber o que fizera com ela, causava-lhe uma dor imensa. E ainda não terminara... Havia sido tão injusto com a mulher que amava, que agora não sabia mais o que fazer para evitar-lhe mais sofrimento.

Movido pela raiva em seu âmago, não levou mais do que alguns minutos para sair do quarto onde Blanche repousava, após certificar-se de deixá-la bem, seguindo o caminho para a saída do hospital.

Ao atravessar a sala de espera com Lorenzo, avistou Oswald e Charlotte conversando em um dos sofás, com o pequeno Benjamin no colo. Oswald levantou-se e foi até Ettore.

— O que aconteceu? — perguntou.

Ettore respirou profundamente, levando uma das mãos sobre o ombro de Oswald.

— Eu preciso resolver um problema pessoal, mas que também envolve a sua filha. Será que você e Charlotte podem cuidar de Benjamin, para mim? Na volta, eu te conto toda a história.

— É claro, meu filho. Mas Lorenzo vai junto, não é?

Lorenzo aproximou-se de Oswald e sorriu para o mesmo.

— Não se preocupe, eu vou cuidar de Ettore. Eu contei o que aconteceu para Charlotte, e ela vai te explicar tudo, Oswald.

Ettore voltou o olhar para Charlotte, consternado.

— Charlotte sabia de tudo?

Eu procurei Lorenzo porque não sabia o que fazer com a informação, quando descobri tudo e soube quem era Elora, procurei Lorenzo.

Lorenzo respirou fundo, puxando Ettore pelo antebraço, antes que pudesse descontar a raiva em Charlotte. Oswald aninhou o pequeno Benjamin no colo, exasperado, e em silêncio retirou Charlotte da sala de espera do hospital, guiando-a até a lanchonete.

Em cinco minutos, Ettore estava do lado de fora do hospital, sendo guiado até o estacionamento por seu primo, Lorenzo. Precisava manter a calma, mas o ódio, deixava-lhe cego.

— Ettore, você precisa se acalmar. Se não fosse por Charlotte, nós nunca saberíamos a verdade.

Lorenzo acomodou-se no banco de passageiros, e virou-se na direção de Ettore. Ettore sentia-se mal, o estômago embrulhado e um bolor subia-lhe à garganta. Mas tentou se controlar, respirando profundamente.

— Você tem razão, mas é que eu não consigo deixar de pensar na minha mulher em coma. E na Elora morta. Eu preciso saber a verdade, Lorenzo.

Ettore sentia-se preso em um filme de terror, que não chegava nunca ao fim. Queria gritar para poder expurgar a dor, mas sabia que não adiantaria. Então, só precisava da verdade para poder viver em paz com sua mulher. Durante todo o resto do trajeto, ambos permaneceram em silêncio.

Lorenzo temia o que poderia acontecer, mas não falou nada. Sabia que o primo precisava daquele momento. E estaria ao seu lado, para apoiá-lo. Algum deles precisaria se manter calmo, para controlar o estrago que sabia que viria acontecer. O trânsito na estrada fluía livremente, e logo estavam no Cassino, estacionados na frente da entrada principal.

Quando chegaram na lanchonete, Oswald ajudou Charlotte a acomodar Benjamin no carrinho e puxou uma cadeira para que ela pudesse sentar. E, logo em seguida, pediu dois cafés para eles.

Charlotte estava abatida e debruçara-se na mesa, decidida a permanecer ali por algum tempo. Respirou fundo, lembrando-se da noite que conhecera Elora. Aquela tinha sido a primeira e a única vez que a vira com vida. Não fazia a menor ideia do que estava por vir.

— Você não teve culpa, Charlie. Ettore sabe disso, ele só está tenso com toda essa situação. Você fez bem em procurar Lorenzo.

— Eu só queria que Blanche soubesse que não estava sozinha, Oswald. Ela precisava saber que alguém torcia por ela. — Charlotte desabafou.

Nesse momento, Oswald levou as mãos até as de Charlotte, tomando-as entre as suas. Ela respirou fundo e resolveu erguer a cabeça, fixando o olhar ao de Oswald. Então percebeu a sua preocupação e sorriu.

— Eu acho que a minha filha tem a melhor amiga que uma garota poderia ter, além da mãe, é claro. — Oswald desviou os olhos âmbar para ela, com um ligeiro sorriso nos lábios. — Como você está, Charlotte?

— Eu estou nervosa com toda essa situação, é claro.

Oswald riu.

— Mas não foi essa a minha pergunta, vamos esquecer só por um momento os problemas, está bem?

Charlotte assentiu.

— Certo, eu estou bem.

Antes que começasse a analisar o sentido daquela resposta, acrescentou:

— Você está mais parecida com Blanche agora do que de hábito.

— Pele pálida? Lábios arroxeados?

— Refiro-me à simplicidade. E a força. Você está mais bonita agora,do que quando a conheci.

Charlotte respirou profundamente, sentindo as bochechas corarem. Lorenzo e Ettore já haviam lhe dito a mesma coisa, mas era diferente vindo de Oswald. Então sorriu, e apertou-lhe as mãos.

Sr. D'auvergne, se eu estiver certa, nesse momento essas pessoas ao nosso redor, vão estar comentando as nossas idades, horrorizados. Será possível que você esteja me paquerando de novo?

É uma possibilidade. Mas, o que eu quero mesmo dizer, é que estou a fim de seguir um longo percurso com você.

Charlotte não conteve um sorriso, não sabia o que dizer, mas não era necessário. A forma como se olhavam já dizia tudo um para o outro.

— Não precisa me responder nada agora, Charlotte. Mas, eu quero que saiba que você não está sozinha.

Quando o garçom retornou à mesa com os seus pedidos, ambos tomaram seu café em silêncio. Mas, precisando ter um tempo com Charlotte, convidou-a para um passeio com Benjamin. Passaram na recepção e certificaram-se de que Blanche ficaria bem amparada na ausência deles, e em instantes estavam no estacionamento do hospital.

Charlotte mantinha Benjamin em seus braços, e ria ao observar a cena inusitada, de Oswald lutando com o cinto do carro para instalar a cadeirinha de segurança do bebê.

Está vendo isso, Benjamin? — Charlotte riu. — Você ainda tem muita coisa pra ensinar, de novo, pra esse teu avô coruja.

Ao saltarem do veículo e entrarem no Cassino, Ettore tentou manter-se calmo, mas não teve paciência de esperar o elevador. Encontrou a escada e subiu-a de dois em dois degraus, seguido por Lorenzo, que havia resolvido esperar pelo elevador, que se esforçava para acompanhá-lo. Saíram no andar das mesas de Poker, atravessaram com passos rápidos o salão e pararam assim que avistaram Anatolle Leblanc, seu sócio.

Ettore engoliu em seco, a decepção avolumou-se em sua garganta.

Anatolle pressentiu a presença de Ettore atrás de si, virou-se em sua direção e lançou-lhe um olhar longo e intenso. Mas não teve tempo para respondê-lo, pois, movido pelo ódio, as mãos enormes de Ettore fecharam-se em torno de seu pescoço, puxando-o de seu banco e lançando-o violentamente ao chão.

Você vai me contar tudo o que sabe sobre a minha irmã, filho da puta! — Ettore vociferou.

Eu já contei tudo o que eu sabia. — queixou-se Anatolle.

Ettore soltou um suspiro exasperado, fechou a mão em punho e acertou um soco no nariz de Anatolle. Em seguida, dirigiu-se a Anatolle num tom de voz veemente e enraivecido.

— É melhor você começar a abrir a sua boca maldita, Anatolle. Ettore vociferou, sendo observado por Lorenzo e todos os apostadores presentes no Cassino. 

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