Nações da Guerra

II. Princesa problemática

Piper

Localização: Nação Blackstone

Pela manhã a fortaleza já estava agitada, serviçais a arrumavam para as festividades que aconteceriam pela noite com urgência. Como em todos os anos, a família regente ofertava uma grande festa para comemorar o encerramento daquele ciclo, onde a elite de Blackstone em peso marcava presença. Entre os homens e mulheres atarefados transitando em direção a residência dos monarcas, alguém passava despercebido: trajava roupas masculinas simples e um chapéu de palha surrado, tentando inutilmente esconder seus cabelos, pois suas volumosas madeixas crespas escapavam pelas laterais. A figura esguia caminhava no mesmo ritmo dos serviçais com cautela para não chamar atenção, arrumou o arco de madeira que carregava no ombro e em seguida pegou algumas pequenas Marulas que uma mulher de meia-idade carregava numa bacia no topo da cabeça e adentrou o local comendo as frutas. Quando chegou ao terceiro andar, olhou de relance pelos extensos corredores, e para sua sorte somente esculturas e decorações repletas de cores vívidas lhe faziam companhia. Caminhou até uma das belas portas e pegou a chave prateada pendurada em seu pescoço, escondida em suas vestes, destrancou a passagem e em seguida suspirou aliviada por não ser pega.

A princesa jogou o chapéu na cama, e enquanto desabotoava a camisa de tons claros caminhou até o banheiro, onde colocou a banheira para encher. Terminou de tirar as roupas e as guardou em seu esconderijo: o buraco atrás de sua grande penteadeira dourada, onde seus bens mais preciosos eram escondidos. Quando a banheira já estava cheia jogou algumas das diversas essências perfumadas disponíveis no banheiro e entrou, deixando seu corpo relaxar sob a água morna. Em Blackstone o direito das mulheres se restringia ao matrimônio e, em decorrência disso, aos cuidados com seus herdeiros, coisas que a princesa não enxergava como o ápice de sua existência, sempre almejou mais. Queria aprender a lutar, então seu irmão mais velho, às escondidas, a ensinou tudo que poderia. Desejava aprender sobre os mais variados assuntos e, mesmo sendo proibida por seu pai, persistia em seus estudos e em tantas outras coisas que por viver num lugar possuidor de uma mentalidade tão diferente da sua, foi agraciada com o título de Princesa Problemática. Ashia, sua irmã mais velha, era o exemplar perfeito de mulher moldada pela cultura de Blackstone, submissa e fissurada pela ideia de ter vários herdeiros consecutivamente. Era difícil competir com aquilo, fazendo com que comparações fossem comuns e tal título continuar perseguindo a caçula. Aquela manhã não diferiu de tantas outras em sua rotina, escapou quando o Sol nem sequer havia nascido e foi para os arredores da fortaleza treinar. Saiu da imersão de seus pensamentos ao escutar o som de alguém entrando em seu quarto.

— Quem está aí? — indagou ao se sentar com pressa na banheira.

Instantes depois, somente o braço do invasor apareceu no campo de visão que a porta entreaberta permitia, chacoalhando um belo bracelete de prata.

— Nunca vi um serviçal usando algo assim! — O desconhecido zombou.

A princesa riu, reconhecendo a voz do invasor.

— Sorte que o encontrou!

A jovem saiu da banheira e foi se vestir, colocando um de seus vestidos estampados de tecido fresco. Saiu do banheiro à procura do irmão enquanto punha seus braceletes e pulseiras costumeiros, logo o encontrou na varanda do quarto. Darren era um rapaz alto e forte, seu tom de pele era um pouco mais escuro que o de Piper e ele sempre estava com seus óculos de lentes grossas e armação redonda, graças aos problemas de visão que possuía. Piper se aproximou com calma, parando ao lado do irmão que estava com a cabeça levantada e os olhos fechados aproveitando os raios de sol que batiam no privilegiado local.

— Continua vacilando, Pi. — Darren falou ao entregar o bracelete

Pi era o apelido que Darren escolheu para a irmã, pois como dizia, assim como o número, seu amor por ela era infinito.