Duas décadas passaram desde a temível Guerra das Rosas Negras. O mundo, frágil e fragmentado, resiste por um fio. A esperança tem muitos nomes e muitos rostos. Pessoas comuns, mas extraordinárias, que lutam por um ideal utópico. O bem e o mal são, m...
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O dia já devia ir quase no seu fim. Os segundos deram lugar a minutos, e os minutos deram lugar a horas. Os seus olhos já doíam de tanto ler. Mas estava finalmente no caminho certo. A linguagem que estava agora a ver assemelhava-se estruturalmente à palavra que ouvira na sua Bhagy. Pontualmente, era distraído por um ou outro ruído na grande sala onde estava. Assustou-se as primeiras vezes, mas depois foi-se habituando. Deviam ser ratos nas suas vidas atarefadas. De resto, tudo continuava silencioso e mortiço à sua volta. Quase que conseguia ouvir a leve dança das partículas de poeira enquanto esvoaçavam daqui para ali. A luz das tochas, ténue e acolhedora, era o ingrediente perfeito para os bocejos, que cada vez mais iam aparecendo.
Ao fim de alguns minutos a estudar esta última linguagem, conseguiu finalmente encontrar a palavra. Lá estava ela, tão pequena em tamanho, mas tão grande em significado. "Spasi" - Aquele que salva. Salvador. Estava escrito à frente. A excitação cresceu em si. Ao recorrer ao índice, deparou-se com o nome da estranha linguagem, Puratha. Contorceu o seu sobrolho ao ler aquela palavra. Não conhecia nem tinha sequer ouvido falar de tal termo. Tenho que pedir ajuda a Chui, ele vai saber. Pensou.
Começou a fechar o livro, preparando-se para subir quando ouviu outro barulho. Desta vez não eram ratos. O som vinha da zona das escadas. Pelo ritmo e sonoridade, quase podia apostar que eram passos. Alguém estava a descer as escadas. Mas quem seria? Chui disse para ir ter com ele lá a cima. O seu coração disparou e sentiu um forte nó na garganta. Pegou desajeitadamente na tocha que repousava na mesa e ergueu-a em direção do som. Mesmo com a chama, não conseguia ver quase nada para a saída. Olhou em redor em busca de uma rota alternativa, mas não havia nada. Aquela grande sala tinha apenas uma entrada e uma saída. Quem poderia ser? Começava a ficar desesperado à medida que os passos se aproximavam. O seu som fazia um eco profundo nos seus sentidos, em alerta, mas ao mesmo tempo adormecidos.
No que pareceu uma eternidade, o ruído aproximou-se suficientemente para formar um vulto à porta da sala. Era de pequena estatura e magro. Tinha graciosidade no andar. Aproximou-se mais de si, e para sua surpresa, o vulto deu lugar a Phie. O seu corpo foi inundado por alívio. Os seus medos e paranoias prontamente desapareceram. Agora o que o consumia, eram aquelas chatas borboletas no estômago que sentia sempre que a via. Mesmo naquela luz ténue e ambiente arcaico, estava linda como sempre. Os seus longos cabelos ruivos, que tantos suspiros lhe roubaram, caíam até meio das suas costas. Apesar de não ter caracóis, era ligeiramente ondulado, fazendo lembrar as ondas gentis do mar calmo do verão. Phie, que fazes por aqui? Perguntou prontamente enquanto corria para a cumprimentar.
O mestre Chui disse-me que querias falar comigo. Então pensei em descer para ver o que era. Disse de forma desinteressada, mas carinhosa.
Ela estava mais bonita do que nunca, a sua pele era branca como a mais perfeita das neves e os seus olhos eram de um azul profundo. Continuavam brilhantes, desde a primeira vez que a viu. Sempre sentira algo mais que amizade por ela, mas os seus estudos no convento nunca lhe deram tempo para pensar em mais nada.