XIV- Tribo indígena.

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"Acreditamos com veemência na inocência dos índios, e queremos acreditar que por sorte a população ainda tenha humanidade para se opor à catequização."

Anne se debruçou na mesa da biblioteca, extremamente exausta com o trabalho em que haviam feito. Estava realizada, o assunto certamente seria bastante falado durante um bom tempo, contudo, ela não podia — era inaceitável — fingir que não viu o que aconteceu com Kakweet, não se opor era o mesmo que concordar.

Encarou Roy que parecia extasiado.

— Acho que fizemos um belíssimo trabalho — falou animado — Anne, tem certeza que quer ser uma professora e não uma jornalista renomada?

— Creio que eu seria renomada, mas não positivamente. As pessoas não concordariam totalmente com os meus posicionamentos. Sinto que estaria rodeada de boatos — Anne segura o riso — ser professora é o meu sonho, não abriria mão dele.

Anne Shirley-Cuthbert era encantadora em todos os aspectos, a cada dia, uma nova descoberta.
Roy não demorou muito para aceitar que a garota a qual esbarrou no primeiro dia de aula, de alguma forma estava o deixando muito atraído.

Ficou ali por segundos, observando-a reler o artigo para consertar os erros ortográficos.

Anne, apesar de fazer como quem não percebe, sentiu que estava sendo observada, contudo, ignorar era a melhor forma de não corresponder. De uma forma ou outra, tinha medo de confundir os próprios sentimentos correspondendo as expectativas do amigo, sabia que se permitisse que o seu coração falasse, poderia involuntariamente se expressar da forma errada e diante de tudo, não estava preparada para machucar mais um coração, o seu já estava suficientemente partido.

— Agora só devemos mostrar para nosso orientador — Anne interrompeu o olhar observador de Roy — essa é a parte que me dá medo.

— Não deveria ter medo — Roy a encorajou — este artigo está incrível, além de tudo, dessa vez você não estará sozinha.

— Acho que soube de uma de minhas tentativas, — Anne considerou — apesar do povo de Avonlea ter achado um escândalo, confesso que fiquei satisfeita com o resultado, exceto quando Josie respondeu de uma forma nada amigável.

A ruiva mordeu os lábios, relembrando a sensação de tomar um tapa no rosto, não fora a primeira vez, entretanto foi a vez que mais doeu, não fisicamente, emocionalmente.

Sabia que expor sua opinião resultaria em grande escândalo, mas, em momento algum fez isso para prejudicar Josie, somente ajudá-la. E se de certa forma seu posicionamento não fora compreendido da melhor maneira, deveria ao menos ser respeitado. Contudo, estava tudo bem, nem todas as pessoas estão aptas a aceitar opiniões, tampouco, mudanças.

No entanto, o que realmente importava para a ruiva ávida por um futuro melhor, era a coragem em dar a cara a tapa quando a sociedade não está preparada para enfrentar pessoas com pensamentos reformados.

— Sinto muito — Roy quebrou o silêncio — mas, acredito que você fez o necessário para aquele momento.

— Acredito plenamente nisso — Anne respirou fundo — bom, Roy. Acho que depois do trabalho intenso que tivemos, precisamos descansar. Amanhã pela manhã, mostraremos o nosso trabalho ao professor e veremos o que ele acha.

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