Edgard Flynn
A movimentação do trem impedia o príncipe sentado em meio aos imensos caixotes de adormecer. Estava no meio dos carregamentos que partiram de suas terras com destino a Blackstone, Edward e a Rainha Claudia fizeram o possível para tirá-lo de Blackwell com vida. Entretanto, uma viagem confortável não foi o que conseguiram arranjar às pressas graças a situação. Os guardas que o acompanhavam e outras pessoas estavam nos cantos escuros do vagão, plebeus com roupas em farrapos que o faziam sentir um aperto no peito a cada vez que escutava alguém falar sua linguá materna com seus companheiros de viagem, denunciando serem originários de suas terras.
— Ouvi dizer que a cidade é feita de ouro! – um garoto falou com entusiasmo.
Próximo ao rapaz, estavam sentados dois garotos que aparentavam nem sequer ter completo 12 anos. Assim como os outros, suas roupas estavam em farrapos e o cansaço era perceptível em seus rostos magros, começaram a puxar assunto com o príncipe pouco depois do jovem despertar do pequeno cochilo que deu no início da viagem
— Podemos ganhar pilhas de Coroas nas minas de Blackstone! – o outro retrucou com mais entusiasmo.
Flynn sentiu pena da inocência dos meninos que vislumbravam uma vida melhor em cima dos mitos que corriam pelas nações, sobre como todos tinham as mesmas chances de enriquecer nas terras de pedras preciosas
— Parte de Blackstone foi construída com bronze. – Flynn se pronunciou – é por isso que as construções da cidade possui aquelas cores, vocês vão ver. Mas acreditem, nenhuma quantia vale a vida e a liberdade de vocês!
Os meninos se entreolharam desconfiados. Aqueles que sabiam a verdade sobre como a mineração era feita estavam cientes que mesmo quem entra naquelas minas como trabalhador livre nunca conseguia ir embora, se tornava escravo graças as dívidas que adquiriram por nada.
— Mas que desgraça, o que a gente faz então? – o garoto de pele negra perguntou ao outro magricelo – talvez o que diziam sobre as minas é verdade...
— Vão para as terras Di Ângelo, meninos. É o melhor que podem fazer. – Flynn interviu.
Os meninos novamente se entreolharam. A escravidão é estritamente proibida nas terras Di Ângelo, então era o melhor lugar que poderia aconselhar para aqueles meninos desamparados irem. As portas do vagão viajavam abertas, e graças aquelas aberturas laterais o local não se encontrava em completa escuridão. O príncipe permaneceu em silêncio após tal comentário, observando o céu estrelado da noite, enquanto pensava no que estava enfrentando. A rainha Cláudia lhe aconselhou e abençoou antes de sua partida da fortaleza, pensando com clareza, ela tinha razão.
— Você não quer uma escolta, porque no fundo não quer chegar em seu destino com vida.
Ela não estava errada. Flynn se sentia um completo fracasso, falhou com sua família, com seu povo e até mesmo com a pessoa que amava meses antes da guerra eclodir pelas Nações. Tempos depois seus pensamentos soturnos foram interrompidos graças a parada brusca do trem em seu destino, os raios de sol da manhã e o calor já marcavam sua presença, característica das terras das pedras preciosas. Graças a seus trajes o ruivo passou despercebido pela multidão de refugiados que chegavam, com seus jeitos humildes e rostos marcados pelo terror da guerra.
— Vossa alteza, vamos nos manter na rota feita pelo príncipe e...- o soldado começou a dizer em tom baixo
Flynn não prestou muita atenção ao que o soldado disse, apenas assentiu sem muito interesse. Assim que saíram da estação se depararam com uma das típicas feiras ao ar livre de Blackstone e tomado por um forte sentimento de desespero ao se imaginar chegando nas terras Di Ângelo, ele se embrenhou em meio aos transeuntes apreciando os cheiros das especiarias, observando os belos artefatos que ainda restavam da caída Antares e quando se cansou, tomando pelo egoísmo e suas atitudes autodestrutivas decidiu contrariar o conselho do amigo sobre não sair da rota traçada no mapa e despistou os guardas se escondendo numa das hospedarias, alugou um pequeno quarto e passou o dia descansando. Flynn não queria seguir com a viagem, pelo menos não por aquele dia e queria ficar sozinho. Sabia que estava errado, afinal enquanto estava ali, Greta Ruiter estava em Foxwood liderando suas terras e lidando com os danos dos conflitos. Naquele momento nada mais o importava, não conseguia parar de pensar na morte da irmã e na traição do rei Blackwell.
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Nações da Guerra
AventuraTreze anos depois do assassinato do herdeiro de uma das famílias fundadoras, um equilíbrio frágil paira entre às cinco grandes Nações, países poderosos cuja história foi escrita com sangue depois da Guerra Cinzenta. O conflito que dizimou parte da p...