XXI- Rumo a Green Gables

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Violet estava na biblioteca, como de costume, realizando a limpeza de alguns livros novos que haviam chegado, já tinha enviado a carta de Gilbert graças ao seu novo conhecido, Roy.

Não conseguia tirá-lo da cabeça... e tinha que admitir que Anne era uma jovem muito sortuda, haviam dois homens admiráveis aos seus pés.

Estava distraída, cantarolando algumas melodias que havia sido submetida a ouvir por sua colega de quarto, quando Roy apareceu e silenciosamente se aproximou.

— Pelo amor de Deus! — ela deu um pulo para trás e em seguida caiu na gargalhada — me deu um belíssimo susto!

Roy observou as bochechas rosadas da garota que estava a sua frente e rapidamente seus pensamentos se direcionaram para Anne, ela ficava adoravelmente rosada quando ele segurava em sua mão, ou a encarava de maneira mais profunda.

— Vim agradecer por sua adorável companhia durante a manhã e me despedir da senhorita.

— Já vai embora? — ela perguntou, inocentemente, torcendo para que ele ficasse um pouquinho mais.

— Devo ir... — ele a encarou — vim aqui resolver alguns probleminhas, você deve imaginar quais.

— A matéria?

— Claramente, parece que eles realmente se incomodaram e não estão muito dispostos a nos apoiar, lamento por Gilbert, que terá que enfrentar uma onda de críticas sem esmorecer. Anne também foi convocada, entretanto, por seus problemas pessoais a universidade os avisou que ela não poderia vir.

— Que pena, eu adoraria conhecê-la. Sou uma grande admiradora.

— Ela ficará emocionada quando souber que em algum lugar, existe uma moça que a admira. Confesso que não é tão difícil, ela realmente é encantadora e me surpreende a cada dia.

— Certamente ela é! Não é só você que diz isso, e dia após dia fico mais curiosa para descobrir o quando ela é especial.

— Quando ela voltar para a universidade, falarei sobre você e tenho certeza que ela irá querer conhecê-la. Agora, preciso mesmo ir e espero encontrá-la mais vezes, senhorita Grace.

— Pode me chamar de Violet — ela sorriu, amigavelmente — espero poder vê-lo mais vezes também.

— Até logo.

— Até!

. . .

Roy entrou no trem extasiado, não sabia de certo, por qual motivo.

Mesmo assim, ao pensar em Anne, como uma pegadinha do seu próprio cérebro, ele pensava em Violet. Não sabia se era porque ela falou muito sobre Anne, ou se era porque ela era uma moça simpática, sorridente e inevitavelmente atraente.

Suspirou e conteve o riso abobado, e em seguida, tirou um breve cochilo no banco do trem, estava exausto e precisava descansar.

Ah, os sonhos... eles nos aproximam de quem desejamos e é muito bom sonhar, porém, os sonhos nem sempre seguem de acordo com aquilo que queremos, ele toma desvios e alguns desvios até nos afastam dos nossos objetivos reais, afinal, sonhos são como avisos que nos revelam as verdades que às vezes, evitamos enxergar com nossos próprios olhos.

Ora, em uma casinha pintada com cores vibrantes, repousava uma senhora, Roy, se aproximava dela e observava que muitas crianças corriam ao redor dela, enquanto aparentemente ela lhes contava uma história de aventura.

Ao se aproximar, notou que os cabelos dela eram de um ruivo intenso, a senhora o encarou e abriu um sorriso contagiante.

Naquele momento, ele a reconheceu de verdade. Anne...

As crianças ao seu redor perguntavam para ela:

— Vovó, quem é aquele homem?

Ele suspirou enquanto pensava no que dizer e finalmente cortou o seu interminável silêncio.

— Querida?

E negando, a senhora respondeu:

— Você não é o Gilbert...

Ergueu-se em um susto, com a parada do trem chegando na estação de Charlotetown. Estava inconsolável, seu sonho o encheu de esperanças e ao mesmo tempo, arrancou todas elas com uma simples e inocente frase... foi então que se permitiu pensar que talvez, o futuro da jovem Anne não seria ao lado dele.

. . .

Gilbert havia acabado de sair do dormitório, estava caminhando em direção a biblioteca, para finalmente devolver os livros que havia alugado. Estava satisfeito por ter terminado todos eles, afinal, alguns temas seriam abordados nas provas finais do semestre e nada melhor do que estar cheio dos conteúdos.

Chegou a biblioteca, animado e contou para Violet muitas coisas que havia aprendido, inclusive, havia comparado algumas técnicas convencionais com as indígenas, e ficou extremamente satisfeito em descobrir tantas familiaridades.

— Falando em familiaridade — Violet interrompeu o amigo, que parecia uma máquina falante — ficou sabendo que Roy Gardner esteve aqui?

— Roy? — seu semblante mudou — o que ele veio fazer aqui?

— Conversar com o conselho da universidade, aparentemente, foi convocado por causa daquela suposta rebeldia.

— E Anne?

— Pensou que ela não queria vê-lo? — ela caçoou — fique despreocupado, meu querido. Ela não veio, Roy me contou que o pai dela está doente e ela pediu licença para cuidar dele. Parece que ele está muito mal.

— Imagino o quanto ela está preocupada, bom, talvez eu deva... mas, sem me chamarem? O que você faria?

— Se eu soubesse o que fazer... — ela o encorajou — certamente não ficaria parada.

Foi quando o sino da porta da biblioteca tocou e ambos olharam em direção a ela. Violet sorriu, como fazia todos os dias, entretanto o olhar assustado de Gilbert não permitiu que ela dissesse nada.

— Jerry, o que faz aqui?

— Anne pediu para que eu viesse até você... — o rapaz falou timidamente — Matthew está doente e não temos mais o que fazer para ajudá-lo, talvez, você possa.

Violet arregalou os olhos, surpresa com tamanha coincidência.

Em um tom encorajador, mediante ao silêncio de Gilbert ela respondeu:

— É claro que ele irá, já estava de saída, inclusive.

Gilbert assentiu.

— Então, vamos? — Jerry o encarou.

— Sim, é claro — Gilbert ajeitou a boina — tenho roupas em casa, então não vou precisar — considerou.

Violet se despediu com um abraço, e fez o mesmo com Jerry.

— Foi bom conhecê-lo, Jerry — ela sorriu, arrancando um tímido consentimento do garoto — não foi a melhor das ocasiões, porém sempre há algo divino ao conhecer novas pessoas, mesmo diante das mais terríveis situações.

No mesmo instante Jerry se lembrou de Anne, nenhuma pessoa no mundo conseguiria falar tão parecido igual Violet fez, era uma Anne com cabelos pretos.

— Até breve rapazes.

— Até.

Os dois se despediram dela e seguiram rumo a Green Gables, um totalmente apaixonado e ao mesmo tempo receoso com o que iria acontecer nos próximos dias, e o outro, perdido dentro de seus próprios pensamentos, se perguntando se algum dia teria a oportunidade de se casar com o seu grande amor, Diana.

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