XX- Chame-o.

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No primeiro horário, Violet, com o propósito de cumprir com o que prometera, caminhou em direção ao correio, por sorte, o caminho para a biblioteca era o mesmo, então não sairia tanto de sua rota.
Ela estava preocupada com o estado de Gilbert, mesmo que o rapaz não revelasse, ele não parecia estar tranquilo. A corrida contra o tempo estava roubando todas as suas energias e o cansaço de noites em claro estava estampado em seu rosto, o que ela poderia fazer para ajudá-lo?

Por outro lado, Anastácia, sua companheira de quarto também estava a esgotando, ela realmente era dedicada aos estudos, mas ao contrário de Gilbert, que estudava no silêncio intermitente da biblioteca, Anastácia falava sozinha boa parte da noite. Às vezes, Violet tentava compreender o que a colega estava dizendo, mas ela falava tão baixinho e rápido que era impossível.

Decidida, pensou mais alto que o habitual e sem perceber, disse:

— Falarei com ela!

— Acho que você precisa mesmo falar com ela — uma voz atraente a fez parar, por um instante.

Ela virou para trás e se deparou com um rapaz alto, cabelos escuros, um sorriso charmoso, olhos tão pretos quanto uma jabuticaba, seu coração acelerou e seu corpo queimou desde os pés a cabeça. Parecia que ela tinha se deparado com o homem da sua vida.

— Me perdoe, senhorita. Não queria assustá-la, contudo, não pude deixar de respondê-la quando me dei conta de que não havia ninguém para fazer isso.

— Acho que estou passando tempo demais com a minha colega de quarto — ela revelou — e você não me assustou, não se preocupe.

— Devo seguir meu caminho — ele apontou na mesma direção que ela — você também está indo para a universidade de Toronto?

— Oh sim, mas antes preciso passar nos correios.

— Se não se importar, poderíamos caminhar juntos?

— Claro, sem problemas —  ela saiu em sua frente e curiosa perguntou — entretanto, ainda não sei o seu nome. Não quero pressioná-lo a dizer, mas não me sinto confortável caminhando com um rapaz que nem sei o nome. 

— Perdoe minha indelicadeza — ele sorriu e tirou o gorro, fazendo charme — meu nome é Roy Gardner. 

— Violet Grace — ela respondeu, enquanto buscava em sua mente aquele nome conhecido. 

Foi então que olhou para a carta que Gilbert estava enviando para Anne, e suas memórias foram recobradas. 

— Roy Gardner... — ela o encarou, enquanto caminhavam — eu o conheço, você é o rapaz que publicou o artigo sobre os indígenas juntamente de Anne, não é? 

— Olha só, é bom saber que alcançamos essas regiões.

— Bom, na verdade foi um escândalo, suponho que você saiba disso. Mas meu amigo, Gilbert Blythe saiu em defesa de vocês, e agora ele está sofrendo uma pressão descomunal por causa de sua tese sobre o mel. Acredito que você saiba. 

— Acho que notícias como essas são impossíveis de serem abafadas. Tenho certeza que querem nos extinguir, mas não podemos nos calar diante de todas essas injustiças. 

— Tem razão — ela sorri — aliás, estou levando esta carta para ser entregue à Anne. Gilbert estava muito enrolado com sua nova defesa e me comprometi em levá-la. 

— Oh claro, mas devo informá-la que Anne não estará lá para recebê-la — ele contou — há dois dias mais ou menos, ela voltou para sua casa, pois o pai dela está doente.

— Certamente Gilbert não sabe sobre isso. 

— Mas, podemos enviar a carta para onde ela está agora. Tenho o endereço.

— Que ótimo! Acredito que vocês sejam bons amigos. 

— Anne é uma moça incrível, e eu a amo com todo o meu coração. 

Violet para de andar, e o encara com um olhar bastante sugestivo. Por um momento, Roy sentiu uma sensação de choque percorrer por sua espinha, e deixou de olhá-la imediatamente.

— A ama com todo o seu coração? — a garota perguntou, com a voz embargada, como alguém extremamente incomodada.

— Pretendo pedi-la em casamento — ele sorri, ainda sem graça.

— Lhe desejo boa sorte, Roy — ela diz em meio aos suspiros descontentes.

— Ficou brava, repentinamente? — perguntou o rapaz. 

Violet sentiu as maçãs de sua bochecha aquecerem. 

— Gilbert é o meu amigo — ela confessa — e eu adoro a Anne, mesmo sem conhecê-la. Desculpe ser tão direta, mas o Sr. não acha que está exatamente no meio de uma relação que dará certo?

— Ah, agora eu entendi, você acha que Gilbert e Anne se amam?

— Com toda certeza!

— Anne não demonstra isso, pelo contrário, ela demonstra mais o quanto é feliz sendo uma mulher independente e receio que ela não esteja em busca de um pretendente. Mas como eu disse, eu a amo e estou disposto a lutar por ela.

E pensar que havia encontrado o amor de sua vida...

— Certo, talvez eu tenha sido um tanto indelicada. Boa sorte então... agora vamos apertar o passo, preciso mesmo entregar esta carta e depois, abrir a biblioteca da universidade.

— Olha só, uma bibliotecária...

— Sim, especialista em livros... — ela sorri.

. . .  

A noite para Matthew havia sido uma tortura, Anne havia colocado cebola em suas meias, assim como fez uma vez com Mine May, entretanto, não havia funcionado para ele. Aquele era um resfriado muito diferente do que já havia visto em toda sua vida. Cada tosse, aparentava uma despedida, a febre estava incessante, o coração dele batia acelerado e nada do que ela e Marilla faziam dava certo. 

— Precisamos de um médico — Anne falou para Marilla.

— Oh Anne, eu já chamei o doutor da cidade e ele não pode fazer nada, para levarmos a outro médico, precisaremos de uma quantia considerável e não temos valor algum para isso.

— Vocês investiram tudo em meus estudos e na fazenda... —  Anne se sente desolada. 

— E garantimos a você que não há nada mais importante em nossas vidas do que vê-la realizando os seus sonhos. 

— Oh Marilla — Anne se desaba em lágrimas. 

Até que uma ideia surge em sua mente. 

— Me esqueci completamente! — ela seca as lágrimas — sei alguém que pode nos ajudar e não hesitará em fazer isso.

— Conheceu algum médico durante seu período de estudos?

— O melhor aluno da universidade de Toronto — ela sorri.

— Gilbert!

— Ele saberá como nos ajudar, eu tenho fé nisso — ela diz animada — mas ele precisa vir o quanto antes. 

— Irei buscá-lo — sugere Jerry — irei de trem, quanto mais rápido melhor. 

— Então vá Jerry, chame-o. 


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