23 - A visita

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Já no carro com Vicente Liliane segue para o bendito orfanato, ao chegarem lá dão de cara com diversas crianças, dos mais variados tamanhos brincando no pátio. Uma freira muito gentil os acompanha, a ruiva percebe o olhar atento de Vicente, quando passam por um rapaz de aproximadamente 16 anos a freira fala.

- Esse é Bruno, ele chegou aqui ainda bebê, e a moça ao lado é Isabella, ela chegou aqui com 2 anos

- Por que nunca foram adotados?

- Não são todas as crianças que têm sorte de ser adotadas, muitos ficam à espera até atingir a maioridade, e quanto mais velhos menos chances tem de encontrar um lar.

Vicente engole em seco, Lily segue ao lado dele sem surpresas, a ruiva já conhece todas as dificuldades dos orfanatos, quando era mais nova visitava o da sua cidade com seu pai, ele fazia pequenos consertos na instituição enquanto brincava com as crianças.

Seguindo por um corredor extenso logo estão na sala da Madre superiora, uma senhora de idade já avançada, mas uma aparência doce e gentil, Vicente e Lily então contam o motivo da visita e pedem para ela contar sobre a adoção dele, em um primeiro momento ela não fala, mas após a ruiva mencionar a doença terminar de Alberto ela conta a história.

Vicente fica de queixo caído ao saber que além da generosa quantia dado por Alberto quando o adotou seu pai continua contribuindo mensalmente para ajudar as crianças do orfanato, fica sabendo inclusive que em épocas de festas, Natal, páscoa e dia das crianças ele sempre comprava presentes para as crianças e os entregava pessoalmente, e que mesmo sem vir a quase 5 anos ele deixou uma pessoa encarregada disso.

Lily e Vicente passam quase três horas conversando com a Madre, no final da visita Vicente está visivelmente emocionado, seu pai nunca comentou nada sobre ainda estar ajudando as crianças do orfanato. Já do lado de fora Vicente senta no banco do motorista, ele leva a mão a cabeça alisando os cabelos, Lily o olha com atenção.

- Por que ele nunca me contou nada disso?

- Você deixou ele se explicar alguma vez?

Vicente então a olha e é a primeira vez que abaixa a cabeça envergonhado, toda aquela prepotência, aquela arrogância de nada serve quando o arrependimento acerta seu coração com tudo.

- Eu sempre o culpei, achei que ele havia me comprado, nunca o deixei se explicar, sai de casa logo que soube da história.

Lily fica calada por um tempo, segura a língua o máximo que consegue pois se abrir a boca para falar pode o deixar ainda mais envergonhado, mas talvez seja o que ele está precisando, alguém de fora com uma visão totalmente imparcial da situação. Ela se mantém calada até que o homem quebra o silêncio.

- Não vai falar nada?

 - Quer mesmo saber minha opinião?

- Diga.

- Provavelmente você não vá gostar.

- Quero ouvir mesmo assim.

- Você o julgou e o condenou sem lhe dar a chance de se defender, foi o acusador, o juiz e o carcereiro, aplicando uma punição a qual achava justa, o culpou por lhe comprar quando você se utiliza do dinheiro dele de tal forma ou até pior, a hipocrisia é tamanha que chegaste a "comprar" alguém para ocupar seu lugar ao lado dele. Endureceu seu coração a tal ponto que sequer consegue ver o quanto ele está se esforçando para retomar a relação de vocês, subiu muros que agora são assombrados pelos fantasmas que você mesmo criou. E sinceramente não acredito que você precise perdoar ele por nada, é totalmente o oposto. Você deveria estar ajoelhado na frente dele pedindo perdão.

- Eu pedir perdão?

- Exatamente, deveria pedir perdão pelo filho estupido e egoísta que tem sido, deveria se desculpar por o fazer chorar tantas vezes, e sim eu o ouço a noite. E quer saber o que mais, deveria prometer a ele ser alguém melhor, estar ao lado dele, porque com certeza isso vai fazer falta no momento em que não o tiver mais, eu posso garantir que trabalho nenhum vai ser capaz de arrancar você da dor e do arrependimento de não ter feito as pazes com seu pai, de não ter se despedido a tempo. As palavras não ditas vão te sufocar e seguir martelando em seu peito até seu último suspiro.

Vicente fica calado por alguns segundos, o olhar dele é de total confusão, está pensativo e apreensivo, mas acima de qualquer coisa está totalmente perdido.

O Valor Do PerdãoOnde histórias criam vida. Descubra agora