Capítulo Quatro

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Compartilhar uma cama! Os pensamentos apavorados de Blanche repetiram as palavras dele em desespero.

Minutos atrás bastava olhar para aquele homem para saber que o desejava de um modo que não se lembrava ter sentido antes por nenhum outro. Mas era um desejo que a abandonara completamente, quando ele lhe confessara que pretendia se casar com ela por vingança!

Havia terminado recentemente um casamento desastroso e não tinha a menor vontade de repetir a experiência. E desde então, se mantinha firme em seu propósito, evitando encontros e envolvimentos sérios com qualquer homem, sabendo que com isso havia ganhado a reputação de mulher frígida e indiferente. Algo que a sexualidade evidente de Ettore não permitiria.

Blanche respirou profundamente, tentando recobrar a postura indiferente que adotava em certas ocasiões. Afinal, não precisava saber nada mais sobre ele para perceber que uma união entre os dois seria um desastre pior que o seu primeiro casamento.

Ela sacudiu a cabeça com força, enquanto voltava a sua atenção para Ettore.

- Essa pergunta não merece resposta, Ettore.

- Não? - ele inquiriu.

- O que está fazendo? - inquiriu ofegante quando Ettore Montalbán De La Guardia a alcançou e a tomou em seus braços.

- Bem, se você não sabe, talvez eu tenha que lhe mostrar! - rebateu em um tom zombeteiro, antes de baixar a cabeça e reivindicar-lhe a boca.

Blanche estava surpresa demais para lutar ou responder àquela súbita arremetida. Apenas estava atenta a sua pulsação acelerada, e ao modo como as suas mãos delicadas se apoiaram naqueles ombros fortes para se equilibrar, tomando consciência do quão fortes e musculosos eles eram, bem como o restante daquele corpo sólido, quando Ettore a puxou de encontro à sua excitação.

Blanche mordeu com força o lábio inferior de Ettore, sentindo o gosto metálico sob os seus lábios. Respirou profundamente, querendo resistir. E sabia que deveria resistir. Tentou afastá-lo, empurrando-o na direção contrária, ciente que deveria repelir aquele homem e pedir-lhe mais uma vez que saísse de sua casa. No entanto, o efeito causou o contrário, com Ettore guiando-a de costas até a parede atrás dela.

Ettore levou ambas as mãos firmes sobre as dela, retirando-as de seus ombros e com agilidade ergueu-as na altura de seus ombros, pressionando-as na parede enquanto a aprisionava contra seu corpo. E à medida que ele pressionava a excitação, com movimentos ousados e sensuais, de encontro ao seu quadril, ela sentiu o retorno daquele calor úmido entre as coxas. Gemeu baixinho, enquanto a língua de Ettore apartava-lhe os lábios e mergulhava fundo e quente em sua boca, em harmonia com o roçar das coxas musculosas, movendo-se sedutoramente contra as suas.

Não ofereceu resistência, sendo surpreendida pela intensidade de seu desejo pelo homem. Seu corpo parecia consumido por fogo líquido, todas as partes vivas e suscetíveis ao mais leve toque daquelas mãos fortes. Os mamilos tornaram-se rígidos quando ele abaixou a cabeça e capturou um deles, provocando-a, e que apesar do tecido da camisa fina e do sutiã sentiu o calor ardente daquela boca, dentes e língua, umedecendo o bico sensível.

Blanche respirou fundo e arqueou o tronco buscando satisfação para os espasmos de prazer que sentia entre as coxas. Estava tão excitada, tão perdida naquele prazer, que só conseguiu encará-lo estupefata quando de repente Ettore ergueu a cabeça para fitá-la triunfante.

- Não, Blanche - refletiu ele. - Não acho que compartilhar minha cama seja algo inaceitável para você!

Aquelas palavras e o tom sarcástico tiveram o mesmo efeito de um balde de água fria em sua cabeça, o que depressa esfriou o calor que a fazia arder. Empurrando-o com força, quase tropeçou, quando os braços fortes a libertaram. Ettore se afastou para contemplá-la com um olhar de desprezo. O triunfo ante a sua rendição era mais que óbvio. E o mesmo olhar que antes a fez incendiar de desejo, também a fez incendiar de ódio.

- Bastardo! - disparou furiosa, enquanto a mão lhe desferiu um forte tapa em sua face. Ergueu o olhar em sua direção, fixando-o nos olhos azuis sombrios. A face queimando, tanto pela sua reação a ele quanto pelo desdém evidente na expressão daquele homem.

- Talvez eu seja um bastardo, Blanche... - aceitou ele num tom tranquilo. - Mas você vai se casar comigo, cariño.

Blanche se sentiu envergonhada pelo seu comportamento segundos atrás, irritada com Ettore por ser capaz de excitá-la com tanta facilidade e nem um pouco confortável com a umidade estampada em sua camisa. Não estava disposta a suportar a arrogância suprema daquele homem por muito mais tempo.

- Eu não tenho a menor intenção de me casar. Nem agora, nem no futuro. E menos ainda com você, Ettore.

- Mas é claro que vai, Blanche. - contradisse ele com a voz suave. - Você vai se casar comigo e muito em breve. E vai fazer isso sem drama.

Blanche fitou a expressão segura e o desafio no olhar dele. A autoconfiança de Ettore era tal que a fez sentir que não estava a par de todos os fatos.

- O que ainda não me contou, Sr. Montalbán De La Guardia? - perguntou ela por fim.

- Tão inteligente e tão bonita - elogiou ele, inclinando a cabeça, embora não estivesse tão impassível pelo que acontecera alguns minutos atrás quanto gostaria de aparentar.

Blanche Leroy D'auvergne de fato tinha o corpo bastante suscetível. Um corpo que ele sabia que estava a ponto de explodir de êxtase, quando decidiu libertá-la.

Mas não pretendia fazer sexo com Blanche no sofá da sala da casa do pai dela. Queria-a na cama, os dois nus. Quando lhe proporcionasse aquele prazer, queria deitar e observá-la, senti-la, tocá-la, enquanto seu corpo delicado se contorcesse em espasmos e tremesse de satisfação. E depois queria deitar-se de costas, enquanto ela lhe proporcionasse prazer idêntico, permitindo-o observar cada reação por ele provocado através de seus olhares.

- O que eu ainda não lhe contei? - repetiu ele, exibindo os dentes brancos em um sorriso cruel. - É muita astúcia da sua parte perceber que guardei a melhor parte para o final.

- Ettore, meu tempo custa dinheiro. Por favor, dispense o sarcasmo e diga logo! - retrucou Blanche impaciente.

- Pois achei que seu tempo fosse gasto em atividades inúteis, gastos supérfluos... - O sorriso dele agora era genuíno. - Frustração sexual só piorou o seu temperamento, Blanche. - observou divertido.

Os olhos dela se estreitaram.

- Você tem exatamente trinta segundos para me dizer porque está tão confiante de que me casarei com você, antes de eu chamar o segurança e colocá-lo para fora, à força se for preciso, da casa do meu pai.

- Eu não faria isso se fosse você - escarneceu. - Mas, em todo caso, não faço nenhuma objeção em satisfazer sua curiosidade. - Ettore inclinou a cabeça. - Na realidade, sempre foi minha intenção lhe contar por que você não tem escolha, a não ser concordar em se casar comigo.

- Sou toda ouvidos! - Blanche retrucou entediada, querendo que ele partisse. Não só da sua casa, mas da sua vida!

Queria se sentar e lamber as feridas, as cicatrizes da batalha, sozinha, longe do olhar astuto daquele homem.

- Pelo contrário, Blanche... - Ettore continuou irônico. - Seus ouvidos, embora encantadores, estão longe de ser a sua melhor característica.

O olhar dele deslizou lentamente até os seios dela. E Blanche precisou de toda a sua força de vontade para não observar os próprios seios também e conferir se o tecido estava seco o bastante, após a carícia da boca daquele homem, para que seus mamilos não ficassem tão em evidência.

- Muito bem, você tem dez segundos restando! - advertiu ela com os dentes friccionados.

Ettore sorriu confiante ao mesmo tempo em que alcançava o bolso do paletó e retirava alguns documentos, que começou a desdobrar com uma lentidão exasperante.

Blanche o observou como uma mosca observava uma aranha que a pegara em sua teia. Tinha certeza, pela maneira segura de Ettore Montalbán De La Guardia, de que, fosse o que fosse que aqueles papéis continham, ele não tinha dúvida de que a induziriam a aceitar a sua proposta de casamento.

A proposta de casamento, que não foi uma proposta, mas uma declaração de intenção!

Inimigo ÍntimoOnde histórias criam vida. Descubra agora