Capítulo dois.
Anne levantou mais cedo do que o esperado, não podia conter a ansiedade e sua imensa responsabilidade em chegar mais cedo na aula; ouviu dizer, das próprias garotas que haviam ingressado com ela, que chegar atrasada no primeiro dia de aula lhe daria azar pelo resto do ano.
E se tinha uma coisa que Anne acreditava com firmeza, eram essas conversas lançadas ao vento.
Olhou por alguns segundos através da janela e pôde ver o sol nascendo. Sentiu-se imensamente privilegiada por presenciar um nascer do sol tão encantador. Analisou o céu minusiosamente, tanto, que percebeu que o céu antes de tornar-se azul, assim como seus olhos, passava por uma paleta de cores mescladas, vermelha e laranja, tais como seus cabelos.
Esperou o sol chegar ao topo do céu, seu dia certamente seria incrível. Paralisada com tamanha beleza, ela escuta Diana em desespero, gritando atrás dela:
— Estamos atrasadas! Não me diga que se distraiu com o nascer do sol, Anne.
— Acho que ainda não perdi a mania de me distrair enquanto vejo os fenômenos esplêndidos da natureza. — diz ela ofegante enquanto se veste — parece que terei que usar minhas típicas tranças.
Diana como já tinha o hábito de se arrumar rapidamente, ajuda Anne a se ajeitar. Assim que terminam, as duas descem com um rompante em direção à Queen's.
A sorte era que a distância não era tanta. Assim que chegam no local, vêem Josie junto das meninas e se juntam a elas.
— Sabia que iriam acordar atrasadas — Josie diz com deboche — e Anne, você agora é uma mulher, para que usar essas tranças de menina?
— Eu gosto das tranças — Ruby diz com aquele olhar de "tentei ajudar".
— Meus cabelos são mais complicados de arrumar — a ruiva ergue os ombros — mas que bom que a minha primeira impressão não será desapercebida. Certamente todos olharão para mim. — diz ironicamente.
— Com deboche — Josie rebate.
— Não ligue para ela, Anne — Diana segura no ombro da ruiva — escute-me, você está linda.
— Blá blá blá — diz Jane — deixe a Anne usar o cabelo da maneira que quiser, o cabelo é dela.
— Obrigada, Jane.
O sino toca bem alto, avisando que estava na hora delas irem para a sala de aula.
— Boa sorte para todas nós — Anne diz com um sorriso largo em seus lábios — vamos viver aventuras incríveis, certamente.
— É uma pena que nem todas nós caímos na mesma sala — diz Tillie — vamos Diana?
Diana desprende os braços de Anne e segue ao lado de Tillie para sua sala.
— E, por um acaso do destino, acabei ficando sozinha — Anne solta o ar de insegurança.
— E por azar, sua sala é do outro lado do pátio Anne — Josie diz verificando o folheto da colega — aperte os passos e corra, ouvi dizer que os professores daqui são bem rígidos com os horários.
— Ótimo — ela pega seu folheto de volta — como sempre, comecei com o pé esquerdo.
Anne corre em direção a sua sala, segurando as tranças que voavam conforme sua velocidade, a ruiva, estava completamente convicta de que a faculdade lhe traria muitas experiências, ela só não imaginava que junto delas viriam bônus, bônus bem bonitos a propósito.
Corria tão rápido e tão concentrada, que não pôde notar o corpo que se projetou frente a ela no meio do caminho, e com um esbarrão, ambos foram para o chão.
Os cadernos da ruiva se espalharam no corredor.
Anne levantou-se um pouco desnorteada e passou a mão por seu vestido para certificar de que não havia rasgado.
— Um ótimo começo de ano — falou o garoto caído em sua frente.
Anne desceu os olhos para ele e imediatamente estendeu a mão para ajudá-lo.
— Sinto muito — falou ofegante — eu estou extremamente atrasada e sequer percebi quando você cruzou meu caminho.
— Está tudo bem — respondeu ele com um sorriso tímido, abaixando-se para recolher os materiais espalhados pelo chão.
Anne sentiu as bochechas quentes de tanta vergonha, além de ter que usar suas tranças, apesar de adoráveis, ela esbarrou em alguém e atraiu toda a atenção para si. Não queria chamar atenção, não hoje.
Estava tão envergonhada que se manteu paralisada por longos segundos, até o garoto a tirar de seu transe.
— Aqui estão seus cadernos — ele os entregou para ela.
— Obri- obrigada — disse em pausas.
O garoto mais alto que ela, a encarou de cima e deu um sorriso sem graça, esticando uma das mãos ele falou:
— Prazer me chamo Roy, Roy Gardner — Anne identificou naqueles olhos negros e melancólicos, algo surpreendentemente bom.
Mesmo atraída por aquelas grandes orbes escuras, ela conseguiu ter alguma reação, e esticou a mão para cumprimentá-lo.
— Me chamo Anne Shirley-Cuthbert — ela o soltou — e por favor, pronuncie Anne com E no final.
Ela levou as mãos ao bolso e concordou com a cabeça.
— E por que o E no final? — falou curioso.
— Bom, fica muito mais distinto, não acha?
— Definitivamente.
— Devo ir, estou atrasadíssima — concluiu ela — minha sala fica no final desse corredor.
— Que coincidência — ele ergueu os ombros — a minha também — gentilmente ele cede o espaço para que Anne passe a sua frente — se importa de irmos juntos?
— Não, é bom chegar com alguém, assim eu não levo bronca sozinha — ela sorriu.
— Acho que alguém a assustou falando da faculdade — ele se silencia como se pensasse, e torna a falar — mas, não se preocupe, aqui não é como a escola. Você vai ver.
. . .
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(Des)encontros - SHIRBERT
FanfictionOnde Gilbert e Anne seguem caminhos diferentes, ele vai para Toronto e Anne para a Queens, e o último episódio de Anne With an E, é o oposto, dando margem a uma digna e extraordinária continuação.