III- A garota das tranças.

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Capítulo três.

Anne saiu da sala acompanhada de Roy, estava maravilhada com a imensa quantidade de conteúdo que aprenderia durante o ano letivo.

Estava muito feliz, pois, além de descobrir que sua nova professora era incrível assim como a professora Stacy, não se conteve com o elogio sincero da mesma com relação a sua apresentação para a classe.

A senhora, disse, com bastante autoridade que Anne tinha uma excelente dicção e desenvoltura, e com certeza, conquistaria seus alunos rapidamente quando começasse a lecionar, principalmente se utilizasse suas tranças ruivas.

— Minhas tranças serão inesquecíveis — tagarelou animada ao lado de Roy.

— Normalmente, garotas como você se importam muito com a aparência, digo, querem se sentir adultas usando penteados exclusivos.

— Aprendi com Marilla que isso não é o essencial — ela responde enquanto presta atenção nos seus passos — o essencial é o que vem do nosso coração, minhas tranças sempre me acompanharam em minha jornada, e quando eu não pude fazê-las, foi terrivelmente doloroso.

— E por que não pode? — indagou ele curioso.

Anne suspirou e retrocedeu seus pensamentos, lembrando do dia horrendo em que tentou mudar a cor dos seus cabelos e como resultado teve que cortá-los.

— Isso foi um acontecimento fatídico, terrível e me trouxe muitas infelicidades...

— Respeito sua decisão em não falar — ele interrompe.

— Não me ofende dizer — ela sorri — bom, eu queria mudar o tom dos meus cabelos, eles eram minha ruína.

— São lindos cabelos — novamente ele interrompe.

— Obrigada — Anne diz educadamente — o resultado foi bastante prejudicial, e eu tentei tirar o tom porém, meu cabelo ficou todo espigado, quebrado e verde.

Roy não conteve a risada, o que ocasionou a Anne uma deliciosa gargalhada.

— Então Marilla decidiu cortá-lo, fiquei horrível, parecia um menino ruivo, magrelo e feio.

— Não tem como confundi-la com um menino, seu rosto é delicado demais.

Anne sentiu o corpo ferver.

— Enfim, retornei para a escola com os cabelos bem curtos, e fui uma grande piada; graças a Diana, meu espírito irmão, eu não me senti tão mal. Ela disse que ficaria ao meu lado e isso foi bom para demonstrar sua lealdade a nossa amizade.

— Fico feliz que existiam pessoas que cuidavam de você.

— Mas, foi a maior humilhação da minha vida, principalmente quando a roda de garotos se abriu e eu vi Gilbert Blythe, ele havia retornado por minha causa.

Anne não pode deixar de lembrar da momento em que ele a viu, apesar dela se sentir extremamente feia e envergonhada, ele ainda a encarou com aqueles olhos verdes e resplandecentes, e afirmou que não havia voltado por causa do ouro.

— Acho que esse tal de Gilbert teve participações especiais em sua vida —  Roy a tirou de seus devaneios — e onde ele está agora?

— Não importa — ela respondeu decepcionada com um pouco de arrogância — desculpe, acho que é a parte que me fere.

— Não peça desculpas por isso — Roy falou a fim de acalmá-la — eu que não deveria sequer ter perguntado.

— Anne! — Diana acenou para ela.

— Aquela é a Diana — Anne apontou para a amiga — venha, vou lhe apresentar para ela.

Anne puxou Roy, o qual foi recebido por um sugestivo olhar. Diana, não conteve sua afobação, disse a Anne que ela encontraria alguém, mas, não imaginou que seria tão rápido.

A morena manteve a postura e moveu a cabeça delicadamente em um cumprimento.

— Me chamo Roy Gardner — disse o garoto ao se posicionar frente a Diana.

— Diana Barry — ela estendeu a mão e ele deferiu um beijo.

— É um prazer conhecê-la senhorita. Anne me disse boas coisas sobre você.

— Tenho certeza — concluiu Diana intercalando o olhar para Anne.

— Devo ir — disse Roy apontando para o caminho — até mais meninas.

— Até — elas responderam sincronizadamente.

. . .

Diana se corroeu o resto do dia, estava curiosíssima para saber mais sobre Roy, contudo, Anne não disse absolutamente nada, pelo contrário, falou sobre tudo, menos do como havia o conhecido.

Estava óbvio que a garota ruiva das tranças, que esbarrou em um garoto quando ia em direção a sala de aula que tanto falavam, era Anne; todas as características condiziam com ela, entretanto, Diana não queria lhe tirar a liberdade de falar.

Seus esforços foram desconsiderados, assim que Josie junto das outras meninas, adentrou o quarto das duas dizendo:

— Conte-me mais sobre os acontecimentos desse dia Anne.

A ruiva desviou o olhar dos livros e encarou Josie, estava desconfiada do que seria, mesmo assim, manteve a postura impecável e perguntou inocente:

— Quer saber com relação ao que?

— Meu Deus Anne! — Ruby correu até ela — todas nós sabemos que você é o assunto mais comentado da Queen's, como você não sabe?

— Aprendi há algum tempo que não se deve falar da vida alheia, acho que vocês deveriam ter tido o mesmo castigo que eu — ela se levantou — e escrever um belo resumo de empatia.

— Anne está certa — retrucou Diana — e vocês como amigas dela, deveriam deixar de ouvir fofocas e defendê-la.

— Acalme-se — disse Jane — ninguém disse nada negativo a seu respeito Anne, só queremos saber quem era o garoto que a acompanhou o resto do dia...

— Foi o garoto que esbarrei e garanto que não foi proposital.

— Ele é lindo — Ruby disse animada — com todo o respeito.

Anne moveu a cabeça indignada.

— Ruby feche as asas — Diana implicou.

— Tudo bem — Anne se deu por vencida — podem falar dele o quanto quiser, eu já prometi a mim mesma que não irei me apaixonar por ninguém.

— Gilbert foi uma grande decepção mesmo — Ruby soltou.

— Fique quieta Ruby! — Josie a corrigiu.

— Meninas, acho que em um momento como esse, vocês deveriam deixar a Anne sozinha — Diana disse as empurrando para fora do quarto — vamos tomar alguma coisa, daqui a pouco voltamos, está bem Anne?

Anne assentiu e observou-as saindo do quarto, era um alívio estar sozinha, ao menos, ninguém por algumas horas, tocaria no nome de alguém que tanto a machucou.

. . .

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