Capítulo Trinta e Quatro

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Ethan Beaumont entrou esbaforido no quarto. Assim como Charlotte, Lorenzo e todos os demais no andar, envolvidos no tratamento de Blanche. O monitor exibia melhor oxigenação, ela já não ofegava tanto e, sem a menor dúvida, o arroxeado dos lábios diminuíra de intensidade.

As pessoas batiam palmas em toda parte e o júbilo era geral. E, embora Blanche ainda estivesse em coma, tudo na medicina revelava-se de fato relativo. Ela apresentava uma melhora significativa, e sentia-se aliviado por terem enfrentado mais um obstáculo juntos.

Os resultados dos exames eram promissores e, a possibilidade da recuperação, palpável.

Muito tempo depois que todos haviam saído do quarto, Ettore continuava sorrindo, aliviado, sorvendo um grande hausto de ar após o outro. Então, movido por uma grande necessidade de abraçá-la, afinal, já não o fazia havia tempo, enfiou os braços sob o corpo de Blanche, erguendo-a da cama e encaixou seu corpo junto ao dele. Cerrou os olhos para reprimir as lágrimas indesejáveis, deixando mais uma vez escapar imensos suspiros de alívio enquanto cobria as faces pálidas de beijos.

Ettore não soube por quanto tempo ficou ali, abraçado a ela. Mas não sentia pressa nenhuma em soltá-la. E, agora que começava a se recuperar, sentia que uma vida inteira ao seu lado era muito pouco para expressar o quanto amava aquela mulher.

Quando Ettore abriu os olhos, viu Lorenzo sorrindo. Com toda delicadeza, ele acomodou Blanche nos travesseiros.

— Estou muito feliz por vocês, Ettore. E sabe, fico feliz por ter quebrado o velho padrão da nossa família de manter os velhos ressentimentos e tê-lo procurado. Você é tão obstinado quanto os seus pais foram, e eu o respeito muito por isso. E tem sido um ótimo amigo desde então.

Ettore sorriu, enquanto encarava o primo.

Quando você me procurou naquela manhã, eu compreendi pela primeira vez o quão estúpido eu era. Tive medo de perdê-la, porque soube que, ao contrário de mim, você a respeitava. E vi que seria muito mais fácil para você ou qualquer outro homem conquistá-la, do que eu admitir que estava errado. Sem você, eu jamais teria dado o primeiro passo. E, ainda assim, meu erro nos trouxe até aqui.

Lorenzo respirou fundo e aproximou-se da cama, observando-a.

— Blanche está bem, Ettore. Ela vai se recuperar, e logo serão capazes de acertar as coisas entre vocês.

Lorenzo ficou um longo tempo encarando-a. Na opinião dos médicos, o medicamento finalmente fizera efeito. Na opinião dele, Blanche ouvira sua conversa com Oswald e reagira com uma demonstração de apoio. Mais uma vez, eles abriram novos sorrisos, sem se conterem. Apesar do cansaço, sentiam-se aliviados e esperançosos. Mas ainda precisava resolver assuntos importantes com Ettore, do interesse deles.

— Nós precisamos conversar sobre Andrew.

— Como?

Lorenzo pôs-se a caminhar impaciente sobre o quarto, buscando um meio de contar no que a investigação deles havia resultado. E então contou-lhe sobre a visita do delegado naquela manhã.

Então, se nenhum corpo foi encontrado e aquele maldito verme ainda continua vivo, a minha mulher ainda corre perigo.

— Sim, mas ainda há mais coisas que você precisa tomar conhecimento. Você vai precisar agir com cautela para não colocar tudo a perder.

— Eu não entendi onde você quer chegar com essa conversa. Explique-me.

Lorenzo sentou-se no sofá, de frente para eles, e respirando profundamente começou a contar sobre o que aquele mês de investigações havia o levado a descobrir sobre o passado de Andrew e Elora.

Em poucos segundos, Ettore sentiu que ia do céu ao inferno novamente. Os sentimentos transcorriam em seu coração como se uma violenta tempestade se formasse em seu âmago. Não podia imaginar tanto sofrimento para Elora e para sua mulher. Faltou-lhe o ar para que pudesse respirar, sentindo-se profundamente irado com as atitudes de Andrew. E as expressões de dor, exasperação, ódio e fúria transcorreram com uma incrível facilidade em seu semblante.

Ettore estivera tão enganado a respeito de Elora e Blanche. Não havia sido capaz de entender o desespero de sua irmã. E sabia que Blanche não tomara a decisão consciente e calculada de protelar a gravidez. Em vez disso, teve aquela alegria negada e ainda foi rejeitada pelo próprio marido por sua absoluta falta de caráter.

E lhe doera mais ainda saber que Elora estivera envolvida no sofrimento de sua mulher.

O que aquilo teria feito com ela? Como teria se sentido? Não era de se admirar que tivesse se tornado a inacessível Blanche Leroy D'auvergne. O que presumiu ser desdém dos relacionamentos amorosos era na verdade um escudo com que ela se protegia de outra rejeição.

E então percebeu o quanto presumira no que concernia a Blanche.

Além de seduzi-la a se tornar sua amante, ainda a obrigara se casar com ele por uma vingança idiota.

E aquilo era algo com o qual teria de conviver para o resto da vida.

Havia falhado como irmão, como pai e como homem. E, entenderia se Blanche jamais fosse capaz de perdoá-lo.

A lembrança dela em seus braços o assombraria durante todos os seus dias e noites. Mas, só teria paz quando toda verdade fosse revelada e a justiça pelas duas mulheres que mais amava em vida fosse feita.

Ettore sabia que precisava fazer algo, precisava agir por conta própria. 

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