Capítulo Trinte e Dois

71 10 5
                                    


A primeira coisa que Ettore fez ao acordar foi pegar o telefone. Levou apenas um minuto para saber, com alívio, que Blanche continuava viva; sentia medo, porque ela continuava em coma, e um inesperado orgulho, por saber que ela continuava a lutar por sua vida.

Aquele um mês havia passado lentamente, e cada dia era uma tortura para Ettore e Oswald. A vida deles parecia ter sido deixada de lado, enquanto ambos se dividiam na vigília por Blanche. Todos os negócios haviam sido, temporariamente, deixados de lado, porque para deixá-la sozinha no hospital, era preciso fazer um esforço descomunal. E nenhum deles estavam dispostos a abdicar do precioso tempo que possuíam com ela.

E, apesar das opiniões não tão animadoras dos médicos, ambos ainda se agarravam à fé, como um fio condutor de esperança, acreditando em sua melhora.

Empurrando as cobertas para o lado, foi até a janela e se esforçou para ver a paisagem. O nevoeiro da manhã enchia o desfiladeiro, e uma forte tempestade caía na cidade.

— Senhor? — Ele virou-se e olhou para a porta. O rosto de Daniele foi tudo o que surgiu na ampla abertura. — Benjamin está de banho tomado, e as suas coisas estão organizadas, como me pediu.

— Muito obrigado, Daniele.

Ele foi até a porta, sorrindo para a mulher enquanto tomava o filho no colo.

— Como D'auvergne está, senhor? Daniele perguntou, enquanto tentava simular um falso semblante de preocupação com a rival.

— Os médicos estão esperançosos. Minha mulher é forte, vai se recuperar bem. — Ettore respondeu, enquanto observava a babá de seu filho, surpreso com o súbito interesse da jovem por sua mulher.

Senhor, já se passou um mês, ela não deveria reagir mais?

— Daniele, eu só vou falar uma vez. Eu não lhe dei permissão para opinar sobre o estado de saúde da minha mulher, e eu espero que esteja bem claro o seu lugar nessa casa. Você é somente a babá do meu filho.

E eu não permito que o senhor me destrate, apenas por falar a verdade. Você parou a sua vida, seu trabalho, por uma mulher que não o ama, nunca o respeitou, e está vegetando em uma cama de hospital. Benjamin é só um bebê, e uma UTI não é um ambiente saudável para ele. Considerando, principalmente, que é pra visitar uma mulher que você sequer sabe se vai sair dessa.

Ettore respirou profundamente enquanto tentava absorver o que Daniele dizia. Como nunca havia percebido o interesse da mulher por ele? Segurando o filho com apenas um dos braços, levou subitamente a mão entre os fios espessos de seu cabelo. A maldade naquele comentário havia suscitado-lhe uma forte dor de cabeça. Não queria acreditar no interesse da mulher por ele.

— E desde quando você sabe o que é melhor para mim, Daniele? — Ettore vociferou, enquanto mantinha o filho aninhado cuidadosamente em seus braços.

O semblante de Daniele foi de calmo à exasperação em um segundo.

Desde sempre, Ettore. Há anos eu cuido de tudo na sua vida, das tuas roupas, até os cuidados com teu filho. Já vi mulheres entrarem e saírem de sua vida com a mesma facilidade com que você aumenta a sua fortuna. Mas eu nunca vi você se descuidar tanto da sua vida, de quem você é, por causa de uma mulher semi morta.

Ettore aproximou-se e levou uma mão sobre o braço de Daniele, puxando-a com força enquanto a arrastava abruptamente para fora de seu quarto. Os olhos azuis faiscando de raiva.

— Eu não pedi sua opinião sobre a minha vida pessoal, Daniele. E, para o seu próprio bem, eu vou ignorar todos os absurdos que você acabou de me dizer. Eu espero que você tenha compreendido que eu não possuo o menor interesse em você como mulher, e nunca irei. Tire da sua mente essa fantasia absurda e infantil de querer algo além comigo, porque isso não vai acontecer. E se quiser manter seu emprego nessa casa, é melhor recolher a sua língua quando ousar despejar o seu veneno para cima de Blanche.

Inimigo ÍntimoOnde histórias criam vida. Descubra agora