Capítulo Dezenove

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Quando Blanche acordou, descobriu um vazio a seu lado na cama e o sol se infiltrando pelas janelas.

Espreguiçou-se devagar. O corpo um tanto dolorido, uma sensação prazerosa causada pela força das mãos e lábios de Ettore. Pensar sobre a intimidade que haviam compartilhado lhe trouxe um rubor à face, que de pronto empalideceu, quando lembrou de seus recém-descobertos sentimentos por Ettore.

Estava apaixonada pelo homem que a estava forçando a se casar, mas que não necessitava de força quando a desejava em sua cama.

O que faria?

Como poderia se casar com Ettore sabendo que estava apaixonada, mas que os únicos sentimentos que ele lhe devotava eram a atração sexual e a necessidade de se vingar de sua família?

Que escolha tinha naquela vingança que ele a infligiu?

Blanche questionou-se, sem esperanças. Ele não lhe dera opções.

— Em que está pensando? — indagou Ettore, emergindo do toalete contíguo, completamente despreocupado com o fato de estar desnudo.

Ao contrário dele, Blanche tinha plena ciência da nudez masculina, enquanto o fitava sob os cílios longos. Ettore possuía o mais belo corpo masculino que ela jamais conhecera.

Na verdade, não poderia lhe dizer o que estava pensando no momento. Encontrava-se chocada demais com a ousadia dos próprios pensamentos. Os olhos famintos se voltaram à face máscula, enquanto Ettore se estendia na cama ao lado dela antes de rolar e a tornar cativa sob o edredom.

— Acho que já está na hora de eu ir embora. — mentiu ela.

— Não antes do café da manhã, certo? — retrucou Ettore, em tom indulgente.

Blanche meneou a cabeça em negativa.

— Eu não estou com fome.

— E eu não estou me referindo à comida — explicou Ettore em tom de voz rouco, enquanto apartava-lhe os lábios macios com um toque sensual do dedo.

Ela engoliu em seco, desejando umedecer os lábios repentinamente ressequidos, mas, ao mesmo tempo, sabendo que o movimento colocaria sua língua em contato com o dedo de Ettore em um ato de pura intimidade.

— E eu não tenho intenção de colocar a lua de mel à frente do casamento! — protestou, forçando o tom de voz a soar determinado e deslizando para a extremidade da cama para se afastar dele.

Um erro de sua parte, concluiu Blanche. Estava tão nua quanto Ettore, o que não a deixava em posição de tentar a saída digna que tinha planejado.

Ettore se deitou de costas, com as mãos cruzadas entre a nuca e o travesseiro, enquanto a observava se mover em torno do quarto, recolhendo as roupas espalhadas.

A mulher que seria sua esposa era de fato um enigma: uma pantera em seus braços na noite anterior e durante toda a madrugada. E, naquela manhã, parecia estar envergonhada com a intensidade com que fizeram amor.

Teria lhe dito a verdade quando havia alegado só ter tido um amante, seu primeiro marido, antes dele?

Achava aquilo incrível se fosse verdade. Blanche era uma mulher linda e sensual, com uma capacidade de sentir prazer físico que jamais reconheceu em outra mulher.

Sorriu, ante ao pensamento dos anos que juntos teriam pela frente.

— Pode revelar o que quer que esteja achando engraçado? — indagou Blanche, de modo arisco, quando viu, e mal interpretou, aquele sorriso.

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