Capítulo 16

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Andrew

3 MESES DEPOIS

Aquela noite foi o início da fase mais feliz da minha vida.

As coisas mudaram para melhor desde que voltamos para Manhattan. Kate e eu nos aproximamos ainda mais depois que começamos a namorar sério.

Saíamos juntos para jantar depois do horário de trabalho como fazíamos antes. Depois íamos para um dos dois apartamentos e passávamos a noite juntos, se embrenhando um no corpo do outro.

Mas apesar de fazermos as mesmas coisas de antes, era tudo melhor, por que agora eu tinha a certeza que aquilo não iria acabar. Tenho a convicção que o que estamos vivendo não é mais parte de um acordo com prazo de validade para terminar.

E é essa convicção que me fez tomar a decisão de finalmente contar para meus pais que eu e Kate estamos namorando.

Não preciso nem dizer que a Kate quase surtou quando eu lhe avisei que marquei um jantar com meus pais para podermos anunciar nosso relacionamento.

Ela passou a semana toda me fazendo perguntas do tipo: "o que seus pais vão pensar sobre nós?", "o que eu devo vestir?", "será que devo levar algo para o jantar?", "e se seus pais não gostarem de mim?".

Minha resposta em geral era para ela se acalmar. Meus pais já a conheciam a tempos, pelo fato dela ser melhor amiga da minha irmã, e sempre foram apaixonados por ela.

Mas tentar acalmar uma mulher em um momento de histeria é o mesmo que colocar um prato de comida em frente uma pessoa faminta e mandar ela não comer. Tarefa praticamente impossível.

Nesse momento estamos dentro do meu carro a caminho da casa dos meus pais. Olho de relance para Kate e vejo que ela está batendo os dedos na perna, que balança para cima e para baixo em ritmo constante, enquanto olha pela janela do carro.

Boto minha mão em cima da sua e pressiono sua perna para que ela pare de balançá-la.

— Fica tranquila, raio de sol. Não tem porque esse nervosismo todo. — Digo-lhe.

Ela bufa.

— Eu não estou nervosa. — Ela diz. Ergo uma sobrancelha enquanto olho em seus olhos. — Tudo bem, talvez eu esteja um pouco nervosa. Mas é tudo culpa sua. — Ela acusa.

— Minha? — Indago.

— Sua. — Ela rebate. — Se não fosse por você não estaríamos atrasados.

Tenho que admitir que tenho certa parcela de culpa nisso. Estava na sala de seu apartamento esperando que ela se arrumasse quando ela apareceu na soleira da porta, vestindo apenas uma lingerie vermelha muito sexy, segurando dois vestidos nos cabides e pedindo minha opinião sobre qual usar.

Acho que já está bem implícito o porquê de termos nos atrasados.

Solto uma risada.

— A culpa não foi apenas minha. Você sabe que vermelho é meu ponto fraco.

Ela bufa mais uma vez e revira os olhos, porém acaba virando sua mão e entrelaçando nossos dedos.

Essa era uma das razões para eu estar apaixonado por Kate. Apesar de estar irritada e nervosa comigo, ela sempre via em mim um porto seguro. Um lugar que receberia conforto e amor. Um lar.

Levo sua mão aos meus lábios e dou um beijo terno em nossos dedos entrelaçados. Ela olha em minha direção e abre o sorriso que sempre faz meu coração aquecer.

Passamos o resto do caminho em silêncio e sinto que parte da tensão de Kate se dispersou. Isso até avistarmos os portões que davam para a enorme casa dos meus pais.

Estaciono o carro ao lado do Range Rover preto do meu pai. Vamos em direção a casa e eu mal toco a campainha quando a porta é escancarada.

Minha mãe nos recebe um sorriso de orelha a orelha.

— Kate, querida, que bom que veio. — Diz minha mãe e puxa minha namorada para um abraço de urso. — Fiquei tão feliz quando Andrew me ligou dizendo que iriam jantar conosco essa noite.

— Oi, Sra. Clark. — Cumprimenta Kate com um sorriso quando consegue se livrar do aperto de minha mãe. — Obrigada por me receber essa noite.

— Ora, para que tanta formalidade? Já disse para me chamar de Margaret.

Kate dá um sorriso tímido para minha mãe, mas assente.

Pigarreio.

— Eu também estou aqui, caso a senhora tenha esquecido, mamãe. — Brinco.

Ela se vira para mim.

— Mas é claro que não esqueci. Não sou como você e Alissa que lembram que tem pais apenas uma ou duas vezes por mês.

Reviro os olhos para o drama de minha mãe e puxo-a para meus braços.

— Para com isso, dona Margaret. A senhora sabe que isso não é verdade.

Minha mãe resmunga em meu peito, mas acaba me envolvendo com os braços delicados.

Margaret Clark é uma das mulheres mais lindas que já vi na vida. E não falo isso apenas por ela ser minha mãe. Ela é baixa e cheia de curvas. Seu cabelo é longo e castanho, fazendo contraste com os olhos azuis que eu e minha irmã herdamos. É possível ver pequenas linhas no canto dos olhos, decorrente a idade, mas isso não muda em nada a beleza que minha mãe emana.

Meus pais sempre foram bem sucedidos. Ambos são advogados e foi assim que acabaram se conhecendo. Fizeram faculdade de direito juntos e pouco tempo depois acabaram se casando. Se formaram e abriram uma empresa de advocacia. Hoje são considerados um dos melhores advogados de Nova York.

Apesar de terem focado muito na carreira profissional, nunca deixaram de dar amor e atenção para mim e Lisa. Papai costuma dizer que dinheiro compra muita coisa, mas não o amor e alegria de uma família unida.

Mamãe nos leva para a sala de estar, onde meu pai se encontra jogado no sofá vendo um jogo de futebol.

Meu pai também é um homem muito bonito. Tem traços fortes e uma mandíbula bem marcada, com uma barba sempre bem feita. Os olhos e o cabelo são do mais profundo breu, apesar de alguns fios brancos estarem despontando em meio a cabeleira. É um homem alto e esguio, de porte firme e sério. Mas todos que conhecem Mason Clark intimamente sabem como essa cara de durão é apenas fachada, ele tem um coração muito mole.

Ele se vira assim que ouve nossas vozes e se levanta para nos cumprimentar.

Me dá o típico abraço masculino, com alguns tapinhas nas costas. Vejo o rosto de Kate corar quando meu pai lhe dá um beijo na bochecha e a puxa para um abraço, declarando como ela está linda.

Ficamos na sala conversando por um tempo, até Joselin — a governanta da casa. — anunciar que a mesa está posta.

Me sento ao lado da Kate e de frente para minha mãe, enquanto meu pai ocupa a cabeceira da mesa. Nos servimos com a carne de cordeiro assada com batatas que, particularmente, está com uma cara e cheiro deliciosos.

Jantamos e conversamos sobre coisas aleatórias. Me vejo pegando a mão de Kate constantemente por baixo da mesa, ou apoiando minha mão em sua coxa, para acalmá-la.

Estou servindo nossas taças com um pouco mais de vinho quando minha mãe decide perguntar:

— O que está acontecendo entre vocês?

Kate engasga em meio um gole do vinho e tem uma crise de tosse. Dou leves batidinhas em suas costas tentando ajudar. Seu rosto está tão vermelho quanto o líquido em nossas taças e ela mal consegue olhar para meus pais.

Pigarreio, me preparando para falar.

— Vocês sabem que eu venho convivendo bastante com a Kate ultimamente. Ela é melhor amiga da Lisa e irmã do meu melhor amigo. Devido a isso sempre estivemos em contato um com o outro, e recentemente esse contato acabou se transformando em algo maior. — Seguro a mão de Kate e lanço-lhe um sorriso. — Marquei esse jantar para avisar a vocês que Kate e eu estamos namorando.

Meus pais ficam em silêncio por um momento, apenas olham para mim e minha namorada sem dizer nada. Kate aperta minha mão e sinto sua tensão crescer com o súbito silêncio.

De repente meus pais olham um para o outro e caem na risada.

Olho para Kate e vejo que o seu olhar confuso também deve refletir o meu.

Mamãe toma uma longa respiração tentando acalmar o ataque de risos.

— Nós já sabíamos, querido.

— Sabiam? — Pergunta Kate, tão surpresa quanto eu.

— Não exatamente, mas já desconfiávamos. — Esclarece meu pai. — Andrew ligou de repente dizendo que iria vir jantar aqui e trazer a Kate. Apenas juntamos 2+2.

— E vocês têm algo contra nós estarmos juntos? — Pergunta Kate receosa.

— Claro que não, querida. — Diz mamãe e estende a mão por cima da mesa para segurar a de Kate. — Sempre te considerei parte da família, agora que é oficial não poderia estar mais feliz.

Kate sorri para minha mãe, relaxando imediatamente. Logo começa o interrogatório para saber de todos os detalhes até aqui, e Kate e eu respondemos a tudo com um sorriso no rosto.

Depois de termos saciado as dúvidas de minha mãe, peço licença e levo a Kate para o jardim da casa. Está uma noite linda, estrelada e com uma leve brisa soprando nossas roupas e cabelos.

A puxo para perto e caminhamos abraçados um ao outro.

— Fiquei com medo do meu coração sair pela boca depois que ouvi sua mãe perguntar o que estava acontecendo entre nós. — Diz Kate.

Eu sorrio.

— Meus pais são espertos. Me admira o fato dela não ter feito aquela pergunta no momento em que passamos pela porta de entrada.

Kate da uma risadinha.

— Acho que nunca fiquei tão nervosa quanto hoje.

— Faz parte. O que importa é que tudo deu certo no final.

Kate para de andar e se vira para mim, olhando no fundo dos meus olhos.

— Graças a você. — Ela diz. — Acho que nunca te agradeci devidamente por tudo que já fez por mim. Sem você eu não teria conseguido suportar nem metade das coisas que suporto hoje e continuaria sendo aquela pessoa fechada e sem sentimentos de antes. Costumo pensar que você é meu anjo aqui na terra. — Ela sorri e coloca as mãos em meus braços. — Passaria por toda dor e sofrimento novamente se isso significasse ter você ao meu lado. Não consigo imaginar o que teria sido de mim se você não estivesse entrado em minha vida. Então, muito obrigada. Por estar comigo, por me apoiar, ajudar e, principalmente, por existir e ser você.

O modo como Kate diz tudo aquilo olhando em meus olhos, demonstrando sinceridade em cada palavra dita, faz meu coração inflar ainda mais.

É impossível negar como essa mulher se tornou parte da minha vida. Ela foi chegando de fininho e quando eu menos esperei tomou posse do meu coração.

— Eu te amo. — Acabo soltando.

Kate arregala os olhos e abre e fecha a boca diversas vezes, procurando o que dizer.

— Não precisa dizer o mesmo para mim, raio de sol. — Digo. — Você se tornou parte da minha vida e planejo mantê-la por bastante tempo junto a mim. Quero que saiba que meu coração é seu em todos os sentidos e que eu estarei ao seu lado quando precisar. — Coloco uma mecha de seu cabelo atrás da orelha e acaricio seu rosto. — Eu amo você, raio de sol.

Os olhos de Kate estão cheios de lágrimas não derramadas e um sorriso começa a se repuxar aos poucos em seus lábios.

— Eu também te amo. — Ela sussurra tão baixo que se não estivesse perto o suficiente dela poderia achar que foi tudo da minha mente.

Puxo-a para mim e colo minha boca a sua em um beijo ardente. Coloco tudo o que sinto naquele beijo e sou recompensado com a total entrega de Kate.

Suas mãos se enterram em meu cabelo e ela da um leve puxão nele, esfregando o corpo ao meu. Minha ereção começa a crescer e tenho que me segurar para não puxá-la para algum canto mais escuro e possuí-la ali mesmo.

Me afasto apenas o suficiente para tomar ar. Kate ainda está de olhos fechados e com uma expressão de puro prazer.

— Acho que devemos ir para casa e terminarmos essa noite da maneira correta. — Sussurro arrastando meus lábios por seu pescoço.

— Concordo. — Ela diz em meio a gemidos.

Me afasto dela e me viro em direção a entrada da casa. Dou alguns passos antes de reparar que ela não me segue. Me volto para ela e percebo imediatamente que algo não está certo.

Kate está parada no mesmo lugar com uma mão pressionada na cabeça e a outra esticada, como se estivesse procurando onde se apoiar. Seus olhos estão fechados e ela está muito pálida.

Corro para o seu lado e seguro seus ombros.

— Raio de sol, o que aconteceu? — Pergunto preocupado.

Ela respira fundo algumas vezes se apoiando em mim. Pequenas gotas de suor pincelam sua testa e suas mãos estão frias como gelo.

— Senti uma tonteira de repente. — Ela diz como a voz baixa.

— Vamos passar no hospital antes de ir para casa. Você não é de passar mal de repente.

Ela balança a cabeça.

— Não. Devo ter abusado um pouco do vinho, só isso. Meu sangue estava quente e eu saí no ambiente frio, o choque térmico deve ter feito minha pressão cair. — Ela da alguns passos meio cambaleantes.

Ela não me parece nada bem. Passo o braço por sua cintura e a levo para dentro da casa, onde nos despedimos de meus pais e vamos para seu apartamento.

Abro as janelas do carro para que o ar circule melhor. Kate deita um pouco a cadeira e deixa a cabeça de uma forma que o ar bata diretamente em seu rosto.

Eu preferiria que tivéssemos passado no hospital apenas para ter certeza se está tudo certo mesmo. Porém Kate insistiu que fôssemos para casa, que depois de descansar estaria melhor.

Respeitei sua vontade mas fiquei atento mesmo assim. Me preocupo com ela, muito.

Lhe dou um remédio para a dor de cabeça que ela pediu e nos deitamos juntos em sua cama. Kate dorme tranquilamente em meu peito e eu fico velando seu sono por um tempo, me certificando se ela está realmente bem.

Em algum momento da noite acabo pegando no sono enquanto olhava para o pequeno raio de sol em meus braços.

Um Acordo Quase Perfeito (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora