VI- Bibliotecária.

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Na grande biblioteca localizada no centro da universidade de Toronto, trabalhava uma garota com lindos cabelos escuros e encaracolados, a qual se chamava Violet Grace.

Ela era gentil, bastante engraçada e atrapalhada, seus olhos verdes como esmeraldas lapidadas eram bastante chamativos e seu sorriso era agraciado por qualquer um que tinha a sorte de receber-lo.

Apesar de todos os adjetivos, Violet era bastante rígida, principalmente quando alguém começava a falar na biblioteca.

O ambiente era organizado, limpo e silencioso, o qual todos os dias, o futuro doutor Gilbert Blythe aproveitava para ler e se aprofundar em seus estudos, já que seu quarto era uma terrível bagunça e seu colega de quarto era falador demais.

Naquela tarde de sábado, Gilbert focou tanto em seus estudos que não se atentou a hora que passara rapidamente, estava escurecendo e ele estava guardando seus livros quando ouviu um cantarolar ao longe.

Era uma voz privilegiada de fato, a medida que ele se atentava mais para apreciar o som minuciosamente afinado e agudo, o mesmo se tornava mais próximo e audível.

Estava guardando seu último livro quando fora surpreendido pela voz que o acompanhava naquele momento solitário, junto da garota que o reproduzia.

Violet derrubou parte dos livros que recolheu que estavam espalhados pelas mesas visíveis da biblioteca, assim que seus olhos se encontraram com os de Gilbert, sentiu-se envergonhada ao imaginar que ele ouvira sua voz, e ainda mais envergonhada por não ter verificado se estava tudo vazio como sempre fazia. 

— Por Deus — falou ela agachando-se e recolhendo os livros que se espalharam no chão.

— Me perdoe, não queria assustar a senhorita — disse Gilbert, indo ajudar-la.

Ele se agachou frente a ela e em um ato de muito cavalheirismo ajudou a garota que estava com as bochechas coradas feito um tomate, ela soltou um riso sem jeito, acompanhado de um som esquisito que saiu de suas narinas, Gilbert não se conteve em encarar-la, imediatamente para quebrar a tensão que se apossou rapidamente da vasta biblioteca, o jovem garoto de beleza admirável ergueu-se e estendeu a mão para ajudar a bibliotecária a se levantar.

— Me chamo Gilbert.

— Violet Grace — ela falou, organizando os livros por ordem alfabética na mesa — gosto das coisas organizadas — completou ela apontando para a sua organização.

— Realmente, essa é a biblioteca mais organizada que já conheci — ele semicerra o olhar.

— Bom, a biblioteca está fechando — ela falou em tom sugestivo, como se fosse uma indireta para que ele se retirasse.

— Sim, me perdoe novamente — falou ele segurando a bolsa cheia de materiais.

— Tudo bem — ela esticou-se para observar o que ele lia — medicina?

— É meu sonho.

— É uma profissão incrível — ela suspirou, gesticulando para que ele a acompanhasse — te levarei até a saída.

Os dois caminharam até a porta e Gilbert logo notou que estava nevando.

— Uma noite fria.

— Realmente — disse Violet deixando os livros na bancada — acho que preciso do meu casaco.

— Posso acompanhar-la até em casa?

— As ruas da universidade são seguras senhor Blythe — ela lhe lançou um olhar — pode ir embora se preferir.

— Espero você aqui fora.

Gilbert esperou até que por fim a garota saiu, ainda bem, pois a ponta de seu nariz estava congelando.

— Realmente esperou — tagarelou ela — obrigada pela gentileza.

— De nada — ele retrai um sorriso — e então, há quanto tempo é bibliotecária?

— Faz algum tempo, acho que uns dois anos, vim pra cá pois precisava de espaço — ela confessou — minha mãe morreu há alguns anos e meu pai não era uma boa companhia.

— Me perdoe perguntar, quantos anos você tem?

— Acredito que a mesma idade que você — ela suspirou — dezessete, mas vou fazer dezoito no próximo mês.

— Ah sim — ele segurou a alça da bolsa.

— E você, mora com os seus pais ou está em um dos alojamentos?

— Eu sou órfão — ele falou sem rodeios — meu pai morreu há algum tempo e minha mãe... Bom, sequer a conheci.

— Lamento — Violet o encarou.

— Não, não lamente — ele repuxou o lábio — ainda tenho pessoas incríveis ao meu lado.

— Uma família?

— Sim, uma família. Atípica, mas, é suficiente.

Rapidamente Gilbert se lembrou de Bash e Delph.

— E você irá visitar-los quando? — Violet o tirou do transe.

— Em alguns dias, Delphine fará aniversário e Bash ficaria decepcionado caso eu não fosse até Avonlea.

— Oh sim, Avonlea — ela sorriu — o lugar em que fizeram um protesto, não foi? Vimos a foto que registrou o momento em que vocês entraram no congresso, muita coragem de fato. — ela ficou animada para falar do assunto — liberdade de expressão é um direito humano — completou —, que ideia genial. Foi sua?

Gilbert foi pego de surpresa, não imaginou que alguém o interrogaria, ainda mais, sabendo que Avonlea era um lugar pequeno e reservado.

Mas, apesar de estar um tanto surpreso com isso, não se sentiu constrangido, afinal, ter sido registrado e gerado um grande falatório, era bom, significava que haviam atingido um objetivo.

— Na verdade, foi ideia de Anne — ele  proibiu a si mesmo de pensar nela, mas não tinha escolha, não podia mentir para Violet  — ela tem uma mente genial, principalmente quando o assunto é revolucionar.

— Anne Shirley-Cuthbert? — tagarelou Violet — a garota que escreveu o artigo sobre a independência das mulheres?

Ele arqueou a sobrancelha ainda mais surpreso por aquela garota conter tantas informações.

— Como sabe tantas coisas sobre ela?

— Bom, talvez ela não saiba, mas gerou um grande conflito entre os maiores — ela respirou fundo — entre o governo, se me entende.

— Mas Avonlea é um lugar retrógrado, pensei por instantes que aqueles acontecimentos não sairiam de lá.

— Pensou errado, aqui fora tem tomado uma grande proporção, principalmente em assuntos dentro das universidades, pessoas como ela devem ser lembradas.

— Ela adoraria saber que tem causado algo grandioso...

— Escreva para ela — sugeriu — seria uma ótima maneira de dizer-lhe tudo.

— Não acho uma boa ideia — deduziu ele.

— Como ela é?

— Ela é ruiva, tem olhos azuis e muitas sardas, é muito geniosa e corajosa, tem um coração bondoso, é estressadinha e não gosta de ser confrontada. — a garota que o acompanhava na caminhada viu o quanto os olhos dele brilhavam quando falava dela — e é incrivelmente linda.

Violet logo caiu em si.

— Ela parece ser incrível — sorriu — e sabe o que mais parece?

Gilbert a encarou curioso e perguntou:

— O que?

— Que você está apaixonado por ela.

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