Capítulo Trinta e Sete

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Ettore seguiu com Lorenzo para a sua cobertura no Cassino, e assim que entraram na sala, notaram que estavam sozinhos. Não se preocupou com o fato de Daniele não se encontrar em casa, pois a última coisa que desejava naquele momento, era encontrar-se com ela.

Encaminhou-se até o bar em um dos cantos da sala, serviu duas doses duplas de uísque em um copo apropriado para a bebida, e voltando para o sofá, entregou um dos copos a Lorenzo. Beberam em silêncio, mas logo o silêncio foi quebrado, com a incredulidade de Ettore sobre a paternidade de Benjamin, numa conversa acalorado com o primo.

Ettore sentia-se incomodado com os últimos acontecimentos, e assim que Lorenzo saiu de sua casa, resolveu tomar um banho e arrumar-se rapidamente para retornar ao hospital. Já havia passado tempo demais distante de Blanche.

Quando estava para sair de casa, ligou para Lorenzo, pedindo que o aguardasse no estacionamento. Enquanto saia de casa, viu Oswald e Charlotte chegando juntos, com Benjamin adormecido nos braços de Charlotte.

Ettore respirou profundamente, aproximou-se de Benjamin, e o beijou afetuosamente na fronte. Depois, voltou sua atenção para o casal que havia chegado abraçados. E sorriu para ambos.

— Então é isso mesmo o que eu estou vendo?

Oswald sorriu.

— É o que parece. Acha que minha filha vai gostar de ter uma madrasta quase de sua idade?

Ettore sorriu, e inclinou-se na direção da face de Charlotte, beijando-a levemente.

— É claro que vai, tenho certeza que ela só quer a felicidade de vocês.

Charlotte sorriu, e voltou a atenção para Benjamin.

— E nós queremos a felicidade de vocês. Anda, vá logo para o hospital, nós iremos em seguida.

Não demorou mais do que cinco minutos até estarem no estacionamento do Cassino. Lorenzo e Ettore seguiram apressados rumo ao hospital, e o carro ganhou movimento nas ruas livres da cidade. Quando chegaram no hospital, estacionaram na mesma vaga cativa de sempre, e seguiram rumo ao andar de Blanche. Saíram do elevador, atravessaram o corredor a passos rápidos e pararam assim que entraram no quarto.

Lorenzo resolveu aguardá-lo na sala de espera, e enquanto mantinha-se parado na porta de entrada do quarto, ficou observando-a. Blanche continuava recostada nos travesseiros exatamente como havia sido deixada horas antes.

Ettore aproximou-se do leito, soltou um suspiro longo e profundo. E em seguida, dirigiu-se a Blanche num tom de voz veemente enraivecido.

— Está brincando com a gente, meu amor. Não é justo me deixar aqui, sozinho, quando eu preciso de você mais que tudo nessa vida.

Ettore tomou-lhe as mãos entre as suas, fixou o olhar ao dele e respirou profundamente. Então percebeu alguma coisa nos olhos dela. Eles giravam de um lado para o outro sob as pálpebras. Também notou um leve vinco entre as sobrancelhas, um mínimo franzir da testa e um gemido baixo de dor.

Ettore prendeu o fôlego e sentiu o coração parar de bater dentro do peito, estava exultante. Sorriu quando viu mais um vinco se estender pela fronte de Blanche. Seus olhos começaram a mover-se mais devagar, e ela respirou profundamente. As pálpebras estremeceram e entreabriram-se. Cerraram-se e colaram-se. E, recomeçaram a abrir-se, devagar.

Ettore temia respirar. A princípio ofegava ansioso, mas não emitiu nenhum som. Ela respirou fundo e tudo ficou no mais completo silêncio. Ele sorriu e ajoelhou-se no chão, ao lado da cama, ficando mais ou menos na sua altura. Blanche fixou os olhos em seu rosto por tanto tempo, que ele temeu que ela continuasse em coma. Depois se desviaram dele e ela tornou a fechá-los.

— Blanche? — exclamou ele.

Quando escutou a voz e a reconheceu, Blanche deixou as lágrimas lavarem os seus olhos. Inclinou-se com dificuldade em sua direção e os abriu lentamente, procurando a imensidão azul dos olhos de Ettore.

— Graças a Deus, meu amor!

Ettore gritou, sem conseguir conter a emoção de vê-la acordada. Inclinou-se em direção ao seu rosto, e beijou-lhe os lábios repetidamente. Quando tornou a olhar para Ettore, Blanche tinha a expressão confusa. Mantiveram-se ali, com os olhares fixados por um longo tempo e sorriram. Com a voz fraca, mas totalmente reconhecível, perguntou:

— O que foi que houve?

Ettore respirou aliviado, deixando as lágrimas de felicidade lavarem a sua alma e varrerem para fora de seu peito toda a dor da ausência de Blanche em sua vida. De repente, ergueu-se do chão e se juntou a ela na cama. Abraçou-a cuidadosamente, cobrindo-a de beijos e sorrindo ao mesmo tempo. Blanche havia acordado. Voltara para eles.

Blanche emergiu do coma com a sensação de estar vivendo mais um daqueles dias em que acordava pensando em Ettore, até que o viu ali em carne e osso, parecendo envolvido e preocupado. Seu primeiro pensamento foi que alguma coisa acontecera a eles. Inconscientemente, levou uma das mãos sob seu corpo, apalpando cada centímetro que conseguia tocar, até encontrar o buraco da bala coberto por uma porção de curativos. O tiro de Andrew não havia sido fruto de sua imaginação. E, como um passe de mágicas, as lembranças daquela noite vieram com força total em sua mente.

Chorou atordoada, sentindo-se muito fraca, assustada e completamente envolvida em uma dor dilacerante. E deu-se conta de estar em um hospital. Por quanto tempo havia estado em coma? 

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