Lorenzo respirou fundo e assentiu. Ettore inclinou-se sobre Blanche e aproximando seus lábios aos dela, beijou-a suavemente. O simples fato de fitá-la e perceber o que fizera com ela, causava-lhe uma dor imensa. E ainda não terminara... Havia sido tão injusto com a mulher que amava, que agora não sabia mais o que fazer para evitar-lhe mais sofrimento.
Movido pela raiva em seu âmago, não levou mais do que alguns minutos para sair do quarto onde Blanche repousava, após certificar-se de deixá-la bem, seguindo o caminho para a saída do hospital.
Ao atravessar a sala de espera com Lorenzo, avistou Oswald e Charlotte conversando em um dos sofás, com o pequeno Benjamin no colo. Oswald levantou-se e foi até Ettore.
— O que aconteceu? — perguntou.
Ettore respirou profundamente, levando uma das mãos sobre o ombro de Oswald.
— Eu preciso resolver um problema pessoal, mas que também envolve a sua filha. Será que você e Charlotte podem cuidar de Benjamin, para mim? Na volta, eu te conto toda a história.
— É claro, meu filho. Mas Lorenzo vai junto, não é?
Lorenzo aproximou-se de Oswald e sorriu para o mesmo.
— Não se preocupe, eu vou cuidar de Ettore. Eu contei o que aconteceu para Charlotte, e ela vai te explicar tudo, Oswald.
Ettore voltou o olhar para Charlotte, consternado.
— Charlotte sabia de tudo?
— Eu procurei Lorenzo porque não sabia o que fazer com a informação, quando descobri tudo e soube quem era Elora, procurei Lorenzo.
Lorenzo respirou fundo, puxando Ettore pelo antebraço, antes que pudesse descontar a raiva em Charlotte. Oswald aninhou o pequeno Benjamin no colo, exasperado, e em silêncio retirou Charlotte da sala de espera do hospital, guiando-a até a lanchonete.
Em cinco minutos, Ettore estava do lado de fora do hospital, sendo guiado até o estacionamento por seu primo, Lorenzo. Precisava manter a calma, mas o ódio, deixava-lhe cego.
— Ettore, você precisa se acalmar. Se não fosse por Charlotte, nós nunca saberíamos a verdade.
Lorenzo acomodou-se no banco de passageiros, e virou-se na direção de Ettore. Ettore sentia-se mal, o estômago embrulhado e um bolor subia-lhe à garganta. Mas tentou se controlar, respirando profundamente.
— Você tem razão, mas é que eu não consigo deixar de pensar na minha mulher em coma. E na Elora morta. Eu preciso saber a verdade, Lorenzo.
Ettore sentia-se preso em um filme de terror, que não chegava nunca ao fim. Queria gritar para poder expurgar a dor, mas sabia que não adiantaria. Então, só precisava da verdade para poder viver em paz com sua mulher. Durante todo o resto do trajeto, ambos permaneceram em silêncio.
Lorenzo temia o que poderia acontecer, mas não falou nada. Sabia que o primo precisava daquele momento. E estaria ao seu lado, para apoiá-lo. Algum deles precisaria se manter calmo, para controlar o estrago que sabia que viria acontecer. O trânsito na estrada fluía livremente, e logo estavam no Cassino, estacionados na frente da entrada principal.
Quando chegaram na lanchonete, Oswald ajudou Charlotte a acomodar Benjamin no carrinho e puxou uma cadeira para que ela pudesse sentar. E, logo em seguida, pediu dois cafés para eles.
Charlotte estava abatida e debruçara-se na mesa, decidida a permanecer ali por algum tempo. Respirou fundo, lembrando-se da noite que conhecera Elora. Aquela tinha sido a primeira e a única vez que a vira com vida. Não fazia a menor ideia do que estava por vir.
— Você não teve culpa, Charlie. Ettore sabe disso, ele só está tenso com toda essa situação. Você fez bem em procurar Lorenzo.
— Eu só queria que Blanche soubesse que não estava sozinha, Oswald. Ela precisava saber que alguém torcia por ela. — Charlotte desabafou.
Nesse momento, Oswald levou as mãos até as de Charlotte, tomando-as entre as suas. Ela respirou fundo e resolveu erguer a cabeça, fixando o olhar ao de Oswald. Então percebeu a sua preocupação e sorriu.
— Eu acho que a minha filha tem a melhor amiga que uma garota poderia ter, além da mãe, é claro. — Oswald desviou os olhos âmbar para ela, com um ligeiro sorriso nos lábios. — Como você está, Charlotte?
— Eu estou nervosa com toda essa situação, é claro.
Oswald riu.
— Mas não foi essa a minha pergunta, vamos esquecer só por um momento os problemas, está bem?
Charlotte assentiu.
— Certo, eu estou bem.
Antes que começasse a analisar o sentido daquela resposta, acrescentou:
— Você está mais parecida com Blanche agora do que de hábito.
— Pele pálida? Lábios arroxeados?
— Refiro-me à simplicidade. E a força. Você está mais bonita agora,do que quando a conheci.
Charlotte respirou profundamente, sentindo as bochechas corarem. Lorenzo e Ettore já haviam lhe dito a mesma coisa, mas era diferente vindo de Oswald. Então sorriu, e apertou-lhe as mãos.
— Sr. D'auvergne, se eu estiver certa, nesse momento essas pessoas ao nosso redor, vão estar comentando as nossas idades, horrorizados. Será possível que você esteja me paquerando de novo?
— É uma possibilidade. Mas, o que eu quero mesmo dizer, é que estou a fim de seguir um longo percurso com você.
Charlotte não conteve um sorriso, não sabia o que dizer, mas não era necessário. A forma como se olhavam já dizia tudo um para o outro.
— Não precisa me responder nada agora, Charlotte. Mas, eu quero que saiba que você não está sozinha.
Quando o garçom retornou à mesa com os seus pedidos, ambos tomaram seu café em silêncio. Mas, precisando ter um tempo com Charlotte, convidou-a para um passeio com Benjamin. Passaram na recepção e certificaram-se de que Blanche ficaria bem amparada na ausência deles, e em instantes estavam no estacionamento do hospital.
Charlotte mantinha Benjamin em seus braços, e ria ao observar a cena inusitada, de Oswald lutando com o cinto do carro para instalar a cadeirinha de segurança do bebê.
— Está vendo isso, Benjamin? — Charlotte riu. — Você ainda tem muita coisa pra ensinar, de novo, pra esse teu avô coruja.
Ao saltarem do veículo e entrarem no Cassino, Ettore tentou manter-se calmo, mas não teve paciência de esperar o elevador. Encontrou a escada e subiu-a de dois em dois degraus, seguido por Lorenzo, que havia resolvido esperar pelo elevador, que se esforçava para acompanhá-lo. Saíram no andar das mesas de Poker, atravessaram com passos rápidos o salão e pararam assim que avistaram Anatolle Leblanc, seu sócio.
Ettore engoliu em seco, a decepção avolumou-se em sua garganta.
Anatolle pressentiu a presença de Ettore atrás de si, virou-se em sua direção e lançou-lhe um olhar longo e intenso. Mas não teve tempo para respondê-lo, pois, movido pelo ódio, as mãos enormes de Ettore fecharam-se em torno de seu pescoço, puxando-o de seu banco e lançando-o violentamente ao chão.
— Você vai me contar tudo o que sabe sobre a minha irmã, filho da puta! — Ettore vociferou.
— Eu já contei tudo o que eu sabia. — queixou-se Anatolle.
Ettore soltou um suspiro exasperado, fechou a mão em punho e acertou um soco no nariz de Anatolle. Em seguida, dirigiu-se a Anatolle num tom de voz veemente e enraivecido.
— É melhor você começar a abrir a sua boca maldita, Anatolle. — Ettore vociferou, sendo observado por Lorenzo e todos os apostadores presentes no Cassino.
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Inimigo Íntimo
RomancePara o bilionário espanhol Ettore Montalbán De La Guardia, a morte de sua irmã foi culpa do irresponsável Bryan D'auvergne. A rivalidade entre suas famílias só poderia ser resolvida olho por olho e dente por dente! E não seria Oswald, o patriarca...