2 - Palavras ao vento...

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Rosa chama o jardineiro que a ajuda a carregar a ruiva para dentro. Depois de limpar as feridas a senhora passou um creme cuidadosamente nos hematomas da garota.

- Pobre Liliane, quase não a reconheci.

Vicente a olha com olhar desinteressado, mesmo assim pergunta em um tom autoritário como de costume.

-Você conhece essa garota?

- Sim senhor, ela mora a poucas casas da minha, sofre muito com aquele tio.

- Então você deve saber por que a garota fugiu de casa?

- Como não fugiria com a vida que leva. A alguns anos atrás perdeu os pais em um acidente de trânsito, foi morar com seus tios, logo descobriu que seu tio bebia muito e que em vários momentos batia na esposa. Ela sempre foi uma garota doce, mas não suportava com o tio tratava a esposa, muitas vezes o repreendeu por ele beber. Aconteceu o que mais temíamos, ele deixou de maltratar a mulher e passou a bater na garota. Faz quase dois anos que a tia faleceu, então Lily tem vivido com ele.

- Então muita gente sabia que o tio batia na garota?

Nesse momento a ruiva começa a despertar, livrando Rosa de responder à pergunta do patrão. A garota parece perdida, mal consegue abrir os olhos, ela leva a mão a boca e geme

- Água, por favor, estou com sede.

Rosa sai e volta com uma garrafa de água e um copo, Liliane senta e bebe a água, o machucado ao lado de sua boca a faz estremecer. Vicente a olha de cima a baixo.

- Você está melhor?

- Eu estou bem.

- Ótimo, então pegue suas coisas e dê o fora da minha casa.

- Eu não tenho para onde ir...

Rosa senta ao lado da ruiva e acaricia suas costas, ela conhece o patrão e sabe que deve acatar suas ordens. A senhora ajuda Lily a levantar.

- Eu posso andar sozinha, não se preocupe, minha bolsa, onde está minha bolsa?

- Está na sala, eu vou buscar.

Rosa sai e Vicente cruza os braços esperando que a ruiva saia, mas ela não o faz, mesmo com o corpo tomado pelo medo a garota pede outra vez.

- Por favor, eu não tenho para onde ir, deixe-me ficar apenas esta noite, por favor senhor.

A voz doce de Liliane não é suficiente para amolecer o coração de pedra de Vicente, ele a olha com indiferença.

- Isso não é problema meu.

A ruiva então pega seus tênis e segue para a porta, Vicente a chama

- Ei garota

- O que? Eu tenho um nome a propósito.

- Você precisa de dinheiro para um táxi?

- Não, eu não tenho para onde ir, de nada me ajudaria um táxi.

- Sua família? Não tem mais ninguém?

- Não.

- Namorado?

- Não tenho ninguém. Se eu tivesse alguém não estaria aqui implorando ajuda de um estranho.

Vicente a olha e por um pequeno momento Lily parece ver uma fagulha de calor naqueles olhos negros, ela sem ter muita opção tenta uma última vez, não tem para onde ir e não pode voltar para casa, teme que seu tio a bata ou coisa pior.

- Por favor me ajude, eu não tenho ninguém. Eu faço o que o senhor quiser.

Vicente esboça um sorriso no canto do lábio que faz Liliane se arrepender no mesmo momento de sua oferta. O homem a pegou pelos cabelos e grudou sua boca na dela. O beijo não é nada romântico, parece um tipo qualquer de punição, a ruiva congela, não consegue entender o que ele quer, ou não quer entender. 

A mão de Vicente desce por suas costas e ele agarra com força a bunda da garota puxando-a mais para perto. Nesse momento ela percebe o que precisa fazer para que ele a ajude, e esse é um preço que ela não está disposta a pagar.

- Não, isso não, eu não sou esse tipo de mulher...

- Você deveria medir suas palavras antes de jogá-las ao vento.

- Eu... eu não me referi a isso.

- E ao que se referiu, você literalmente falou "Tudo o que eu quisesse".

A ruiva cora relembrando de suas palavras, seus olhos caem ao chão, ela então fala envergonhada.

- Eu posso lavar, passar, cozinhar. Posso até aprender a atender o telefone, anotar recados.

- Não, eu não preciso de uma faxineira, tampouco acredito que você tenha conhecimento suficiente para trabalhar como minha secretária.

Derrotada e se sentindo muito mais que humilhada, Liliane volta a pegar seus sapatos e segue pela porta, um braço forte se coloca em seu caminho, ela se vira e Vicente a encara.

- Não vai, eu preciso de você. 

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora