Visões do Amanhã - Parte cinco

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Vários dias tinham já passado desde a sua fuga do Convento

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Vários dias tinham já passado desde a sua fuga do Convento. A traição que cometera a Won, imortalizada por aquela última imagem no reflexo do vidro, ficara gravada para sempre na sua memória, rasgando, a cada dia que passava, um pouco mais da sua alma. No relento da noite, fustigado pelo frio que se fazia sentir naquela altura do ano, sonhava várias vezes que tinha voltado para casa. Vagueava pelos corredores compostos de alunos em constante correria, meditava ao fim da tarde na companhia do seu amigo, e, à noite, dormia confortável, nos seus lençóis de sempre. Quando acordava na manhã seguinte, numa rua qualquer, com o corpo gelado e o coração vazio, as lágrimas vinham até si, acalorando as frias maçãs do rosto para mais um dia que aí viria. Pensou várias vezes em desistir de tudo e entregar-se à justiça dos seus Mestres. Mas tinha uma missão. Se o preço de divulgar pelo mundo a sua Bhagy, era a solidão, pagá-lo-ia de bom grado.

Durante os dois primeiros dias que sucederam a sua fuga, comprou comida e agasalho nas feiras por onde passou, nas Vilas circundantes de Horis. Como tinha saído à pressa, apenas trouxe consigo uma dúzia de moedas, presentes no bolso da sua túnica. Tentou rendê-las o máximo que pôde, tendo sido capaz de poupar até ao terceiro dia. Devido ao seu treino, era capaz de aguentar sem comer várias horas, o que o ajudou imenso a partir desse momento.

Ainda que tenha sonhado desde sempre com aventuras, nunca tinha estado tão longe de casa. Cada dia que passava, dirigia-se mais para sul, deixando-se hipnotizar pelas paisagens montanhosas do seu Continente. Apesar de serem todas diferentes, as Vilas por onde passava assemelhavam-se em muitos aspetos. Por norma, estavam inseridas na base de grandes cadeias montanhosas, colorindo os tons monocromáticos dos sopés rochosos. Nunca eram muito grandes, como a sua cidade natal de Horis, tendo apenas poucos quilómetros de diâmetro. As ruas tendiam a ser estreitas e movimentadas, ladeadas por várias construções térreas de tons beges. A edificação mais alta do horizonte, costumava ser a casa do representante da Vila, servindo de base de operações para as tarefas quotidianas. As feiras diárias, tradição enraizada há séculos no local, enchiam as estreitas ruelas de sons e cheiros distintos, trazendo uma passageira vida tumultuosa. Outrora, nos tempos áureos, antes da pandemia, todas as vilas circundantes juntavam as suas feiras, fazendo uma rede enorme de comércio, conhecida um pouco por todo o mundo. Vários turistas vinham comprar bens que não encontravam em mais lado nenhum, havendo uma mistura heterogénea de culturas e saberes.

Com o passar de mais dias, viu a sua moral ser posta novamente à prova, tendo roubado pela primeira vez na sua vida. Não foi porque queria, mas sim porque precisava. Já começava a perder as forças e estava a ficar demasiado magro. Se não fizesse algo, não iria chegar muito mais longe. Durante mais uma feira, numa vila que já nem recorda, apanhou um mercador despercebido e roubou duas maças, fugindo o mais rápido que conseguia. O pobre homem ainda o tentou apanhar, mas, para sua surpresa, as suas pernas provaram ser mais velozes do que imaginava. A partir desse momento, começou a roubar um pouco por todo o lado, refinando a sua arte. A cada ato ilícito que cometia, via a sua culpa diminuir, habituando-se à ideia de uma forma que nunca sonhou.

O Nascer da Rosa BrancaOnde histórias criam vida. Descubra agora