Kate
Positivo.
Estou completamente congelada desde que olhei o teste e vi os dois riscos vermelhinhos ali.
Estou grávida!
Não posso acreditar que isso esta acontecendo. Não dessa forma e não agora.
Alissa estava me atormentando para que fizesse o maldito teste, mesmo eu afirmando que tudo não passava de cansaço e stress devido o trabalho.
Acabei comprando um teste na farmácia perto do escritório e chamei Alissa para minha sala antes de me trancar no banheiro esperando o resultado.
O que eu não esperava era que desse positivo.
Sim, eu já havia desconfiado sobre a possibilidade de estar grávida do Andrew. Mas não me permiti pensar sobre isso. Tinha quase certeza de que tudo não passava de uma virose ou o fato de eu estar sobrecarregada.
O teste em minha mão prova o quanto eu estava enganada.
Eu estou esperando um filho de Andrew...
O que eu vou fazer agora?
O que o Andrew vai pensar disso?
Batidas leves na porta do banheiro me tiram dos meus pensamentos.
— Kate? Tá tudo bem? — A voz abafada de Lisa chega aos meus ouvidos.
Abro a boca para tentar responder, mas nada sai. Não consigo formular uma frase sequer. Meu cérebro parou de funcionar e está apenas girando em torno de uma palavra.
Grávida.
Grávida.
Grávida.
Não sei como, mas me levanto do chão e abro a porta do banheiro. Dou de cara com os olhos azuis banhados em ansiedade da minha melhor amiga. Estendo a mão trêmula com o teste em sua direção.
Ela não precisa olhar para saber qual é o resultado, minha reação já diz tudo. Sinto ela me puxando pelo escritório e falando coisas comigo, que não consigo compreender no momento.
Pisco quando vejo um copo de água sendo colocado em minhas mãos. Tomo alguns goles de forma automática e forço o ar a voltar a circular em meus pulmões.
Algo quente escorre pela minha bochecha e cai no meu busto. Levo minhas mãos ao rosto e percebo que comecei a chorar em algum momento, sem perceber.
Alissa se senta ao meu lado e me puxa para seus braços, acariciando meu cabelo e dizendo palavras de consolo.
— Isso não deveria ter acontecido. — Finalmente digo.
Lisa me afasta do seu abraço de urso e me olha de forma interrogativa.
— É tão ruim assim o fato de você estar grávida do meu irmão?
— Estamos juntos a apenas 3 meses, Lisa. Ele acabou de conquistar um cargo melhor na empresa dele e tem um longo caminho de novas conquistas ainda. Tenho certeza que ter um filho não está entre suas metas. — Declaro exasperada já me levantando do sofá. — Eu queria construir minha família, mas não dessa forma.
— O Andrew vai entender, Kate. Essa criança não é uma responsabilidade só sua e ele sabe disso. Ele vai estar do seu lado e vai te ajudar. — Ela tenta me acalmar.
Respiro fundo para pensar com mais clareza.
— Eu sei que ele não me abandonaria em um momento desses. Andrew é um homem de caráter.
— Então o que tanto te assusta, além do óbvio? — Ela questiona.
Suspiro e me sento novamente no sofá.
— Tenho medo que ele ache que engravidei de propósito, apenas para amarrar ele a mim. — Coloco para fora.
Alissa sorri suavemente.
— Ele nunca pensaria isso de você, Kate. Você é uma mulher independente, tem seu próprio negócio e nunca precisou de homem para coisa alguma na sua vida. Eu te conheço a 4 anos e sei que nunca se envolveria com alguém por interesse, por isso sempre torci para que fosse minha cunhada. — Ela admite.
Me espanto com sua declaração. Alissa jamais deu a entender que queria que algo acontecesse entre seu irmão e eu.
— Andrew já teve uma quedinha por você. — Ela declara quando percebe minha cara de confusa. — Eu brincava com ele sobre isso, que ele não tinha coragem de chegar em você. Ele morria de medo do seu irmão ficar com raiva caso demonstrasse o interesse dele em você, por isso deixou para lá. Não me esqueço da cara dele quando você apresentou o Kevin para gente como seu namorado. — Ela solta uma risada.
— Então é por isso que ele ficou semanas me ignorando e sempre tratava o Kevin mal? — Começo a juntar as peças.
Lisa ri.
— Exatamente. Ele morria de ciúmes de vocês dois, mas não tinha o direito de dizer nada. Quando aconteceu aquela situação com o Kevin tive que fiscalizar todos os passos do Andrew com medo dele acabar voando no pescoço do Kevin caso se esbarrassem no meio da rua.
Não consigo dizer nada diante das coisas que Alissa está me relatando. O Andrew já gostava de mim antes mesmo de termos intimidade...
Alissa continua:
— Quando a gerência do hospital procurou nossa empresa para fazer o baile beneficente eu imaginei que você não iria querer demonstrar para o Kevin que não tinha seguido em frente. Coincidentemente meu irmão tinha me pedido ajuda para encontrar alguma pessoa para se passar por sua noiva. Vendo a oportunidade que o destino estava jogando no meu colo de juntar minha melhor amiga e o meu irmão, eu não pude deixar passar. Eu sabia que só meu irmão poderia te tirar do lugar onde você se escondeu depois que terminou com o Kevin. E devido a aproximação que esse "acordo" — Ela faz sinal de aspas com os dedos. — demandaria de vocês, apostei que algum tipo de sentimento poderia surgir com o tempo. Vi a oportunidade de matar dois coelhos numa cajadada só: trazer minha amiga de volta e dar o empurrãozinho que meu irmão estava precisando. E, como o planejado, acabou dando tudo certo no final. — Ela sorri de forma orgulhosa.
Meu Deus. A Alissa arquitetou tudo isso desde o início. Ela sabia que eu não ficaria nenhum pouco feliz de aceitar o evento do hospital e mesmo assim fechou o contrato. Na época eu me perguntei o porque dela ter feito aquilo sabendo como iria me chatear. Agora ela acaba de declarar para mim que tudo não passou de um plano para juntar eu e o Andrew.
Solto uma risada.
— Você é louca. — Declaro em meio a risadas.
— Eu sei. — Ela sorri e segura minha mão. — Esse bebê pode não ter feito parte do plano, mas é a coisa mais importante que já aconteceu na vida de vocês. Eu sei que você está assustada e, acima de tudo, com muito medo, mas você não está sozinha. Tenho certeza que atrás do choque e do espanto, seu coração está dando cambalhotas de felicidade por saber que há uma vida crescendo aqui dentro. — Ela coloca a mão no meu ventre. — Uma vida que foi concebida em meio ao amor. Por que se tem uma coisa que existe e é explícita entre você e o Andrew, é o amor. Não deixe que o medo te atrapalhe de aproveitar essa nova e linda fase da vida de vocês.
Alissa tem razão. No fundo eu estou em êxtase por saber que daqui um tempo teria alguém me chamando de mamãe.
Em toda minha vida eu me deixei ser dominada pelo medo. Não aproveitei certas coisas e quando fui reparar tudo já tinha acabado.
Não será assim com meu filho. Irei aproveitar cada segundo da minha gravidez, e caso o medo ameasse me dominar sei que terei o Andrew comigo para segurar minha mão e dizer que está tudo bem.
Muita coisa mudará em nossas vidas, mas faremos dar certo. Pelo nosso bebê.
Coloco a mão na barriga e solto uma risada quando sinto o mais puro amor se espalhar por meu peito.
— Eu vou ser mãe. — Digo para mim mesma.
Alissa pigarreia.
— Agora que o momento do choque passou e você está aceitando que será mãe, eu posso surtar? — Ela pergunta.
Solto uma gargalhada.
— Pode, titia.
Ela solta um gritinho e pula na minha direção, me abraçando e distribuindo beijos pelo meu rosto.
— Eu vou ser a melhor tia do mundo! — Ela exclama. — Se for menina eu vou ensinar tudo sobre moda para ela, e se for menino vou levá-lo a todos jogos de futebol.
— Desse jeito ele vai crescer mimado. — Brinco.
— Vai ser o neném da titia. — Ela acaricia minha barriga. — Como vai contar para o Andrew?
Suspiro.
— Ele marcou de se encontrar com o Josh essa noite para irem ao Captain Bar. Noite dos garotos. — Repito as palavras de Andrew e dou risada quando Lisa revira os olhos. — Amanhã passo no apartamento dele antes de vir para o escritório. É bom que eu tenho um tempinho a mais para pensar em como dizer.
Lisa assente e logo começa uma conversa animada sobre as coisas que devo comprar para o bebê.
**********
Vejo os números do elevador mudarem enquanto esfrego as mãos na calça.
Pensei em várias formas durante a noite de dizer ao Andrew que estou grávida. Mas agora todo discurso parece ter sumido do meu cérebro e estou em um nível estremo de nervosismo.
O que será que ele vai pensar? Será que vai ficar feliz?
Que Deus permita que ele não desmaie. Não vou saber lidar com um homem daquele tamanho caído no chão depois de ouvir que será papai.
As portas do elevador se abrem e penso em parar no apartamento da Lisa primeiro, mas sei que perderei a coragem se não conversar com ele de uma vez.
Me encaminho para a porta do seu apartamento e a primeira coisa que percebo é que ela está apenas encostada.
Fico confusa. Andrew não é de deixar a porta do apartamento destrancada. Será que a Alissa avisou que eu passaria aqui de manhã e ele deixou a porta aberta por isso?
Dou uma leve batidinha na porta e chamo seu nome enquanto entro. Minha resposta é o silêncio.
Me dirijo ao seu quarto e o vejo deitado de bruços e nu na enorme cama, com o lençol branco cobrindo seu traseiro.
Estou prestes a entrar no quarto e acordá-lo com beijos quando a porta do banheiro é aberta.
Meu coração para quando vejo a mesma mulher que estava em sua casa naquela manhã sair do banheiro usando apenas a camisa branca de botões do Andrew.
Ela olha para mim e me dá um sorriso enquanto coloca um dedo nos lábios, pedindo silêncio.
Não consigo pensar em nada de acordo com que ela me conduz para fora do quarto e fecha a porta atrás de si.
— Acho melhor conversarmos aqui. Mal dormimos noite passada e daqui a pouco ele tem que levantar para trabalhar, achei melhor deixá-lo descansar um pouco. — Ela sorri para mim com aqueles dentes brancos e perfeitamente enfileirados. — Não fomos apresentadas adequadamente naquele dia. Meu nome é Amberly Young. — Ela estende a mão em minha direção.
Olho para sua mão como se tivesse crescido um 6° dedo ali.
— O que você quis dizer com "mal dormimos noite passada"? — Minha voz não passa de um sussurro.
— Acho que você sabe muito bem o que eu quis dizer. — Amberly diz com deboche.
Não... Isso não pode estar acontecendo de novo.
Devo ter dito essas palavras em voz alta já que ela solta uma risada e tomba a cabeça antes de falar.
— Eu disse para ele que seria pior se você descobrisse sozinha. Não deve ser fácil descobrir uma traição. Mas agora que você sabe, me sinto no dever de te dizer que nada do que vocês viveram foi real. — Ela fala com uma falsa voz doce. — Esse tempo todo ele continuava a se encontrar comigo. As noites em que ele alegava estar cansado e indisposto eram apenas desculpas para ir à minha casa.
Sinto como se o mundo tivesse sido tirado de baixo dos meus pés.
Andrew não fez isso comigo. Impossível.
— Ele vivia me dizendo como estava de saco cheio de você. Que queria arrumar uma forma de terminar logo tudo, mas sem correr o risco de perder a amizade do Josh. — Ela continua a atirar as facas em forma de palavras em meu coração. — Seu tempo com ele acabou, docinho. Se tem um pingo de amor próprio sugiro que vá embora e deixe o nosso caminho com um obstáculo a menos para ultrapassar.
Tento não acreditar naquelas palavras. Se eu não tivesse visto ele nu naquela cama e essa mulher com apenas sua camisa em minha frente, eu não teria acreditado. Mas toda essa cena e as roupas espalhadas pelo quarto indicam que tudo que Amberly disse é verdade.
Nada do que vocês viveram foi real.
As palavras dela continuam rondando minha mente.
Eu abri meu coração para ele. Me permitir amar de novo e acreditar que era amada também, apenas para que ele destruísse meu coração novamente.
E eu estou esperando um filho dele...
Ergo minha cabeça e me proíbo de chorar na frente daquela mulher. Posso estar oca por dentro, mas jamais vou mostrar para ela como tudo isso me abalou.
Não daria mais motivos para eles rirem de mim pelas costas.— Espero que tenha aproveitado enquanto durou, querida. — Ela se aproxima de mim. — Coloque na sua cabeça que o Andrew é meu. Você e nem ninguém vão conseguir nos separar. — Diz com a voz baixa e noto a ameaça na sua frase.
Reuno o resto de dignidade que me resto e aproximo meu rosto do seu. Olho-a de cima a baixo.
— Faça bom proveito. — Digo e me viro, indo em direção a porta.
Antes de abri-la eu paro e tiro o anel com a pedra de safira que ele me deu e o coloco na mesinha ao lado da porta.
Vou embora. Para longe. Pelo menos por um tempo. Não permitirei que toda essa situação prejudique minha gravidez.
Nada do que vocês viveram foi real.
Andrew fez a sua escolha e seguiu o seu caminho. Está na hora de eu seguir o meu.E, para o bem do meu filho, irei para bem longe dele. Do homem que eu amo e que eu achei que me amasse.
Nada do que vocês viveram foi real.
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Um Acordo Quase Perfeito (CONCLUÍDO)
RomanceKate Evans nunca teve do que reclamar em relação a sua vida. Tinha o afeto de sua família, uma melhor amiga que a apoiava em tudo, trabalhava com o que sempre sonhou e tinha o homem que ela acreditava ser o que iria passar o resto de sua vida ao seu...