Visões do Amanhã - Parte seis

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A combustão da lareira, projetava sombras dançantes nas velhas e desgastadas paredes da casa, que em movimentos íntimos e pausados, bailavam entre si

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A combustão da lareira, projetava sombras dançantes nas velhas e desgastadas paredes da casa, que em movimentos íntimos e pausados, bailavam entre si. Já nos estranhos visitantes, a ténue luz produzida, acentuava os contornos sombrios e grossos dos seus rostos, enfatizando ainda mais o terror que sentia. Olhavam profundamente para si, lambendo, pontualmente, toda a extensão dos lábios, num gesto de gula avassalador. Para eles, não passaria de um mero brinquedo, útil para umas horas de diversão. Completamente paralisado, apenas conseguia fita-los, tomado por um terror puro, que nunca antes tinha sentido. Uma gota solitária e gelada de suor, correu pelas suas costas, propagando um arrepio intenso por todo o seu corpo.

Segurem-no! Ordenou a mulher.

Ia implorar, se o seu corpo reagisse, mas nem para isso teve tempo. Num movimento incrivelmente veloz, o homem careca, em passadas largas, percorreu toda a distância que os separava, projetando-o contra a parede de trás, que com um estrondo, rachou em vários locais. A dor que sentiu nas costas, aguda e fulminante, espalhou-se por todo o seu tronco, roubando o ar que lhe enchia os pulmões. Pela sua visão turva, observou o esguio braço do homem apertado contra o seu pescoço, dificultando a sua capacidade de respirar. Tentou pedir clemência, mas as palavras não saíam, ficando presas no reino do seu pensamento. Pela sua cara, sentiu lágrimas quentes, que numa carícia gentil, percorriam a pele cada vez mais fria e desolada. Estava a começar a perder os sentidos, não sendo capaz de formular qualquer pensamento, quando uma dor profunda assolou o seu braço esquerdo, transportando-o de volta para aquele terrível pesadelo. Pelo canto do olho, viu o punhal do estranho cravado no seu braço, perto da zona do pulso, prendendo-o à parede. Uma corrente viva de sangue escorria, puxada pela régia força da gravidade, manchando, de vermelho, o acastanhado e sujo chão.

Olhem, está a chorar. Disse a mulher, em tom de gozo. Pobrezinho. Por favor, alguém lhe dê um grande beijinho. Concluiu, soltando um largo sorriso, onde era possível ver a enorme quantidade de dentes que lhe faltava. Não fosse pela maneira despreocupada com que vivia, seria considerada uma mulher bonita. Os seus traços, apesar de fortes, eram também delicados e bem desenhados e o seu olhar profundo, dotado de um negro absoluto, tinha a sua beleza.

O beijinho pode ser com a Clara? Perguntou o homem musculado, olhando para o seu punhal.

Já te disse que é perturbador dares nomes às tuas armas. Resmungou a mulher, batendo na nuca do sujeito.

Deixa-me estar. Não a ouças Clara. Sussurrou em direção do punhal.

Vai de uma vez. Ordenou, dando um sinal na sua direção. Meu querido, preciso de te pedir um favor. Pediu a Ran, esfregando as mãos. Vais ter que fazer pouco barulho, está bem? É que não estamos sozinhos, os nossos amigos andam perto, e eles têm a mania de se meter nas nossas brincadeiras. Detesto isso. Tu és nosso. Declarou, batendo palmas.

Apesar de todo o seu corpo estar dormente, sentia um forte pulsar no seu braço, na zona da ferida. A cada gota de sangue, que tão facilmente saía do seu corpo, via-se mais próximo do outro mundo. Estúpido. Porque não fui à volta da cidade? Tinha conseguido viver. Tenho tanta coisa para contar ao mundo, a minha Baghy deve ser conhecida. O reino de terror de Toprak tem que acabar. Segundo após segundo, era mais difícil formular um pensamento lúcido, sentindo, cada vez mais, o sereno toque da morte apoderar-se de si. Perdoa-me, Phie. Não merecias o que te fiz. Pensou, deixando-se levar aos poucos por aquela calmaria aterradora. Perdoa-me Won, por não ter sido o amigo que precisavas, traindo-te daquela maneira. O meu coração era puro, mas as minhas ações não o foram. E mais importante ainda, perdoa-me, meu vasto e belo Mundo, pois fui incapaz de te salvar. Um sonoro e límpido som, proveniente de algum sino das redondezas, despertou-o dos seus devaneios, entrando sem permissão na casa. Olhou para o estranho musculado que se dirigia a si, calmamente, com o punhal na mão. Ia jurar que não sentiu a afiada lâmina perfurar a sua barriga, que num jato explosivo, se dividiu em duas...

O Nascer da Rosa BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora