Os animais matutinos já deviam dar de si. Apenas não os conseguia ouvir, à medida que se aproximava da cidade. Pouca natureza se aventurava a aproximar das grandes metrópoles de onde o homem fazia a sua casa. Durante muitos quilómetros, pouco mais que um metro conseguia ver à sua frente. A neblina era densa e opaca. Os seus braços, desnudados e desprotegidos arrepiavam-se com o gentil bater da brisa, que suavemente por ele passava, fazendo esvoaçar a macia penugem de Darie. Contava as horas e os dias para o que se ia passa a seguir.
Pouco tinha dormido desde daquela manhã...Apenas um pensamento ocupava a sua cabeça. Nada mais importava. Lentamente, de forma harmoniosa, a neblina foi-se dissipando conforme se ia aproximando da grande ponte que marcava, finalmente, o início de Vepho. A terra onde nascera e onde fora criado, onde tinha rido, chorado e vivido. Onde tinha vencido e onde tinha perdido. Mil e uma imagens inundavam a sua memória. A ponte, que outrora considerava imponente e imperial, parecia agora um monte de argamassa unida entre si. Na sua entrada, estava um pequeno forte feito de pedra. Nele, dois guardas faziam as rondas para ver quem chegava e quem partia. Por baixo, passava o rio Tronchi, que circundava toda a cidade de Vepho. Aquela era a única entrada e a única saída. Era um rio bastante largo, que à medida que chegava ao mar se ia tornando mais estreito. Vepho, era por esse motivo, um local muito difícil de invadir.
Estava prestes a chegar ao forte, quando um dos guardas o reconheceu e prontamente lhe deu permissão para passar, com um rasgado sorriso no rosto. Conhecia-o das noites de farra da sua juventude. Corriam as tavernas tentando provar quem aguentava mais licor. Perdia sempre. Ao passar o forte, viu que o pavimento continuava o mesmo. As pedras eram polidas e acinzentadas, à imagem das usadas nos suportes laterais. Como muitas obras arquitetónicas de Vepho, usava a ilusão de ótica, de forma a parecer espelhada. A ponte dava lugar à avenida principal, flanqueada por vários canais fluviais. Muitas das casas eram só acessíveis através de barco. A avenida, tinha centenas de metros de comprimento e ia dar diretamente ao palácio real, observável a quilómetros de distância.
Era possível ver dois enormes pilares de rocha espelhada que suportavam um edifício de quatro andares. As suas linhas eram curvilíneas e modernas. Em largura era monstruoso, cabendo no seu interior dezenas de casas. O seu telhado, de forma irregular, era preto e opaco, fazendo um forte contraste com as rochas espelhadas, que suavemente, refletiam a luz solar. Começava a ouvir a vida citadina timidamente a acordar para mais um dia. As janelas abriam, as chaminés começavam a fumegar e uma ou outra pessoa saía de casa, cumprimentando os seus vizinhos de forma rotineira. Poucos lhe davam segundo relance. Estavam habituados a ver vários tipos de pessoas.
Estava já a meio da avenida quando uma forte explosão fez tremer toda a cidade. Toda a tranquilidade desapareceu. As pessoas corriam para ver o que se passava e gritavam a pedir ajuda. Uma coluna negra de fumo subia triunfalmente pela porta principal do palácio. Os pássaros voavam desnorteados em todas as direções. Continuou com o seu passo calmo e confiante, à medida que o caos se ia formando à sua volta.
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O Nascer da Rosa Branca
FantasíaDuas décadas passaram desde a temível Guerra das Rosas Negras. O mundo, frágil e fragmentado, resiste por um fio. A esperança tem muitos nomes e muitos rostos. Pessoas comuns, mas extraordinárias, que lutam por um ideal utópico. O bem e o mal são, m...