III. O Início do Caos

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Alba

Localização: Florensia, capital da nação imperial

Já passava da meia-noite e o salão permanecia cheio. No palco, ao centro do luxuoso local, uma cantora famosa de Antares cantava uma clássica canção da Nação imperial na companhia de músicos para animar a comemoração. Jovens pertencentes à elite dançavam em frente ao palco enquanto o restante dos convidados, festejando a passagem de ano no palácio, permaneciam em volta das belas mesas conversando e bebendo. A princesa Aguilar, no meio de toda aquela agitação, pegou mais uma taça da bandeja de um dos empregados que passavam apressados próximos a ela, a entornando num gole. Já se sentia um pouco embriagada e perdeu a conta de quantas taças tomou, porém não queria parar de festejar. Despistou seu guardião e desde então permaneceu a socializar com os nobres a sua volta, coisa que raramente fazia fora de eventos, havia puxado aos pais que não eram das criaturas mais sociáveis mesmo ocupando as posições mais importantes do país. Voltou a dançar após deixar a taça sobre a bandeja de outra serviçal que passava, notando como os jovens que faziam companhia a dança eram desengonçados.

Sua atenção logo se voltou ao teto abobadado e repleto de pinturas angelicais, nunca se cansava de observar seus detalhes. Em seguida seus olhos foram de encontro aos seus pais, no segundo andar do salão, sentados num camarote privilegiado. Alba sorriu, contente ao ver Adrian e Tâmisa juntos e aparentemente felizes. Cenas como aquela eram raras de acontecer já que seu pai, como imperador, era extremamente ocupado e sua mãe raramente comparecia a eventos. Seu sorriso se desmanchou quando seu tio, o príncipe Imperial Julian, caminhou até o irmão com um semblante sério e cochichou algo para Adrian, que prontamente pediu licença à imperatriz e caminhou junto do irmão para fora do salão com rapidez.

A princesa sabia que algo de errado estava acontecendo, os conhecia muito bem. Mesmo tonta saiu do salão e os seguiu pelos corredores, tentando não ser descoberta. No meio do caminho sentiu um forte enjoo e por sorte estava próxima de um dos banheiros. Correu para dentro e tentou não sujar nada de vômito, tarefa difícil dado seu estado. Permaneceu sentada no chão, se recuperando e torcendo para que ninguém a flagrasse naquela situação enquanto retirava suas longas luvas de cetim, acessório que dificilmente alguém a via sem. O arrependimento de ter bebido logo bateu quando olhando atentamente para si, percebeu que sujou seu elegante vestido de franjas e havia perdido um de seus sapatos na correria até o banheiro.

— Que maravilha... — sussurrou.

Ao escutar o som da porta se abrindo, a garota se encolheu e tentou ficar o mais quieta possível no vão entre o vaso sanitário e a parede. A pessoa adentrou o banheiro e o barulho de seus saltos contra o piso foi o único som que se fez presente ali.

— Olá, está tudo bem?

Alba respirou fundo com os olhos fechados aceitando que seu brilhante plano havia falhado.

— Estou bem, obrigada — respondeu, tentando parecer sóbria.

A desconhecida abafou a risada.

— Encontrei seu sapato!

A princesa se levantou e após dar descarga, abriu a porta da cabine. Assim que viu quem estava ali, se sentiu ainda mais envergonhada pela situação. Os volumosos cachos rubros da garota sardenta que segurava seu sapato davam um grande destaque a seu rosto graças à pele pálida, usava uma elegante tiara que possuía uma pena branca, mesma cor do vestido que trajava, seus grandes olhos verdes encaravam a princesa com receio.

— Obrigada, Trinity — Alba agradeceu, desviando o olhar.

Limpou a boca com um pouco de água e em seguida pegou seu sapato e o calçou se apoiando na pia, tentando manter a compostura.

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